Maria Silvia Bastos Marques, presidente do BNDES. Fotografa : Luciana Whitaker/Valor
RIO - A presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, classificou como “esdrúxula” a crítica que o banco vem recebendo por supostamente estar represando crédito. E reforçou que o banco vem mudando procedimentos para simplificar e agilizar o acesso a financiamentos. O objetivo é que 50% dos projetos que entrarem no banco este ano sejam aprovados em até 180 dias. A média hoje está em 400 a 600 dias.
— O banco está fazendo o seu papel. Nós somos um banco de desenvolvimento. Imaginar que o presidente de um banco de desenvolvimento quer segurar crédito me parece uma coisa bastante esdrúxula. Pelo contrário. Vocês sabem que estamos trabalhando para agilizar, simplificar o acesso.
O banco vem recebendo críticas de que estaria sendo muito rigoroso para liberar crédito. No ano passado, os desembolsos do BNDES somaram R $ 88, 3 bilhões, queda de 35%. Maria Silvia vem argumentando que a queda deve-se ao momento por que passa a economia. Com a pior recessão em décadas, o apetite por empréstimos das empresas vem caindo.
— O banco continua trabalhando com sua prudência bancária, trabalhamos com recursos públicos (...). Não acho que sejamos mais rigorosos. Temos regras muito claras, muito transparentes. Os desembolsos do banco não têm a ver com as aprovações naquele ano. Já vi projetos levarem dois mil dias para serem aprovados. A média é de 400 a 600 dias. Estamos trabalhando para reduzir essa média para 180 dias - disse a presidente do BNDES.
Ao todo, 27 países e a União Europeia tomaram medidas de suspensão da carne brasileira após a operação Carne Fraca. China, Egito e Chile decidiram normalizar importações de carnes brasileiras, mas mantêm alguns frigoríficos suspensos.
China
Foto: Qilai Shen / Bloomberg
A China retoma nesta segunda-feira os procedimentos de importação de carnes brasileiras, mas mantém um frigorífico suspenso, além de ter cancelado o registro de sete veterinários brasileiros. Há quase uma semana, Pequim decidiu reter todos os carregamentos de carnes do Brasil que desembarcavam nos portos chineses até segunda ordem.
Coreia do Sul
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A Coreia do Sul tinha suspendido as compras de carne de frango da BRF, mas cancelou a suspensão. O país determinou um aumento das amostras inspecionadas
Peru
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O país suspendeu temporariamente as compras de dois frigoríficos brasileiros. Além disso, determinou a suspensão de novos pedidos de habilitação por um período de 180 dias.
Vietnã
Foto: Juarez Becoza
O Vietnã decidiu pela suspensão temporária dos 21 frigoríficos investigados pela Operação Carne Fraca.
O país da América Central determinou recall interno de produtos de carne oriundos do Brasil.
Emirados Árabes
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Seis dos 21 frigoríficos envolvidos nas investigações estão com as vendas suspensas para os Emirados Árabes Unidos
Hong Kong
Apesar de a China ter anunciado o fim do embargo à carne brasileira, Hong Kong, cidade-estado chinesa, ainda não se manifestou. Foi determinada a suspensão temporária e recall no mercado de produtos dos 21 frigoríficos envolvidos nas investigações.
União Europeia
Foto: Jasper Juinen / Bloomberg
A União Europeia decidiu pela suspensão temporária dos 21 frigoríficos envolvidos na operação, determinou a intensificação dos controles sanitários (100% das exportações brasileiras de produtos agrícolas) e pediu informações detalhadas sobre essas unidades.
México
Foto: ANDRE COELHO / Agência O Globo
O país decidiu supender de forma preventiva as importações de frango brasileiro, o único produto pecuário que compra do país. Normalmente, os mexicanos compram do Brasil produtos como carne de frango refrigerada, congelada e desidratada de frango e de peru, ovo fértil e aves domésticas
O governo brasileiro anunciou neste sábado que o Chile decidiu normalizar as importações de carne do Brasil, após receberem todos os esclarecimentos e as informações técnicas transmitidas pelas autoridades brasileiras. Os 21 frigoríficos envolvidos, no entanto, permanecem sob suspensão temporária.
Japão
Foto: Tomohiro Ohsumi / Bloomberg
O país, terceiro maior mercado para os frangos brasileiros, suspendeu de forma temporária as importações dos 21 frigoríficos investigados. Os japoneses solicitaram mais informações técnicas ao governo e aguardavam os novos dados para se posicionar.
África do Sul
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Um dos integrantes do chamado Brics, a África do Sul bloqueou importações de seis frigoríficos exportadores investigados pela PF.
Arábia Saudita
Foto: Foto: Bobby Fabisak/JC / Agência O Globo
O país acompanha de perto os desdobramentos das investigações da Operação Carne Fraca. As autoridades sanitárias suspenderam temporariamente as compras da carne brasileira de quatro frigoríficos envolvidos nas investigações e pediram informações à Embaixada do Brasil para discutir a questão dos certificados sanitários. O Brasil responde por 87% das importações da Arábia Saudita de carne.
Suíça
Foto: ANDRE COELHO / Agência O Globo
Inicialmente o país suspendeu as importações de quatro unidades processadoras de carne do Brasil, mas seguiu a decisão da União Europeia determinou a suspensão temporária de todos os 21 frigoríficos.
Além da suspensão das importações, o país determinou um recall de produtos brasileiros que circulam no mercado interno.
Trinidad e Tobago
Foto: Parceiro / Agência O Globo
O país suspendeu as importações de carne procesada do Brasil. Também determinou um recall de carnes brasileiras internamente.
Bahamas
Foto: Analice Paron
A Embaixada Brasileira em Nassau informou que o país também optou pela suspensão temporária de importação de produtos cárneos brasileiros.
Argélia
Foto: Marcela Sorosini
O país suspendeu temporariamente a compra dos chamados produtos cárneos, os embutidos.
Qatar
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A Embaixada do Brasil em Doha informou que o país, assim como a China, interrompeu o desembaraço de embutidos (produtos cárneos) brasileiros até a validação de testes por amostragem.
Segundo a JBS e a embaixada do Brasil no Panamá, o país suspendeu temporariamente as importações de carne processada do Brasil.
Egito
Foto: Analice Paron / Agência O Globo
O terceiro maior importador de carne bovina do Brasil e um dos principais consumidores de frangos do país decidiu normalizar, em 25 de março, as importações de carne do Brasil, após receber todos os esclarecimentos e as informações técnicas transmitidas pelas autoridades brasileiras. A restrição se mantém para os frigoríficos envolvidos
Canadá
Foto: CHRIS WATTIE / REUTERS
O Canadá suspendeu temporariamente as compras de dois dos 21 frigoríficos envolvidos nas investigações da Operação Carne Fraca.
São Vicente e Granadina
Foto: ANDRE COELHO / Agência O Globo
O arquipelágo de São Vicente e Granadinas decretou a suspensão temporária dos chamados produtos cárneos (embutidos) com recall de produtos no mercado interno.
Marrocos
Foto: Silvia Amorim / Agência O Globo
A entrada de produtos cárneos, os embutidos, está suspensa temporariamente no Marracos
Embora não conste da lista oficial, o governo argentino determinou o aumento dos controles habituais dos produtos provenientes do Brasil. O Serviço Nacional de Sanidade e Qualidade Agroalimentar (Senasa) comunicou que “segue atentamente o desenvolvimento das investigações" e considerou prudente a decisão de excluir os frigoríficos envolvidos.
Santa Lucia
Foto: Divulgação
Outro país caribenho a decretar suspensão temporária das importações de carne processada do Brasil foi Santa Lucia.
Bahrein
Seguindo a decisão da Arábia Saudita, o Bahrein suspendeu temporariamente as compras de quatro frigoríficos.
São Cristóvão e Névis
O país caribenho determinou a suspensão temporária e recall de carne processada do Brasil.
Zimbábue
O país africano suspendeu temporariamente a compra de embutidos brasileiros
Os seguintes países solicitaram formalmente informações ao governo brasileiro sobre a Operação Carne Fraca e aguardam resposta: Palestina, Uruguai, Rússia, Angola, Líbano, Kuwait, Jordânia, Líbia, Países Baixos, Iraque, Bolívia, Itália, Bélgica, Portugal, Peru, Vietnã, Emirados Árabes, Omã, Israel, Barbados, Polônia e Irlanda.
Ela frisou que, no primeiro bimestre, foi desembolsado R $ 1, 5 bilhão em capital de giro.
Maria Silvia também comentou rumores de que ela seria candidata à presidência da Vale, para substituir Murilo Ferreira.
— Cheguei ( a ser convidada), sabe quando? Quando eu tava na CSN e a empresa participou do consórcio vencedor (na privatização da Vale, em 1997). O Benjamin (Steinbruch, cuja família controla a CSN) me convidou, mas preferi ficar na CSN. Fui do Conselho da Vale naquela época. Já tive minha participação na Vale.
'PREMATURO' para BNDES falar sobre Carne Fraca
Quanto à Operação Carne Fraca da Polícia Federal, que investiga corrupção em frigoríficos, Maria Silvia disse que está acompanhando a operação mas que ainda "é prematuro" para que o banco se posicione. Ela afirmou que não há qualquer financiamento em análise no banco para as empresas investigadas.
E minimizou a queda das ações dos grandes frigoríficos. O BNDES tem participacao relevante em JBS e Marfrig. No primeiro, que é investigado pela PF, o banco tem 21,3% do capital. Entre 2007 e 2010, o banco injetou quase R$ 5 bilhões na companhia via compra de ações ou subscrição de debêntures (títulos da dívida).
O Marfrig não está sendo investigado pela PF, mas vem sofrendo com a desvalorização dos papéis nos últimos dias. O BNDES tem 32,54% das ações da empresa.
— Ações oscilam na Bolsa. Vão e voltam — disse Maria Silvia.
No caso da BRF, que também é investigada pela PF, o BNDES é credor. O banco apoiou a operação de fusão da Perdigão com a Sadia em 2009 com R$ 400 milhões.
A presidente do banco disse ainda que vai avaliar o plano de recuperação judicial da Oi antes de se posicionar sobre o assunto.