Economia

Produção industrial sobe 1,4% em maio e interrompe três meses de queda

Produção de alimentos puxa alta. Apesar do avanço, paralisação de segmentos como o automobilístico, por falta de insumos, trava recuperação
Fábrica da Nissan em Resende: montadoras relatam gargalos em produção de automóveis Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo (13/07/2017)
Fábrica da Nissan em Resende: montadoras relatam gargalos em produção de automóveis Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo (13/07/2017)

RIO — A produção industrial brasileira avançou 1,4% frente a abril, interrompendo três meses consecutivos de queda, segundo dados divulgados pelo IBGE nesta sexta-feira. O resultado, porém, não é suficiente para anular as perdas recentes.

Entre fevereiro e abril, o setor teve queda de 4,7%. Hoje, está de volta ao patamar de fevereiro de 2020, período anterior à pandemia, reduzindo os ganhos que teve no segundo semestre do ano passado.

No ano, a indústria acumula alta de 13,1% e, em doze meses, de 4,9%.

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"Há uma volta ao campo positivo, mas está longe de recuperar essa perda recente que o setor industrial teve. Muito desse comportamento de predominância negativa nos últimos meses tem uma relação direta com o recrudescimento da pandemia, no início de 2021, que trouxe um desarranjo para as cadeias produtivas”, explica o gerente da pesquisa, Alexandre Macedo.

A paralisação de vários setores, como o automotivo, tem dificultado a recuperação da indústria. Além da alta de custos, alguns segmentos ainda sofrem com a escassez de peças e componentes.

Indústria sofre com escassez de chips Foto: Divulgação/Qualcomm
Indústria sofre com escassez de chips Foto: Divulgação/Qualcomm

No mês passado, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) anunciou que vê riscos de mais paradas de fábricas de veículos por falta de chips no segundo semestre.

Poucos dias após o alerta da entidade, a Volkswagen anunciou a paralisação da produção de veículos no Brasil por dez dias devido à escassez de semicondutores usados nos painéis dos veículos.

Recomposição após forte perda

Em maio, o segmento de veículos automotores, reboques e carrocerias ficou estável (+ 0,1%). Os segmentos que puxaram o desempenho da indústria em agosto foram produtos alimentícios (2,9%), coque, derivados do petróleo e biocombustíveis (3,0%) e indústrias extrativas (2,0%).

"A maior parte das atividades volta ao crescimento após perdas importantes nos meses anteriores. O setor de derivados do petróleo, por exemplo, que é o segundo maior impacto positivo do mês, havia recuado 10%. Isso significa que há algum grau de recomposição em relação às perdas dos últimos meses”, diz Macedo.

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Outros resultados positivos vieram das atividades de metalurgia (3,2%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (8,0%). Já as atividades que mais impactaram negativamente o índice foram produtos de borracha e de material plástico (-3,8%), máquinas e equipamentos (-1,8%) e produtos têxteis (-6,1%).

Em relação a maio do ano passado, a produção industrial teve um salto de 24%, nono mês seguido de alta nessa comparação. O avanço tão grande deve-se à base fraca de 2020, quando as fábricas fecharam por causa da pandemia.

Perspectivas

Considerando que o gargalo no fornecimento de semicondutores é um problema que atinge indústrias globalmente (telecomunicação, computação, eletroeletrônicos e smartphones), especialistas ponderam que há o risco de a indústria brasileira não ter o problema da escassez plenamente solucionado nos próximos meses.

Mesmo assim, empresários do setor mantêm o otimismo para o segundo semestre. Em junho, o Índice de Confiança da Indústria (ICI) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre) subiu 3,4 pontos para 107,6 pontos, maior valor desde fevereiro (107,9 pontos).

"A recuperação das economias externas e o avanço do processo de vacinação no país contribuem para o aumento do otimismo das empresas. Apesar disso, é preciso cautela considerando que o setor ainda enfrenta dificuldades ainda com a escassez de insumos, aumento dos custos que incluem a mudança de bandeira para a energia elétrica, podendo ser fatores limitadores para uma recuperação mais robusta no segundo semestre”, disse Claudia Perdigão, economista do FGV Ibre, em comentário no relatório.

Em relatório, os economistas Marco Caruso e Lisandra Barbero, do banco Original, projetam que a indústria deverá apresentar novos resultados positivos nos próximos meses.

Eles avaliam que os estímulos fiscal e monetário, além da demanda aquecida por conta da poupança ainda não gasta em sua totalidade e a recuperação das economias deve dar algum conforto à indústria.

"A extensão das dificuldades de obtenção de insumos, por outro lado, deve continuar impactando negativamente o crescimento do setor", concluem os analistas, em comunicado.