Ricardo Henriques
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GERADO EM: 29/07/2024 - 04:01

"Novo decreto presidencial no Brasil prioriza investimento na primeira infância para reduzir desigualdades"

Investir na primeira infância é crucial para reduzir desigualdades e garantir um futuro sustentável. O novo decreto presidencial no Brasil cria a Política Nacional Integrada de Primeira Infância, priorizando ações como comunicação com famílias e dados unificados. Apesar dos avanços, desafios persistem, sendo essencial a colaboração entre os governos. O foco na infância não só é ético, mas também benéfico economicamente, promovendo um desenvolvimento equitativo e justo.

O investimento na primeira infância — período que abrange os primeiros seis anos de vida — é uma das estratégias mais eficazes para reduzir desigualdades intergeracionais, com impactos positivos e longevos em indicadores sociais e econômicos. Há sólida evidência científica sobre isso e, de tão enfatizado, esse argumento tornou-se praticamente consensual. Mesmo assim, ainda estamos longe de garantir o atendimento adequado a essa população. Entre a teoria e a prática, há um longo caminho que depende de recursos suficientes e competência técnica para viabilizar políticas públicas bem desenhadas e implementadas em todo o território nacional.

Recentemente, demos mais um passo importante com o decreto, assinado pelo presidente Lula no mês passado, que cria as bases para a Política Nacional Integrada de Primeira Infância (PNIPI). Resultado de propostas feitas pelo grupo de trabalho sobre o tema no Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, a política acerta — entre vários pontos — no diagnóstico de que é preciso um esforço coordenado de União, estados e municípios, com ações articuladas em diferentes setores (saúde, educação, assistência social...) e foco no combate às desigualdades.

Um exemplo prático de ação proposta no documento que embasou a nova política é a criação de uma base de dados unificada, com informações de diversas áreas — como assistência social, saúde, educação, justiça, direitos humanos etc. — o que pode ser desdobrado em um Sistema de Informação Integrado da Primeira Infância. Essa medida é importante, pois, entre outros motivos, permite uma maior integração entre os serviços ofertados para as crianças nos municípios e estados. Outro ponto relevante é que, para que a PNIPI seja bem implementada, é fundamental que o regime de colaboração seja consolidado entre as três esferas de governo, aprimorando as políticas setoriais a partir da criação de uma governança interfederativa.

Outra ação promissora proposta no documento que embasou o decreto é o fortalecimento da comunicação com as famílias. Evidências da avaliação de impacto dos programas mais eficazes na primeira infância reforçam o quão importantes são o apoio e a orientação aos cuidadores. Oferecer serviços públicos de qualidade é fundamental, mas o atendimento em creches, postos de saúde ou centros de assistência social será potencializado caso mães, pais e outros responsáveis incorporem em sua rotina ações — muitas vezes simples — que estimulem o desenvolvimento infantil. Paralelo a isso, a conscientização dessa população a respeito de seus direitos tende ainda a facilitar o acesso a serviços públicos essenciais.

Apesar de estarmos ainda em patamares insatisfatórios na garantia de direitos dessa população, é importante reconhecer avanços no período da redemocratização. Nossa taxa de mortalidade na infância, segundo o Unicef, caiu de 63 para 14 mortes por mil crianças até 5 anos de idade entre 1990 e 2022. Entre 1989 e 2023, o percentual de crianças de zero a 3 anos atendidas em creches aumentou de 5% para 39%, de acordo com o IBGE.

Ainda assim, as desigualdades seguem brutais. Levantamento do movimento Todos Pela Educação mostra, por exemplo, que entre os 20% mais ricos, 56% das crianças frequentam creches e apenas 7% não estão matriculadas por dificuldade de acesso. Entre os 20% mais pobres, a taxa de acesso cai para 31%, e a de não matrícula por dificuldade de acesso vai a 28%. A desigualdade é também significativa a partir de um recorte intergeracional. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, do IBGE, 45% das crianças de 0 a 5 anos viviam em domicílios com renda mensal per capita inferior a meio salário mínimo. Entre adultos, essa proporção é de 27%. Ou seja, a pobreza é mais intensa na infância.

O descaso com a população infantil mais vulnerável cobra de todos os brasileiros um alto preço. Olhando para o futuro, a estrutura populacional cada vez mais envelhecida exigirá do país uma qualificação melhor dos trabalhadores em idade ativa. A queda nas taxas de fecundidade, por um lado, facilita o investimento per capita na infância, mas, por outro, traz riscos de, mais uma vez, essa população não ser priorizada no orçamento público.

Investir na primeira infância é, sobretudo, um imperativo ético para garantia de direitos básicos dessa população. Mas é, também, uma decisão econômica racional, consistente e acertada. Priorizar a infância — um ato de amor e razão, uma escolha pela justiça e eficiência, um caminho para o desenvolvimento sustentável, criativo, dinâmico e equitativo.

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