Exclusivo para Assinantes
Economia Coronavírus

'Quero aderir já à MP 936', diz fundadora da rede de hotéis Blue Tree

As 26 unidades da rede estão fechadas há um mês. Só as equipes de manutenção estão trabalhando
Presidente e controladora da Blue Tree Hotels, Chieko Aoki Foto: Agência O Globo
Presidente e controladora da Blue Tree Hotels, Chieko Aoki Foto: Agência O Globo

SÃO PAULO - Nos últimos dias, a empresária nipo-brasileira Chieko Aoki, fundadora da rede de hotéis Blue Tree , vem contemplando os resultados desastrosos da pandemia de coronavírus sobre a hotelaria mundo afora e em seus negócios.

As 26 unidades da rede estão fechadas há um mês. Todos os eventos corporativos agendados até junho foram desmarcados. Só as equipes de manutenção estão trabalhando – o equivalente a 10% dos funcionários.

Lewandowski : Redução de salário da MP 936 só pode ser adotada com manifestação do sindicato

De acordo com estimativa de Sérgio Souza, presidente da Associação Resorts Brasil,  perto de 95% dos empreendimentos do gênero no país já suspenderam atividades, e, para a hotelaria brasileira, um dos setores da economia mais atingidos pela pandemia do coronavírus, a MP 936 pode ajudar a preservar empregos .

Em meio à terra arrasada, Chieko conversou com o GLOBO sobre os planos para a retomada dos negócios , como aderir à medida provisória (MP) 936 que reduz salários e jornada de funcionários, sobre o futuro do capitalismo e sobre o seu estado de ânimos em meio à maior crise em muito tempo na hotelaria.

– Por causa da epidemia, caiu tudo, só não as minhas rugas e o meu ânimo – brinca.

O avanço da epidemia derrubou todo o planejamento de receitas para 2020 feito pela Blue Tree antes da crise. Até então, Chieko previa uma expansão do PIB de mais de 2% para este ano e a abertura de unidades da Blue Tree no interior paulista.

MP 936: Entenda quando o corte de salário pode ser feito por negociação individual

Novos cenários da rede devem sair nos próximos dias quando a rede voltar à operação. O retorno será aos poucos, conta Chieko. A prioridade é atender a funcionários de negócios essenciais no combate ao vírus, como saúde e logística, que estejam em viagem a trabalho.

Como a retomada vai ser lenta, o temor de Chieko agora é o que fazer com tanta mão de obra da Blue Tree que deverá ficar ociosa até as coisas ficarem assentadas. A empresária diz estar animada com a MP editada pelo Ministério da Economia na semana passada para permitir o corte temporário de salários e jornadas em negócios paralisados com a epidemia, como é a hotelaria.

Negociação: Empresas aceleraram acordos com empregados e sindicatos para evitar fechamento e desemprego

- Quero aderir já (ao texto da MP). Tenho funcionários que não querem trabalhar porque moram com crianças ou grupo de risco – diz a empresária, que diz não querer demitir a mão de obra porque acredita na necessidade de pessoal treinado para quando a economia voltar a andar.

Mesmo otimista de que a economia brasileira vai vencer a epidemia, Chieko pondera que os negócios na hotelaria jamais serão como antes – ao menos nas normas sanitárias, que ficaram mais rigorosas. Os elevadores terão capacidade reduzida para evitar aglomerações. Lençóis de quartos diferentes serão lavados em sacolas – antes, tudo ficava num mesmo bololô.

Socorro: Governo prepara medidas que podem elevar volume de crédito a empresas em R$ 50 bi

A ideia é reduzir ao máximo a chance de o vírus ficar num lugar com tanta gente circulando como é um hotel. O aumento exponencial dos casos de Covid-19 – e o sumiço dos turistas na indústria hoteleira inteira – levou a uma decisão inédita na Blue Tree.

O manual, de uso interno da Blue Tree, foi compartilhado a executivos de outras redes. A ideia trocar boas práticas para o setor, unido, vencer a crise de confiança, diz Chieko.

Para a empresária, a pandemia vai causar um impacto profundo não apenas na hotelaria, mas na própria razão de ser do capitalismo. A circulação fácil do vírus entre classes sociais diferentes, matando pobres e ricos, vai trazer à tona questões como desigualdade social.

Coronavírus: Guedes defende congelamento de salário de servidores por dois anos

- Não dá para ter grandes fortunas ao lado de gente miserável sem ter acesso a água e esgoto em casa. O pobre transmite doença a todos. Vamos ter que olhar para essas pessoas de outra maneira ao sair da crise – diz ela, para quem o “espírito coletivo” deverá sair fortalecido na disputa com o “cada um por si” presente na sociedade mundo afora até agora.

Chieko enxerga ainda que esta crise pode criar uma cultura de prevenção a desastres na sociedade do Brasil, o que a tornaria mais parecida com a cultura do Japão, onde nasceu.

- O Japão tem uma tradição milenar de prevenção a tsunamis, terremotos e outros desastres. Lá o espírito coletivo é mais forte. O saldo dessa crise pode ser um espírito coletivo mais forte aqui – diz ela.

R$ 600: Governo pode liberar nesta terça aplicativo para informal pedir auxílio emergencial

Por causa do regime de isolamento social, Chieko tem trabalhando de casa, no bairro do Paraíso, zona oeste de São Paulo, e diz estar assistindo a programas de culinária da tevê japonesa. O intuito: cozinhar usando o básico, uma habilidade valorizada em tempos de quarentena.

- Se o micro-ondas quebrar, já sei preparar um arroz com condimentos rapidinho no fogão – diz ela.