Preço dos combustíveis e tarifa de energia: veja os desafios do novo ministro de Minas e Energia

Adolfo Sachsida assume ministério em meio a escalada dos preços e críticas frequentes do presidente Jair Bolsonaro à política de preços da Petrobras
Posto de combustíveis em São Cristóvão, na Zona Norte do Rio: preços não param de subir Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

BRASÍLIA – Adolfo Sachsida assume o Ministério de Minas e Energia em meio a uma escalada dos preços dos combustíveis , que vem sendo alvo constante das críticas do presidente Jair Bolsonaro. Além disso, ele também terá de lidar com os desafios do setor elétrico, como o monitoramento das tarifas de energia, que são alvo do Congresso, e ainda o processo em curso da privatização da Eletrobras.

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Entretanto, ele tem pouco poder de fogo: grande parte dos preços não podem ser alterados livremente, pois precisam seguir cotação internacional, sob risco de desabastecimento no Brasil. isso devido ao fato do país depender de combustíveis importados, pela falta de refinarias brasileiras. Como não há espaço orçamentário para a criação de fundos ou subsídios, a demanda do governo é de difícil solução. Mas a pressão é cada vez maior neste ano eleitoral, no qual a alta dos combustíveis turbina a inflação, afetando a popularidade de Bolsonaro, que tentará a reeleição em outubro.

Na alçada da pasta, também preocupa o preço do gás de cozinha, influenciado pelo mercado internacional. Os reajustes frequentes do botijão motivaram o governo a criar um programa específico, voltado às famílias mais pobres, com a instituição do vale-gás.

Sachsida está no governo desde o início da gestão Bolsonaro. No Ministério da Economia, foi secretário de Políticas Econômicas e chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos.

Ele substitui o almirante Bento Albuquerque no Ministério de Minas e Energia, que estava no comando da pasta desde o início do governo e enfrentou uma crise hídrica com efeitos fortes na elevação das contas de luz.

Cristiano Rocha Heckert, que comandava a Secretaria de Gestão, deixou o cargo em janeiro de 2022 para assumir como diretor-presidente da Fundação de Previdência Complementar do Servidor Público Federal do Poder Executivo (Funpresp-Exe) Foto: Divulgação
Gustavo José Guimarães e Souza também pediu demissão do cargo de secretário de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (Secap) em janeiro de 2022 para ocupar uma função no Legislativo Foto: Divulgação/Ministério da Economia
O secretário especial de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, pediu demissão em outubro de 2021 logo após o governo anunciar a criação do Auxílio Emergencial com parte dos pagamentos fora do teto de gastos, algo que ele sempre se disse contra Foto: Washington Costa / Ascom/ME
O secretário do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediu demissão em outubro de 2021 junto com o secretário especial Bruno Funchal, a quem sucedeu no cargo no mesmo ano Foto: Aílton de Freitas / 20-12-2013
Gildenora Batista Dantas Milhomem, secretária especial adjunta de Tesouro e Orçamento, também pediu exoneração de seu cargo junto com Funchal, em outubro de 2021, alegando razões pessoais, em meio à crise aberta pelo projeto do Auxílio Brasil com recursos fora do teto de gastos Foto: Ministério da Economia / Reprodução
O secretário-adjunto do Tesouro Nacional, Rafael Cavalcanti de Araujo, também pediu exoneração de seu cargo em outubro de 2021 após a debandada provocada pelo plano de financiar o programa social Auxílio Brasil fora do teto de gastos Foto: Hoana Gonçalves / Agência O Globo
Insatisfeito com o atraso no envio da reforma administrativa ao Congresso, Paulo Uebel deixou o cargo de Secretário especial de Desburocratização em agosto de 2020 Foto: Fátima Meira / Agência O Globo
Após a crise causada pela sanção do Orçamento de 2021, o ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a saída de Waldery Rodrigues do cargo de secretário especial da Fazenda, em 27 de abril, a pedido do secretário. O secretário informou que combinou a substituição em dezembro do ano anterior Foto: Ascom / Edu Andrade/ME
Na dança de cadeiras do Ministério da Economia, o secretário de Orçamento Federal, George Soares, também deixou o cargo. Foto: Agência Brasil
A advogada tributarista Vanessa Canado, assessora especial do Ministério da Economia voltada à reforma tributária, pediu demissão, mas não detalhou o motivo da saída Foto: Silvia Zamboni / Valor
Presidente do BB, André Brandão, entregou o cargo no dia 18 de março. Programa de reestruturação de Brandão desagradou ao presidente Bolsonaro Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, deixa o cargo no dia 20 de março, após desagradar a Bolsonaro com reajustes de combustíveis. Ele foi indicado por Guedes Foto: AFP
Sem conseguir tirar do papel várias privatizações, Salim Mattar pediu demissão do cargo de secretário de Desestatização do Ministério da Economia em agosto de 2020 Foto: Amanda Perobelli / Reuters
Rubem Novaes pediu demissão da presidência do Banco do Brasil em julho de 2020, após queixas sobre pressão política sobre o banco, cuja privatização chegou a defender Foto: Claudio Belli / Valor/14-2-2019
Ex-ministro da Fazenda no governo Dilma, Joaquim Levy só ficou no cargo de presidente do BNDES até junho de 2019, após críticas públicas de Bolsonaro, que queria abrir a "caixa preta" do banco Foto: Marcos Corrêa / PR/13-06-2019
Nome forte das contas públicas e um dos criadores do teto de gastos, Mansueto Almeida deixou o comando do Tesouro Nacional e foi para o BTG Foto: Adriano Machado / Reuters
Marcos Cintra deixou a chefia da Receita Federal após insistir na defesa de um imposto sobre transações financeiras, nos moldes da antiga CPMF. Uma ideia fixa de Guedes Foto: Leo Pinheiro / Valor/2016
O economista Marcos Troyjo trocou o cargo de Secretário especial de Comércio Exterior pela presidência do New Development Bank, conhecido como o Banco dos Brics, por indicação do governo brasileiro Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo 23-10-2012
Caio Megale deixou o cargo de diretor na Secretaria Especial de Fazenda em julho de 2020. Recentemente foi anunciado como novo economista-chefe da XP Investimentos Foto: Washington Costa / SEPEC/ME/15/01/2019
O secretário especial de Produtividade e Competitividade, Carlos da Costa, deixará o cargo para assumir o posto de adido de comércio em Washington Foto: Agência O Globo
O secretário da Receita Federal, José Tostes, deixará o país. Ele será adido do governo na OCDE, em Paris Foto: Edu Andrade / Ministério da Economia
Jair Bolsonaro decide demitir o presidente da Petrobras, Joaquim Silva e Luna, segundo integrantes do governo, em meio à pressão por conta do aumento no preço dos combustíveis, e depois de críticas feitas pelo governo e pelo Congresso à estatal Foto: Antônio Cruz / Agência Brasil

Preço dos combustíveis e as críticas de Bolsonaro

O presidente Jair Bolsonaro vem fazendo críticas quase que diárias em relação a alta dos preços dos combustíveis. Na última semanda, classificou como "crime" a política de preços da Petrobras , que é alinhada aos preços praticados no mercado externo e, portanto, atrelada ao câmbio.

Insatisfeito com as constantes altas dos preços da gasolina e diesel nas bombas, Bolsonaro já havia demitido dois presidentes da Petrobras.

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Sachsida assume a pasta e tem essa questão crucial para resolver. A alta dos combustíveis também pressiona a inflação, que está no maior patamar desde 1996 e superou os dois dígitos. Os preços da gasolina, diesel e do gás de cozinha têm impacto direto na popularidade do presidente, que quer a reeleição.

O diesel, especificamente, afeta uma importante base de Jair Bolsonaro, os caminhoneiros, que são apoiadores de primeira hora do presidente. O governo inclusive está discutindo soluções para o frete, como maneira de compensar as altas recorrentes no combustível.

Tarifas de energia

Se Bento Albuquerque atravessou a pior crise hídrica da história do Brasil, quando os reservatórios das usinas hidrelétricas chegaram aos menores níveis e foi preciso criar uma bandeira tarifária muito elevada por causa da escassez hídrica, o novo ministro ainda terá de resolver o problema da conta elevada.

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O Congresso articula um projeto para congelar reajustes nas tarifas. Inicialmente, a proposta suspendia o reajuste autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para uma concessionária do Ceará. Mas deputados querem ampliar o alcance do projeto, que poderia congelar os aumentos na tarifa para todos os estados.

Na visão de especialistas, essa medida só empurra o problema mais para frente. Os custos aumentaram e terão de ser repassados de alguma forma ao consumidor final. Ao congelar a tarifa no ano eleitoral, o temor é de que haja um efeito rebote quando houver liberação para o reajuste.

Além disso, o país fica com a pecha de não respeitar contratos, ampliando a insegurança jurídica.

Capitalização da Eletrobras

O processo de privatização da Eletrobras está travado no Tribunal de Contas da União (TCU), que analisa o processo de capitalização da estatal. Na avaliação do Executivo, a demora do processo no TCU pode dificultar a privatização da Eletrobras em 2022, com chance de inviabilizar a operação.

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suspensão do julgamento em abril acabou com a possibilidade de a desestatização da empresa ocorrer até o dia 13 de maio, prazo limite nesse primeiro semestre por causa de prazos de divulgação no mercado americano, onde a estatal tem seus papéis negociados.

O plano B do governo é emplacar a  privatização para o fim de julho  ou começo de agosto. Mas há desconfiança dentro do próprio governo de que isso possa acontecer, já que esse é um período mais turbulento no mercado e há o risco de que esse prazo apertado afaste investidores estrangeiros.

Vale-gás

As altas constantes no valor do botijão do gás de cozinha, quem também está atrelado ao preço do petróleo no mercado externo, levaram o governo a criar um programa de vale-gás voltado às famílias mais vulneráveis.

O projeto, criado no ano passado, deve beneficiar cinco milhões de famílias. O programa destina um vale-gás de R$ 52 a cada dois meses para famílias com renda de até meio salário-mínimo (R$ 550). O problema é que o preço do botijão não para de subir.