Economia Pix

Presidente do BC nega que uso do Pix esteja atrelado ao aumento de criminalidade

Campos Neto defendeu que a alta na criminalidade está mais relacionada à reabertura da economia
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o Pix é mais seguro que outras formas de transferência Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o Pix é mais seguro que outras formas de transferência Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

BRASÍLIA — O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, negou nesta segunda-feira que o Pix esteja atrelado ao aumento da criminalidade. Segundo ele, o aumento de roubos e sequestros-relâmpago tem mais a ver com a reabertura da economia.

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— Se a gente olhar o gráfico de incidências e de abertura econômica o que aconteceu é que você tinha um número de incidências e a economia fechou, não tem bar, não tem restaurante, não tem cinema, as pessoas ficam em casa. Obviamente os sequestros-relâmpago caem, a criminalidade cai, quando a economia volta a reabrir, isso volta, só que antes a gente não tinha Pix, agora a gente tem — apontou.

Houve vários casos relatados de pessoas que sofreram sequestros-relâmpago e precisaram fazer um pagamento via Pix, que é instantâneo, para o sequestrador. Além disso, os relatos de fraudes e golpes também utilizando o Pix são frequentes.

—  Esse aumento de incidência está muito mais correlacionada com a reabertura da economia do que com o instrumento em si. Ao contrário, o instrumento nos permite fazer ajustes mais fáceis, como ele tá todo na nuvem, a gente faz ajustes rápidamente — disse Campos Neto em evento da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).

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Entre as medidas tomadas pelo Banco Central, algumas entram em vigor nesta segunda-feira , como o limite de R$ 1 mil para transferências noturnas e a possibilidade de estabelecer quais contatos poderão receber recursos acima de R$ 1 mil a qualquer hora.

Além disso, bancos poderão bloquear recursos de usuários por 72 horas em caso de suspeita de fraude a partir de 16 de novembro.

O presidente do BC entende que qualquer instrumento de pagamento que existir vai ser em parte responsabilizado quando há uma alta na criminalidade, mas o Pix é somente um veículo. Segundo ele, o sistema é até melhor para reduzir os crimes porque é mais adaptável, como mostram as medidas que entram em vigor nesta segunda-feira.

— Obviamente vão ter outras demandas no futuro, a gente não tem o sistema perfeito, é um sistema adaptável, mais barato, mais maleável, mais rápido, mais rastreável e mais seguro no fim — defendeu Campos Neto.

De acordo com o presidente do BC, estamos em um momento de aumento da criminalidade, com desemprego informal alto e a autoridade monetária identificou que o Pix estava sendo usado para crimes e atuou para mitigar os riscos.

— Estamos fazendo as correções e se precisar fazer mais correções, faremos. Agora a gente não vai atingir a criminalidade zero e o BC também não pode ter política de segurança pública. A gente vai fazer para que esse instrumento seja o mais seguro possível entendendo que criminalidade sempre vai existir — disse.

Cuidado com o fiscal

Na mesma ocasião, Campos Neto voltou a repetir que há um ruído na parte fiscal com as discussões sobre a solução para o pagamento de precatórios e o novo Bolsa Família.

— De fato tem uma dimensão que precisa ser trabalhada, que é: existe um grande ruído, ainda mais chegando perto das eleições, de como vai ser a política fiscal daqui pra frente. Hoje a gente tem tema ligado a precatórios, Imposto de Renda, Auxílio Emergencial, no novo Bolsa Família — citou.

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Segundo o presidente do BC, quando a página for virada e o governo explicar como vai ser o programa e como será financiado, o cenário ficará um pouco mais claro.

— Quando isso virar a página, a gente espera que seja em breve, a gente vê um cenário um pouco mais claro daqui pra frente. Na verdade, quando a gente olha a trajetória de dívida, ela não é ruim, obviamente o brasil é muito endividado, mas quando a gente olha o que foi feito na pandemia e o que se recuperou recentemente, foi uma surpresa boa — ressaltou.

Campos Neto fez referência à trajetória da dívida pública, que vem caindo nos últimos seis meses. Após atingir um pouco de quase 90% em fevereiro, ela chegou a 82,7% do PIB em agosto .

— Precisamos ter certeza que a gente mantenha o arcabouço fiscal. Obviamente se daqui pra frente o mercado tiver uma percepção, se os agentes econômicos tiverem uma percepção que não existe teto, que não existe Lei de Responsabilidade Fiscal, a gente vai ver uma reprecificação nos ativos — afirmou.

De acordo com Campos Neto, programas que injetam recursos na economia podem ter o efeito contrário ao crescimento, porque deterioram a credibilidade fiscal do país.

— Nesse momento a gente precisa ganhar credibilidade, a gente precisa comunicar o que vai ser o fiscal, qual é o plano de médio prazo e eu acho que é importante virar a página nesse tema que a gente tem que é a continuação do que foi feito em termos de programa de enfrentamento daqui até o fim do governo — disse.