Economia

Prestes a ser votada, privatização dos Correios prevê estabilidade de 18 meses para funcionários

Trabalhadores também poderão aderir a Programa de Demissão Voluntária (PDV)
Agência dos Correios, estatal que será privatizada Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo
Agência dos Correios, estatal que será privatizada Foto: Roberto Moreyra / Agência O Globo

BRASÍLIA — O relator do projeto que permite a privatização dos Correios, deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA), incluiu no seu texto um trecho que prevê a estabilidade de 18 meses para funcionários da estatal após a venda da empresa. A votação da proposta está marcada para esta quinta-feira na Câmara. O texto ainda proíbe o fechamento de agências que garantam a prestação do serviço postal universal em áreas remotas do país.

Além dessa medida, adiantada pelo GLOBO , o texto, que ainda não foi apresentado oficialmente, estabelece as diretrizes para um Programa de Demissão Voluntária (PDV). Os funcionários que desejarem poderão pedir demissão após 180 dias da privatização.

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Com isso, ele teria direito à manutenção de plano de saúde por um ano, mesmo período em que receberia uma indenização. O funcionário também poderia passar por um programa de requalificação para se preparar para o mercado de trabalho.

Correios está na lista de privatizações Foto: Agência O Globo
Correios está na lista de privatizações Foto: Agência O Globo

“Consideramos necessário assegurar estabilidade a todos os empregados da ECT (Correios) durante os dezoito meses subsequentes à desestatização, vedando sua dispensa sem justa causa nesse período”, diz o relatório, que conta com o apoio do governo.

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As mudanças no texto para beneficiar os funcionários dos Correios foram pedidas por líderes partidários, numa tentativa de reduzir as resistências à proposta.

Associação de funcionários critica pressa

A Associação de Funcionários dos Correios (Adcap) manteve nesta quarta-feira uma forte oposição à privatização. Em nota, criticou a aceleração da tramitação do projeto na Câmara pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL) a pedido do governo.

Para a associação, sem passar por comissões, o debate sobre os impactos da venda da estatal sobre os serviços postais fica prejudicado.

Segundo a Adcap, o projeto "tem falhas gravíssimas de concepção que podem colocar em risco o consolidado serviço postal do país. E a tramitação atropelada que tem sido dada ao mesmo pela Presidência da Câmara impede que essas imperfeições e riscos sejam devidamente analisados e corrigidos".

Venda de 100% da estatal

O texto também determina que os Correios serão 100% privatizados, como quer o governo e revelou O GLOBO em julho. O modelo fechado pelo Ministério da Economia prevê vender a totalidade da estatal em um leilão previsto para março do próximo ano.

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O governo chegou a estudar diferentes formas de privatização, como, por exemplo, segregar a empresa por regiões ou até por tipo de serviço. Mas decidiu retirar toda a participação da União na empresa.

O parecer também prevê que a venda seja unificada, sem segregação por regiões. Alguns parlamentares se mostravam preocupados porque uma possível venda segregada poderia prejudicar o atendimento de regiões menos rentáveis, fora dos centros populacionais.

. Foto: Criação O Globo
. Foto: Criação O Globo

O relator ainda disse no projeto que a digitalização das comunicações traz mais competição com o negócio tradicional dos Correios, que são as entregas de cartas, cartões e telegramas.

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O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a proposta deve ser votada nesta semana. Depois disso, ela ainda deve passar pelo Senado.

Acompanhado da privatização, o governo fará uma concessão para o serviço postal, que precisa ser universal, como prevê a Constituição. O texto do relator estabelece que a empresa decorrente da privatização terá exclusividade de cinco anos para operar os serviços postais.

Pelo plano do Ministério da Economia, é possível publicar o edital de privatização dos Correios até o fim do ano e realizar a operação até março de 2022. Para Cutrim, a venda está de acordo com a Constituição.

O relatório cria ainda uma “tarifa social” para atender os usuários que não tenham condições econômicas de pagar pelo serviço. “Afinal, em se constituindo em uma política social que busca atender a todos que demandarem, é fundamental considerar que há um conjunto de indivíduos vivendo em condições de pobreza que devem contar com uma precificação diferenciada dos outros”, afirma.