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Economia Energia

Projeto permite que mais consumidores possam comprar energia no mercado livre

Proposta em estudo reduz volume necessário de consumo para ingressar no ambiente em que se pode negociar preço com gerador
Parque Solar Nova Olinda, da Enel, em Ribeira do Piauí (PI): no mercado livre, é possível comprar energia solar, eólica, de hidrelétricas e termelétricas Foto: Divulgação/Enel
Parque Solar Nova Olinda, da Enel, em Ribeira do Piauí (PI): no mercado livre, é possível comprar energia solar, eólica, de hidrelétricas e termelétricas Foto: Divulgação/Enel

RIO — A escalada de preços dos combustíveis e da conta de luz pode acelerar as discussões sobre a ampliação do mercado livre de energia — no qual o consumidor negocia o preço diretamente com o gerador ou comercializador da energia. Hoje, ele é acessado apenas por grandes indústrias.

A intenção é que, nesse segundo semestre, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) apresente, em parceria com a Aneel, projeto para permitir a abertura do mercado livre para consumidores de menor porte, com conta inferior a R$ 110 mil por mês. A ideia inicial era apresentar esse estudo apenas em 2022.

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Isso vai permitir que mais consumidores possam comprar eletricidade no mercado livre, que nos últimos anos apresentou preço entre 20% e 30% menor em relação aos valores praticados pelas distribuidoras. Isso ocorre porque no mercado livre é possível vender energia de diferentes fontes geradoras, como hidrelétrica, eólica, solar e térmicas.

A mudança é um passo importante para permitir a entrada dos consumidores residenciais no mercado livre, o que já ocorre em países como Portugal, EUA e Austrália.

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Hoje, pode aderir ao mercado livre quem tem consumo de 500kW médios (cerca de R$ 110 mil por mês). O estudo vai definir faixas menores de consumo para o acesso. A princípio, a redução começará a valer em 2024. A medida provisória de privatização da Eletrobras previa a abertura total do mercado em 2026, mas o item caiu na tramitação.

De 22 mil para 5 milhões

Com o potencial estimado, o número de consumidores do mercado livre poderia passar dos atuais 22 mil para cinco milhões em um primeiro momento. Desde 2019, o total de acessos dobrou. E é de olho nesse potencial que gigantes do setor, como a BR Distribuidora e a Eletrobras, já se movimentam para ampliar sua atuação na área.

— O futuro é livre. Todos os consumidores vão ter essa opção. É preciso fomentar a discussão — diz Rui Altieri, presidente do Conselho de Administração da CCEE.

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Segundo ele, a ideia é que a mudança, com redução do patamar de consumo necessária para ingressar no mercado, seja gradual, pois é preciso definir as regras envolvendo os contratos de longo prazo das distribuidoras de energia.

Isso porque, se a distribuidora perder clientes em patamar acima do previsto, quem continuar terá custo maior, pois isso é repassado no reajuste tarifário.

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Para especialistas, o estudo é uma alternativa ao Projeto de Lei 414, que está parado na Câmara dos Deputados, sem previsão de ser votado. Victor Ribeiro, gerente de Assuntos Regulatórios da Thymus, acredita que a votação do projeto é importante para que o país se aproxime de outros mercados:

— O PL vai colocar as condições para que essa migração ocorra, permitindo a entrada de consumidores residenciais. Ele prevê, por exemplo, questões como a modernização das redes, reduzindo as barreiras técnicas. Nos EUA, o custo da energia caiu 31% em dez anos em estados que aderiram ao mercado livre.