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Para evitar racionamento, governo prepara MP que  tira poderes de agência reguladora e Ibama

Texto dá mais autoridade ao Ministério de Minas e Energia na gestão dos reservatórios de usinas hidrelétricas
A usina hidrelétrica de Marimbondo está operando abaixo da capacidade por causa do período da estiagem. Localizada na divisa dos Estados de São Paulo e Minas Gerais, a produção de energia foi reduzida Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo

BRASÍLIA — Em mais uma ação para evitar um racionamento de energia elétrica no segundo semestre deste ano, o governo prepara uma medida provisória (MP) que tira poderes da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ibama na gestão dos reservatórios de usinas hidrelétricas, num momento em que os níveis das principais barragens do sistema estão em mínimos históricos.

A MP também daria mais poder ao Ministério de Minas e Energia (MME) sobre concessionárias do setor elétrico e de petróleo e gás para adoção de medidas com vistas a garantir o abastecimento este ano. O governo pretende ainda ampliar os incentivos financeiros para que grandes consumidores de energia, especialmente a indústria, reduzam o consumo nos horários de pico.

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O objetivo da MP é dar ao MME maior poder para colocar em prática rapidamente ações para poupar água dos reservatórios e permitir atravessar o período seco, que vai até novembro, sem apagões.

A MP cria a chamada Câmara de Regras Operacionais Excepcionais para Usinas Hidrelétricas (Care). Essa Câmara terá o poder de estabelecer, excepcionalmente, limites de uso, armazenamento e vazão das usinas hidrelétricas, com o propósito de otimizar a utilização dos recursos hídricos disponíveis para enfrentar a atual situação de escassez hídrica.

Para economizar, ligue o aparelho apenas quando for dormir e desligue logo ao acordar. Uma opção é usar a função sleep, disponível em alguns modelos. Outro cuidado é manter o ar-condicionado em temperatura adequada. Especialistas recomendam 23ºC. Não é preciso colocar temperatura muito baixa, para não gastar muita energia. Foto: Pixabay
Em uma família com quatro pessoas, o uso do chuveiro elétrico corresponde a cerca de 25% da conta de luz. Para economizar, evite banhos muito longos e dê preferência a usar o chuveiro no modo verão, que economiza até 30% de energia Foto: Pixabay
Quando a porta fica muito tempo aberta, o motor funcionará mais, gastando mais energia. É importante também manter a borracha de vedação da porta da geladeira em bom estado. Ao viajar, uma opção é esvaziar a geladeira e desligá-la da tomada. Foto: Pixabay
A substituição de lâmpadas incandescentes pelas de LED pode gerar uma redução de 75% a 85% no consumo de energia. Além disso, essas lâmpadas duram mais. Em relação às lâmpadas fluorescentes, a economia é de cerca de 40% Foto: Pixabay
Dê preferência a lavar uma grande quantidade de roupas, para economizar água e energia. Evite colocar muito sabão, para não ter de enxaguar duas vezes. Na hora de passar, a melhor opção é juntar roupas e passar uma grande quantidade de uma vez. Desligue o ferro quando for interromper o serviço. Use a temperatura indicada para cada tipo de tecido e comece pelas roupas mais leves. Foto: Pixabay
O uso do ventilador de teto durante 8 horas por dia gera um gasto de apenas R$ 18 por mês. Mesmo assim, é importante evitar deixar o aparelho ligado quando não houver ninguém no cômodo. Na hora de comprar, lembre-se que quanto maior o diâmetro das hélices, maior o consumo de energia. Foto: Pixabay
No caso dos eletrônicos, a recomendação é desligar o televisor e os videogames quando ninguém tiver usando. Retirar os aparelhos da tomada também ajuda a poupar energia. Foto: Arquivo

Presidida pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, a Câmara também vai reunir os ministros da Casa Civil, do Desenvolvimento Regional, do Meio Ambiente e da Infraestrutura, a Advocacia-Geral da União e dirigentes máximos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), da ANA, do Ibama, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Empresa de Pesquisa Energética.

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A MP oficializa e dá poder de decisão à “sala de situação” criada no mês passado para acompanhar a crise, conforme antecipou O GLOBO.

Uma das medidas mais importantes para a gestão dos recursos hídricos, na visão do MME, é a redução das vazões das hidrelétricas. Hoje, uma usina tem que liberar uma quantidade determinada de água com o objetivo de manter, por exemplo, atividades de irrigação, navegação e lazer. Com isso, sai mais água do que entra no reservatório.

Compensação de perdas

Ao reduzir a vazão, o governo pode guardar água no reservatório e poupar esse recurso para os momentos críticos. Atualmente, essas decisões passam pela ANA e pelo Ibama. No setor elétrico, uma crítica que tem sido feita é quanto à demora com que essas decisões são tomadas.

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Com a MP, a Câmara poderá alterar vazões de reservatórios de usinas hidrelétricas, entre outras medidas para facilitar a gestão das barragens. Para minimizar a insatisfação de outros setores, a MP em discussão no governo permite compensar financeiramente outros atores, como donos de hotéis às margens de reservatórios, pescadores e usuários de irrigantes.

Os recursos para esse fim poderão acabar se tornando mais um encargo do setor elétrico, a depender do montante disponibilizado.

Usina Hidrelétrica binacional de Itaipu. A maior do mundo desde a inauguração, em 1984, até o ano de 2012, produz até 14.000 megawatts Foto: Alan Santos / PR
Vista aérea da usina de Belo Monte, a segunda maior do país: capacidade para 11.233 megawatts Foto: Agência O Globo
Hidrelétrica de Tucuruí, no Rio Tocantins, no Pará, pode produzir até 8.535 megawatts e foi inaugurada no mesmo ano que a de Itaipu, 1984
Casa de força e vertedouro da usina hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. Com capacidade instalada de 3.750 megawatts, ela está em operação no Rio Madeira, na Bacia Amazônica, desde 2013 Foto: Agência O Globo
No mersmo Rio Madeira, está a Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, instalada no rio Madeira, em Porto Velho (RO). Ela tem capacidade para 3.568 MW Foto: Divulgação / Ibama
Hiderlétrica Ilha Solteira, em São Paulo.Em operação desde 1973 Foto: Henrique Manreza / Manreza Imagens / Divulgação / CTG Brasil

 

Na última sexta-feira, uma portaria do MME reduziu a vazão nas usinas hidrelétricas de Jupiá e Porto Primavera, na bacia do Paraná.

Ao GLOBO, o ministro Bento Albuquerque explicou que a MP não tratará de racionamento e reforçou que o governo está negociando a redução de consumo com grandes empresas:

— Não haverá absolutamente nada sobre qualquer programa de racionalização de consumo. O que estamos fazendo é um programa voluntário com grandes consumidores, indústria, pelo lado da demanda do consumo para os horários de maior carga do sistema.

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Como O GLOBO informou, o governo negocia com grandes consumidores um programa para incentivar grandes consumidores a reduzir o consumo de energia elétrica nos momentos de pico de demanda.

Hoje, nos momentos de pico da demanda, o ONS coloca em operação um conjunto de termelétricas caras e poluentes, além de exigir mais de hidrelétricas. Com o programa para reduzir o consumo, nos momentos de pico, o ONS pode solicitar que o consumidor industrial reduza sua demanda. Ele é compensado financeiramente por meio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

O governo também está finalizando um leilão para reforçar o parque gerador e contratar usinas termelétricas a biomassa que hoje estão fora do sistema. Além disso, já permitiu acionar usinas sem contrato até o fim do ano.

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Em nota divulgada neste sábado, o MME disse que a adoção de medidas tempestivas e coordenadas pelo governo federal vai permitir ao país passar pelo período seco este ano sem a necessidade de um programa de racionamento de energia elétrica.

"Com a atuação tempestiva de todos os envolvidos e considerando o quanto o setor elétrico brasileiro evoluiu, é que o governo federal, inclusive em coordenação com os entes federativos, vem explorando todas as medidas ao seu alcance que nos permitirão passar o período seco de 2021 sem impor aos brasileiros um programa de racionamento de energia elétrica", diz a nota.