Economia

Paralisação de fábricas e escassez de peças derrubam produção industrial em março

Setor recua 2,4% no mês. Único segmento a permanecer no terreno positivo foi o de bens intermediários
Apesar de ter sido o primeiro setor a se recuperar das perdas da pandemia, indústria encerrou 2020% com queda de 4,5% e vem perdendo dinamismo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Apesar de ter sido o primeiro setor a se recuperar das perdas da pandemia, indústria encerrou 2020% com queda de 4,5% e vem perdendo dinamismo Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

RIO - A produção industrial brasileira registrou queda de 2,4% no mês de março frente a fevereiro, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira. A paralisação de diversos setores por escassez de peças e componentes explicam o recuo da atividade econômica.

O mercado projetava queda de 2,8% do setor industrial, segundo analistas ouvidos pela agência Bloomberg. Com o resultado, a indústria acumula queda de 3,1% em 12 meses.

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A indústria já havia recuado 1% em fevereiro, o que levou o setor - até então o primeiro a ter se recuperado do tombo inicial da pandemia - a interromper nove meses de alta.

O gerente da pesquisa, André Macedo, avalia que os dois resultados negativos têm relação com o recrudescimento da pandemia:

— Isso faz com que haja maior restrição das pessoas, o que provoca a interrupção das jornadas de trabalho, paralisações de plantas industriais e atrapalha toda a cadeia produtiva, levando ao encarecimento e à falta de insumos para o processo produtivo — explica Macedo.

O recuo da indústria em março teve um perfil disseminado, com três das grande quatro categorias econômicas em queda.

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Bens de consumo semi e não duráveis caiu 10,2% e bens de capital recuou 6,9%, ambos registrando a queda mais intensa desde abril do ano passado. Já bens de consumo duráveis caiu 7,8%, movido pela redução da produção de veículos.

O único setor a permanecer no terreno positivo foi o setor produtor de bens intermediários, com alta de 0,2%. O resultado positivo do setor tem ligação o desempenho da exportação de commodities , já que o segmento inclui matérias-primas como minério de ferro, petróleo, açúcar, derivados da soja e produtos do refino do petróleo.

Escassez de insumos

Em março, montadoras como General Motors, Honda, Volvo e Volkswagen, relataram gargalos em sua produção de automóveis, tanto nas suas matrizes quanto nas suas subsidiárias no Brasil, em razão da escassez global de chips semicondutores.

A falta de insumos já atinge o setor automotivo brasileiro desde o fim de 2020, e levou algumas montadoras a paralisarem suas produções em março e até concederem férias coletivas aos funcionários ligados à atividade.

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O desequilíbrio na cadeia tem relação com fabricantes do Leste Asiático (Huawei, Samsung, TSMC e SK Hynix), produtoras dos semicondutores, que durante a pandemia viram a demanda por eletrônicos disparar.

Além de serem utilizados na indústria automobilística, os chips semicondutores são demandados em segmentos de ponta como o da produção de smartphones, consoles de jogos e 5G.

Perspectivas

Fontes do setor automotivo avaliam que a normalização da produção deve ocorrer somente no segundo semestre e sinalizam ainda que, além do atraso na produção e na entrega ao consumidor, o preço tende a subir para quem está na ponta.

Segundo relatório do Ibre-FGV, a escassez de matéria-prima passou a ser o mais relevante fator limitativo à expansão dos negócios. Em abril deste ano, 25,3% das empresas de diferentes setores apontaram este problema, percentual recorde da série iniciada em abril de 2001.

Na avaliação de Natalie Victal, economista da Garde, a falta de insumos pode comprometer alguns subsetores da indústria ao longo do ano mas, por enquanto, a perspectiva é de recuperação gradual do setor, com crescimento de 5% em 2021 após o tombo de 4,5% em 2020.

— A insuficiência de estoques é um vetor determinante para a retomada da produção, mas o crescimento de bens intermediários é um indicador antecedente das boas perspectivas da indústria em 2021. Bens de consumo duráveis, em particular automóveis, também tem potencial positivo devido a necessidade de recomposição de estoques.