Economia

Saiba o que são as start-ups zebras e o que elas buscam

Grupo critica unicórnios e capital de risco; uma das metas é ser sustentável
Responsabilidade com o dinheiro é um dos princípios defendidos pelo movimento Foto: Editoria de Arte
Responsabilidade com o dinheiro é um dos princípios defendidos pelo movimento Foto: Editoria de Arte

RIO — Uma ideia disruptiva de negócio pode nascer sem recursos... e chegar a valer mais de US$ 1 bilhão. Mas os casos são tão raros que, ao atingir tal marca, uma start-up é chamada de “unicórnio”.

Segundo um grupo de empreendedores críticos ao que identificam como jornada comum dessas startups, elas dependem do recebimento de um investimento de alto risco, que pode não ser correspondido em termos financeiros nem de benefícios gerados à sociedade e ao meio ambiente.

O movimento de oposição, que nasceu nos Estados Unidos, é chamado de “Zebras Unite”, que significa, em português, “Zebras Unidas”.

Novos fundos: Cannabis, moedas digitais e empresas sustentáveis na mira do investidor

— Elas reclamam da dificuldade de acesso ao capital neste modelo chamado venture capital . O investidor quer colocar um valor que é alto em um negócio, mas que seja multiplicado o máximo possível em um curto período de tempo. Tanto que os contratos já têm prazos para a saída dos investidores do negócio. Enquanto isso, muitas outras ideias ficam sem verba. E há uma questão social: a maioria dos investimentos é feita em negócios liderados por homens — afirma Marília de Sant’Anna Faria, analista do Sebrae Rio.

“Responsabilidade com o dinheiro é um dos princípios defendidos pelo movimento”

Marília de Sant'Anna Faria
Analista do Sebrae Rio

Os críticos acusam ainda as empresas unicórnios de muitas vezes incinerarem verbas, por gastarem muito e, por conta das mudanças rápidas no mercado que as colocam sob condições de mercado e concorrência diferentes em pouco tempo, frustrarem as expectativas de investidores.

A responsabilidade com o dinheiro é, portanto, uma das pautas das zebras. Algumas já nem se candidatam ao capital de risco, para não terem que fazer promessas irreais.

Entrevista: 'O efeito do corte de juros uma hora será superado’, diz a economista Zeina Latif

— O que eu tenho visto é o retorno, pelas zebras, ao básico. Querem ter uma gestão organizada da inovação nos seus processos, para que elas sejam sustentáveis também a médio e longo prazo — diz Marília Cardoso, sócia-fundadora da Palas, consultoria de inovação para empresas.

A zebra, que entrou no dicionário do empreendedorismo, também faz referência a duas metas:gerar lucro e melhorar a sociedade.

Colaborar no lugar de competir

Ao contrário do que ocorre com uma empresa unicórnio, a marca de zebra não pode ser dada de forma tão objetiva para um negócio, diz Marília Cardoso, da consultoria Palas. Mas um negócio, para melhorar a sociedade, segundo ela, tem alguns requisitos a cumprir.

Produtos financeiros: 'Big techs' querem tomar conta do seu dinheiro

— Não estão sendo distribuídos rótulos, como no caso dos unicórnios. O termo zebra é mais subjetivo. É preciso entender se um negócio atende ao tripé da sustentabilidade social, econômica, ambiental — afirma.

A analista do Sebrae Rio exemplifica algumas ações tocadas por zebras:

— Recentemente, participei de uma conferência em São Paulo e ouvi de várias pessoas que estavam começando start-ups que não querem ser unicórnios, não querem ganhar de todo mundo. Querem ser uma zebra, inclusiva, preocupada em beneficiar de ponta a ponta, da sua rede de fornecedores aos seus clientes — diz Marília de Sant’Anna Faria, continuando: — Há startups que contratam apenas mulheres, outras que priorizam funcionários com mais de 50 anos, por exemplo. Para mudarem a sociedade.

Novo perfil: Mandarim e cultura chinesa ganham visibilidade no Rio

A colaboração no lugar da competição como regra, aliás, é um dos diferenciais pregados pelas zebras. Também por isso o apelido escolhido. No mundo animal, as zebras andam em coletivo e acreditam que assim se protegem.

O Impacta Hub Floripa se considera uma zebra. São três frentes de negócio: espaços de coworking com gestão de comunidades; gestão de espaço de eventos a serviço do ecossistema; e desenvolvimento de programas de impacto social.

No dia a dia com outros empreendedores, a gerente de Comunidade Talita Matos procura disseminar princípios e valores do movimento:

Imagem repaginada: Com crescimento dos negócios, chineses querem ampliar sua relevância no Brasil

— Colocamos como princípio o fomento da colaboração dentro da rede. Incentivamos que dedique três horas do mês à mentoria gratuita para que outros membros possam aprender com eles. Falamos de prosperidade compartilhada, que é construída fechando negócios entre nós, compartilhando conhecimento, se protegendo. A gente cresce junto — diz.