Petrobras vende refinaria na Bahia para fundo árabe por US$ 1,6 bi

Venda para o fundo Mubadala ocorre na reta final da gestão Castello Branco, que pretendia privatizar oito refinarias
Unidade de Craqueamento Catalítico Fluído da Rlam, refinaria da Petrobras na Bahia Foto: Juarez Cavalcanti / Agência O Globo

RIO — Na reta final da gestão de Roberto Castello Branco, a Petrobras anunciou no fim da noite de quarta-feira que assinou contrato de venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, para o Mubadala, fundo de investimento dos Emirados Árabes. O fundo vai pagar US$ 1,65 bilhão pela unidade. O anúncio ocorreu logo após o Conselho de Administração da estatal ter dado o aval ao negócio.

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A Petrobras iniciou o processo de venda da Rlam em junho de 2019. Foi a primeira operação de venda, de um total de oito refinarias que entraram na lista de privatização da Petrobras. Instalada no município de São Francisco do Conde, no Recôncavo Baiano, a Rlam responde por 14% de toda produção nacional de derivados de petróleo.

A venda da Rlam era uma das metas de Roberto Castello Branco, presidente da estatal que deixará a empresa , após divergências com o presidente Jair Bolsonaro em relação à política de preços da Petrobras. A venda da refinaria foi acompanhada de quatro terminais de armazenamento e  oleodutos que interligam a refinaria e os terminais, totalizando 669 km de extensão.

Petrobras vendeu a Refinaria Landulpho Alves (RLAM), localizada no Recôncavo Baiano, e mais sete unidades de refino, para para fundo árabe por US$ 1,6 bi. Foto: Geraldo Kosinski / Agência O Globo
Primeira refinaria do Brasil, a RLAM completou 70 anos prestes a ser vendida. A unidade tem capacidade de produção de 333 mil barris/dia. Foto: Saulo Cruz / MME
A Refinaria Isaac Sabbá (Reman) foi vendida em agosto para a Atem por US$ 189,5 milhões. A unidade foi inaugurada em 3 de janeiro de 1957 e está localizada à margem esquerda do Rio Negro, em Manaus, estado do Amazonas. Em 31 de maio de 1974, foi incorporada ao Sistema Petrobras Foto: Reprodução
A estatal suspendeu o processo de venda da Refinaria Abreu e Lima (RNEST), e decidiu investir US$ 1 bi na unidade, que iniciou suas operações em 2014. Está localizada no Complexo Industrial Portuário de Suape, distante 45 km do Recife, em Pernambuco. Foto: Wilton Junior / Agência O Globo
A RNEST, que foi alvo da Lava-Jato, tem capacidade de processamento de 230 mil barris de petróleo por dia. Nesta unidade, são produzidos derivados de petróleo, como nafta, diesel e gás liquefeito de petróleo (GLP) Foto: Reprodução/Site da Petrobras
A Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), no Paraná, tem capacidade de processamento de 33 mil m³ de petróleo por dia. Segundo fontes, os grupos Ultra, dono dos postos Ipiranga, e Raízen, associação de Cosan e Shell, estão interessados na compra Foto: Silvio Aurichio / Agência O Globo
Localizada no município de Araucária, no Paraná, a Repar é responsável por aproximadamente 12% da produção nacional de derivados de petróleo, ente eles diesel, gasolina, GLP, coque, asfalto, e propeno Foto: Silvio Aurichio / Agência O Globo
Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) está instalada em uma área de 580 hectares no município gaúcho de Canoas (RS). Foto: Divulgação
A Petrobras também já vendeu a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX) para o grupo F&M por R$ 178 milhões. A SIX fica localizada em São Mateus do Sul (PR) sobre uma das maiores reservas mundiais de xisto Foto: Divulgação
A Refinaria Gabriel Passos (Regap), em Betim, região metropolina de Belo Horizonte (MG), foi inaugurada em 30 de março de 1968, com capacidade inicial de 7.200 m³/dia. Hoje, sua capacidade de processamento é de 24 mil m³/dia ou 150 mil bbl/dia Foto: Ramon Bitencourt / O Tempo
Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), no Ceará, é uma das líderes na produção de asfalto no Brasil, sendo responsável por cerca de 10% da produção do produto no pais. Foto: Divulgação

Segundo um analista do setor, embora a venda da unidade seja importante para a Petrobras, que ainda sofre com um endividamento elevado, causou surpresa no mercdo que a assinatura do contrato tenha ocorrido no fim da gestão de Castello Branco e com metade da diretoria pedindo para deixar a empresa.

Castello Branco ficará na empresa até a nomeação do indicado do governo, o militar Joaquim Silva e Luna , que ainda precisa do aval de acionistas. A assembleia está marcada para 12 de abril .

FUP critica venda de refinaria

-Seria mais prudente que esse tema fosse debatido pelo novo presidente da estatal, já que ninguém sabe ao certo como ele vai conduzir esse tema. Afinal, a  refinaria estava em processo de venda desde junho de 2019 - questionou o analistas.

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A Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) e a Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticaram a venda da refinaria e mencionaram, em nota, a aprovação do negócio na reta final do mandato de Castello Branco e parte da diretoria.  As instituições classificam como baixo o valor negociado pela refinaria. Afirmaram ainda que vão questionar o negócio no  Tribunal de Contas da União (TCU) e na  a Controladoria Geral da União (CGU).

- O que houve hoje foi decisão apenas do Conselho de Administração da Petrobras. A refinaria teve e tem um papel central no desenvolvimento do país, em especial o Nordeste. O fato de a venda da RLAM ser feita a toque de caixa levanta enormes suspeitas - disse Deyvid Bacelar, coordenador-geral da FUP.

Também na quarta-feira, quatro de oito diretores da Petrobras pediram para deixar a estatal. Seus mandatos foram encerrados no último dia 20, mas eles ficarão inteirinamente nos respectivos cargos até outros profissionais serem nomeados para a diretoria.

Em relação ao preço da Rlam, a Petrobras disse que "estabelece uma faixa de valor que norteia a transação e que considera as características técnicas, de produtividade e o potencial de geração de valor do ativo em diferentes cenários corporativos de planejamento". A estatal disse que leva em conta as projeções do preço do petróleo tipo Brent, margens de refino e taxa de câmbio.

Mubadala quer buscar parceiro

Em nota, Oscar Fahlgren, diretor-executivo da Mubadala Capital no Brasil, disse que a Rlam pode "se tornar um fio condutor para novos investimentos na cadeia de valor de energia, gerando impactos positivos para o setor, a sociedade e para a economia regional".

"Acreditamos que, a partir da conclusão do nosso investimento na Rlam, seremos capazes de atrair parceiros globais de negócios para o setor, multiplicando o impacto positivo gerado", ressaltou Fahlgren.

A ideia de privatizar as refinarias da Petrobras surgiu ainda no governo de Michel Temer. A intenção, inicialmente, era vendê-las em blocos. Em sua gestão, Castello Branco optou por desmembrar o projeto, e as licitações ocorreram separadamente.

Novo diretor de Governança

Na noite de quarta-feira, a estatal disse que foi eleito Salvador Dahan para o cargo de Diretor Executivo de Governança e Conformidade, a partir de maio de 2021. Ele tem passagens pela  Procter & Gamble e Nissan.