Economia

Rede de farmácias Pague Menos compra concorrente Extrafarma por R$ 700 milhões

Negócio alça a Pague Menos a segunda maior companhia do setor no Brasil
Farmácia no Rio de Janeiro Foto: Alexandro Auler / Agência O Globo
Farmácia no Rio de Janeiro Foto: Alexandro Auler / Agência O Globo

SÃO PAULO — A rede de farmárcias Pague Menos anunciou na noite desta terça-feira a compra da concorrente Extrafarma, pertencente ao Grupo Ultra, por R$ 700 milhões.

Metade do valor será desembolsado no fechamento da operação. O restante será dividido em duas parcelas de R$ 175 milhões, com pagamentos previstos para os aniversários de um e dois anos do negócio.

IR 2021: Ainda não enviou declaração? Especialista tira dúvidas sobre formulário

Com a operação, a Pague Menos se torna a segunda maior companhia no setor, atrás apenas do grupo Raia Drogasil.

A Extrafarma, que pertence ao Grupo Ultra desde 2013, nasceu no Pará. Hoje, a rede diz ser a sexta maior do país, com presença em 11 estados e 402 unidades. As regiões Norte e Nordeste concentram 89% das operações da marca.

A Pague Menos, fundada pelo empresário Francisco Deusmar de Queirós, também tem concentração forte nas regiões Norte e Nordeste, apesar de ter presença em todos os estados do país. A companhia registrou EBITDA lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização de R$ 159,3 milhões e lucro líquido de R$ 44,2 milhões no primeiro trimestre de 2021.

A rede tem 1.101 lojas. Com a compra da concorrente, portanto, passa a ser dona de mais de 1.500 pontos de venda e ultrapassa o DPSP, dono das redes Drogaria São Paulo e Pacheco, que contava, no fim de 2020 com 1.368 farmácias. A Raia Drogasil, líder de mercado, tem cerca de 2.300 pontos de venda.

Negócios: Amazon negocia a compra do estúdio MGM, dono de sucessos como a franquia James Bond

Após o negócio, a Pague Menos diz que assumirá a liderança de mercado em estados como Paraíba e Amapá e Pará. A empresa afirma já ser líder em Bahia, Pernambuco, Maranhão, Rio Grande do Norte, Sergipe, Tocantins, Roraima e Rondônia.

Mais cedo, Pague Menos e Ultra confirmaram estar em negociação pelo ativo após reportagens da agência de notícias Reuters e do jornal Valor Econômico afirmarem que o negócio havia sido fechado.

Ao GLOBO, uma fonte familiarizada com as tratativas disse que as negociações haviam emperrado em detalhes relativos à precificação ( valuation ) da Extrafarma.

A Ultrapar já havia sinalizado que poderia vender a rede para concentrar seus investimentos no segmento de óleo e gás.

Em comunicado ao mercado sobre a venda da Extrafarma, o Grupo Ultra afirma que "está em processo de revisão de seu portfólio de negócios, buscando maior complementariedade e sinergias, com investimentos centrados nas oportunidades existentes na cadeia downstream de óleo e gás no Brasil".

Crise no fundo de pensão: Caixa promove dança das cadeiras em diretoria de fundo de pensão, e funcionários veem ingerência

O conglomerado já tem, por exemplo, Ultragaz e a rede de postos Ipiranga.

O pagamento terá fiança prestada por acionista como garantia para as duas últimas parcelas, que representam R$ 350 milhões ao todo. O valor do negócio está sujeito a ajustes das variações de capital de giro e dívida.

A aquisição, agora, precisa passar pela aprovação das assembleias de acionistas de Ultra e Pague Menos, além do crivo do Cade (órgão antitruste brasileiro).

Em fato relevante disparado ao mercado, a Pague Menos diz que a compra da concorrente permite acelerar suas metas de crescimento em três anos e diz que, das 402 lojas da Extrafarma, 212 estão em bairros alinhados ao plano de expansão da nova dona da marca, 177 lojas estão em microrregiões do Norte e Nordeste em que a Pague Menos já está presente e 13 lojas estão em microrregiões onde a empresa não está presente ainda.

— No Norte e no Nordeste não há outra empresa que traga tanta aceleração ao nosso plano de crescimento quanto a Extrafarma. Estamos adquirindo uma operação similar à nossa, no nosso quintal, em uma região onde operamos há 40 anos, um mercado que conhecemos como a palma da nossa mão — afirmou Mario Queirós, presidente da Pague Menos.

Caminhoneiros: Bolsonaro lança pacote com crédito, simplificação de documentos e obras em estradas

"Estimamos que a aquisição levará o market share (participação de mercado) da companhia para 23,3% no Nordeste (contra os 19,5% referentes ao ano de 2020), para 18,9% no Norte (versus 9,9% de 2020) e para 7,0% no Brasil (bersus 5, 7% de 2020)", diz o documento.

Extrafarma Foto: Reprodução de Facebook
Extrafarma Foto: Reprodução de Facebook

A Pague Menos também vai incorporar os atuais quatro centros de distribuição da Extrafarma à sua estrutura atual. A localização de dois deles, segundo a empresa, já estava prevista no plano de expansão da Pague Menos.

A Pague menos prevê obter "economia relacionada à redução na quilometragem e redesenho da malha logística, com diminuição no tempo de abastecimento das lojas em até 45% para os estados impactados" com a compra. A redução do tempo de entrega é estimada pela empresa em 3,5 dias.

As sinergias identificadas pela Pague Menos com o negócio, segundo a empresa, trariam contribuição adicional líquida ao EBITDA de R$150 a R$250 milhões ao ano.

Warner e Discovery: Conheça os executivos por trás da fusão de mais de US$ 100 bi que começou com um SMS

Para Henrique Esteter, analista-chefe da Guide, o negócio é importante para o Grupo Ultra, que já queria se desfazer da Extrafarma para se concentrar no segmento de óleo e gás. Para a Pague Menos, que tem uma rentabilidade abaixo das concorrentes de mercado, a aquisição consolidaria sua posição forte no Nordeste.

—  A Pague Menos está terminando um processo bem conduzido de reestruturação, mas é uma empresa saudável e capitalizada depois do IPO (abertura de capital na Bolsa, feito em agosto de 2020). A Extrafarma também precisa reestruturar a operação para aumentar rentabilidade. Precisa investir em lojas mais diversificadas, com mais oferta produtos de estética e beleza, por exemplo —  diz ele.

Segundo ele, Pague Menos e Extrafarma devem ter sobreposições de lojas na região Norte. Ainda assim, a aquisição pode ser um bom negócio para a empresa.

—  Raia Drogasil prefere crescer de maneira orgânica, mas para a Pague Menos pode ser um bom negócio comprar um ativo que a Ultrapar já queria vender. O mercado tem reagido bem ao possível negócio — afirmou. Nesta terça, as ações da Pague Menos subiram 9,59%.