Economia

Risco de racionamento no país subiu de 5% para 10%, segundo estimativas do Itaú

Estiagem prolongada terá impacto no custo da energia e na inflação, diz banco. Índice pode chegar próximo a 8%
Lago da Hidreletrica de Furnas, MG, que está abaixo de 20% de sua capacidade Foto: Joel Silva / Agência O Globo (25/08/2021)
Lago da Hidreletrica de Furnas, MG, que está abaixo de 20% de sua capacidade Foto: Joel Silva / Agência O Globo (25/08/2021)

SÃO PAULO — As chances de ocorrer um racionamento de energia no país, causado pela maior crise hídrica dos últimos 90 anos, foram elevadas de 5% para 10%, segundo estimativas dos economistas do Itaú. O economista-chefe, Mário Mesquita afirmou que a depender do aumento do custo da energia elétrica, que deve ser anunciado nesta terça-feira, poderá elevar a previsão de inflação de 6,9% para mais perto de 8% este ano, acima do teto da meta de 5,25%.

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— O risco hídrico cresceu. No primeiro trimestre, estávamos bem. Em abril choveu pouco e o nível dos reservatórios caiu. Existe risco de escassez de energia em algumas regiões e elevamos de 5% para 10% o risco de racionamento no país com a estiagem se prolongando — disse Mesquita.

O valor da bandeira tarifária, uma sobretaxa que é acionada nas contas de luz quando o custo da geração de energia aumenta, deve subir de R$ 9,49 para um valor entre R$ 14 e R$ 15 a partir de setembro. O governo deverá acionar mais usinas térmicas, que é uma energia mais cara.

Mesquita avalia também que o impacto da crise hídrica no PIB vai depender do tamanho do racionamento ou da redução forçada da demanda. Para 1 ponto percentual de redução na na demanda a estimativa do banco é que haja uma perda de 0,2 ponto no PIB. O Itaú estima o crescimento do país em 5,7% este ano e 1,5% em 2022.

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A alta da inflação não é um problema isolado do Brasil, segundo Mesquita. Trata-se de um fenômeno global causado pelo aumento do preço das commodities, entre eles soja, carne ou minério de ferro, e pelos gargalos de produção em alguns setores da indústria, que reduziram a oferta de produtos - por exemplo automóveis zero quilômetro - quando a demanda aumentou após a reabertura das economias.

— A alta da inflação é um fenômeno global. Nos Estados Unidos, por exemplo, o preço dos veículos pressionou a inflação. Também há risco de que o aumento dos aluguéis pressione o índice com o estímulo que o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, tem dado ao setor imobiliário, injetando no mercado US$ 40 bilhões em títulos lastreados em hipotecas todos os meses — explica Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú.

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Se nos EUA, a alta de juros pode começar em dezembro, na América Latina todos os países com metas de inflação estabelecidas estão com os índices acima do teto e já começaram a elevar as taxas, com exceção da Colômbia, que deve fazê-lo este mês.

No Brasil, o Banco Central começou a elevar os juros em março passado, após seis anos sem mexer na taxa. A Selic começou a subir em março, quando estava em 2%, menor patamar histórico e atualmente está em 5,25%. Deve chegar a 7,5% até dezembro, segundo previsões do Itaú.

O economista Mário Mesquita lembra que no Brasil quando o índice cheio de inflação fica mais alto, acaba criando-se um ambiente mais permissivo para aumento de preços, mesmo em setores que não estão sendo impactados. Por isso, a inflação se disseminou por aqui, inclusive no setor de serviços.

— As pessoas aceitam e as empresas acabam repassando preços. Além disso, algumas categorias de trabalhadores tiveram aumento de 7% ou 8%, o que pressiona mais os preços — diz Mesquita.

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Pelas estimativas do Itaú, com o ciclo de alta de juros, que deve chegar a 7,5% em dezembro e ficar nesse patamar em 2002, o IPCA deverá recuar para 3,99% em 2022. Mas existem riscos no horizontes: a continuidade do aumento de preços de bens por conta dos gargalos de produção, inflação de serviços mais persistente, recuperação do mercado formal de trabalho, com aumento de salários e o risco hídrico.