Ricardo Henriques
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GERADO EM: 09/09/2024 - 04:00

Brasil busca novas metas educacionais

O Brasil busca uma ambição educacional elevada, revendo a matriz de avaliação do ensino básico para acompanhar as demandas atuais. É essencial estabelecer metas desafiadoras e envolver a sociedade nesse processo de aprimoramento, visando garantir um ensino de qualidade e preparar os jovens para os desafios do mundo contemporâneo. A necessidade de atualização dos instrumentos de avaliação e a definição de padrões adequados são cruciais para impulsionar a educação no país.

Para planejarmos o necessário salto educacional no Brasil, é fundamental estabelecer metas e padrões de alto desempenho para todos. Este é um debate oportuno, pois o Ministério da Educação discute a reformulação do atual Saeb (Sistema de Avaliação de Educação Básica). Há questões técnicas a serem decididas por especialistas, mas é preciso envolver toda a sociedade. Afinal, essa discussão diz respeito à ambição que temos, enquanto nação, para nossas crianças e jovens.

É preciso primeiro reconhecer que o Brasil desenvolveu o que era, até bem pouco tempo, um dos mais avançados sistemas de avaliação da educação. Essa trajetória começa na redemocratização, quando, a partir de 1995, definimos testes de aprendizagem em larga escala e a possibilidade de comparação objetiva numa série histórica.

Por se tratar de uma cultura nova ao campo educacional, o MEC — salvo em divulgações pontuais — não estabeleceu qual seria o patamar mínimo a ser alcançado por todos, ou qual deveria ser considerado de alta proficiência. Não é um exercício simples num país com 27 unidades da federação e 5.565 municípios com autonomia para gerir suas redes. Mas é necessário. Tanto que o Inep, autarquia responsável pelos estudos e avaliações educacionais, acertadamente, já iniciou esse processo na alfabetização e anunciou que fará o mesmo para o fundamental (o ensino médio ainda está em definição).

O estabelecimento do que seriam patamares adequados sofre alguma resistência justificada no campo educacional, pelo receio de estigmatizar estudantes ou escolas que não atingiram o esperado. A identificação de patamares inadequados precisa ser entendida como um ponto de partida para as ações que corrijam esse problema. Não se trata, portanto, de buscar culpados, mas, sim, de incentivar a ação concreta, em todas as instâncias, para reverter o quadro.

Os resultados de aprendizagem hoje podem ser analisados a partir de uma escala de oito níveis em Língua Portuguesa ou de dez em Matemática. Mesmo sem definição oficial de qual seria o patamar mínimo adequado, é possível constatar no ensino médio, por exemplo, que os estados com melhor desempenho estão na faixa de nível 3 tanto em Língua Portuguesa como em Matemática. É simples concluir daí, portanto, que o que temos de melhor é insatisfatório. Considerando a métrica atual, nesse recorte, a ambição da sociedade, se tomarmos a OCDE como referência, deveria projetar um salto de ao menos dois níveis na escala de aprendizagem disponível.

Precisamos de metas com altas expectativas de aprendizagem para todos os estudantes, ao mesmo tempo em que é fundamental também rever a própria métrica. Passados quase 30 anos da primeira avaliação comparativa da aprendizagem em larga escala, é hora de reformular o sistema. Nesse período, tivemos boas notícias, como o avanço contínuo da aprendizagem nos anos iniciais do fundamental e o aumento significativo da escolarização entre jovens — de 1995 a 2023, o percentual de matrícula no ensino médio de 15 a 17 anos saltou de 24% para 75%. Seguimos, porém, muito desiguais, tanto na trajetória dos estudantes ao longo da educação básica quanto na aprendizagem ao final de cada ciclo.

Como argumentei nas duas últimas colunas, precisamos de novos instrumentos de avaliação da educação, que sejam mais sensíveis à equidade (hoje, é possível avançar na nota do Ideb à custa de mais desigualdade) e tenham maior capacidade de medir aprendizagens mais significativas. Sobre esse último aspecto, é importante lembrar que a matriz dos atuais testes no Saeb é a mesma desde a primeira edição, em 1995. De lá para cá, aprovamos uma nova Base Nacional Comum Curricular, reformulamos (por duas vezes) o ensino médio, e o mundo atravessou profundas transformações, que demandam competências e habilidades mais sofisticadas, e que não estavam no radar dos educadores e da sociedade até o fim do século passado.

É hora de rever nosso entendimento sobre o que significa estar plenamente apto ao exercício da cidadania, desenvolvimento da pessoa, e para uma inserção qualificada no mercado de trabalho, objetivos constitucionais. Certamente, não será por pequenos acúmulos na margem que chegaremos lá. É necessário ousadia! Precisamos estabelecer de forma nítida quais são nossas ambições, defini-las em sintonia com as mudanças aceleradas do mundo do trabalho e da sociedade do conhecimento, calibrar nossos instrumentos de mensuração para esses objetivos e, mais importante, agir para que todos os jovens sejam capazes de atingir um patamar compatível com os desafios contemporâneos.

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