Economia

Presidente do Spotify considera vital para a empresa a permanência do podcast de Joe Rogan, crítico das vacinas

Daniel Ek disse a funcionários que, para alcançar metas, a plataforma deve manter conteúdos com os quais muitos deles não querem ser associados. Bolsonaro apoiou apresentador
Joe Rogan tem um podcast de grande sucesso no Spotify Foto: Divulgação
Joe Rogan tem um podcast de grande sucesso no Spotify Foto: Divulgação

ESTOCOLMO - O presidente e fundador do Spotify, Daniel Ek, classificou de vital para sua companhia o podcast de Joe Rogan, que está no olho do furacão por questionar a eficácia das vacinas contra a Covid, e defendeu a permanência de seu conteúdo em um discurso interno.

Ele explicou a seus funcionários que, apesar de considerar "muito ofensivas" e estar "fortemente em desacordo" com "muitas coisas" que Joe Rogan diz, "para alcançar suas metas, a plataforma deve manter conteúdos com os quais muitos de seus funcionários não querem ser associados", de acordo com um discurso vazado nesta quinta-feira pela publicação The Verge.

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"Nem tudo é válido, mas haverá opiniões, ideias e crenças com as quais discordamos fortemente, e inclusive que nos deixam furiosos ou tristes", ressaltou Ek.

A plataforma criada na Suécia tem sido duramente criticada por lendas da música como Neil Young e Joni Mitchell, que retiraram seu catálogo do Spotify em protesto contra a difusão de alguns episódios do podcast "Joe Rogan Experience", nos quais são questionadas as vacinas contra a Covid-19, entre outros temas.

Bolsonaro manifestou apoio

Na última quarta-feira, o presidente Jair Bolsonaro publicou uma mensagem em defesa de Rogan , alegando se tratar da defesa da liberdade de expressão.

Algumas celebridades também foram às redes defender o podcaster, como Dwayne 'The Rock' Johnson, o surfista Kelly Slater, a cantora Jewel.

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"Não tenho certeza sobre o que @joerogan acha de mim ou do meu governo, mas não importa. Se a liberdade de expressão significa alguma coisa, é que as pessoas deveriam ser livres pra dizer o que elas acham, não importa se concordam ou discordam da gente", escreveu Bolsonaro na quarta-feira à noite, em um tuíte apenas em inglês, algo incomum em sua conta.

Ações despencaram em meio à polêmica

Em meio à controvérsia, as ações da companhia sueca despencaram 17% nesta quinta-feira na Bolsa de Nova York.

O Spotify respondeu às críticas anunciando que incluiria advertências nos episódios do podcast cujo conteúdo tenha informações sobre a Covid-19, e links que levem os usuários a informações factuais e fontes científicas.

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Executivo diz ter eliminado episódios inadequados

Segundo Ek, alguns episódios do podcast de Rogan já tinham sido eliminados por não se adequarem às regras do Spotify.

O executivo, no entanto, ressaltou que, por sua posição líder no mercado mundial, "é impossível ignorar a escala e o sucesso" do podcast "Joe Rogan Experience", que tem total autonomia sobre seu conteúdo e com quem a plataforma assinou um contrato de exclusividade no ano passado.

A publicação The Verge afirmou que os funcionários do Spotify estavam ansiosos pela reunião e que alguns deles se sentiam frustrados pelo fato de a companhia estar sendo impulsionada pelo acordo com Rogan.

"Não podemos escrever novas ou diferentes políticas com base em notícias ou questionamentos de pessoas", disse Ek, para quem a expressão criativa e a segurança dos ouvintes "raramente entram em conflito".

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"Para ser honesto, se não tivéssemos tomado alguma das decisões que tomamos, tenho certeza de que nossa empresa não estaria onde está hoje", disse Ek, segundo o discurso vazado por The Verge.

O Spotify é a mais recente companhia de tecnologia que enfrenta o dilema de equilibrar lucro e conteúdo.

As redes sociais têm sido chamadas a implementar medidas para moderar os conteúdos difundidos em suas plataformas, em especial os que são considerados discurso de ódio. Ano passado, a Netflix foi acusada de difundir programação ofensiva à comunidade LGBTQIA+.