Senado aprova MP da Eletrobras com jabutis, e mudanças terão impacto de R$ 84 bi, dizem especialistas

Conta inclui custo direto para consumidores e empresas, além de impacto sobre impostos e políticas regionais
Barragem de Sobradinho, da Eletrobras: especialistas criticam construção de térmicas em locais sem infraestrutura Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo

RIO - A aprovação pelo Senado do texto da medida provisória (MP) que abre caminho para a privatização da Eletrobras foi criticada por especialistas e representantes do setor de energia. Embora defendam a necessidade de privatizar a estatal para fazer frente aos investimentos necessários no setor, avaliam que as mudanças feitas no Congresso no projeto - os chamados jabutis - vão gerar custo extra para o consumidor e afetar a competitividade das empresas. A estimativa é de impacto de R$ 84 bilhões.

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Projeção feita pela União pela Energia, que reúne associações do setor, aponta que os jabutis incluídos no Senado geraram custo extra de R$ 15 bilhões considerando a obrigação de contratar 8 mil megawatts de usinas termelétricas movidas a gás localizadas em redutos eleitorais e sem infraestrutura de gasodutos.

O texto da Câmara previa 6 mil MW, mas o Senado ampliou o volume a ser contratado.

Nos cálculos da União pela Energia, o impacto total das mudanças no texto feitas pela Câmara e pelo Senado chega a R$ 56 bilhões.

Para economizar, ligue o aparelho apenas quando for dormir e desligue logo ao acordar. Uma opção é usar a função sleep, disponível em alguns modelos. Outro cuidado é manter o ar-condicionado em temperatura adequada. Especialistas recomendam 23ºC. Não é preciso colocar temperatura muito baixa, para não gastar muita energia. Foto: Pixabay
Em uma família com quatro pessoas, o uso do chuveiro elétrico corresponde a cerca de 25% da conta de luz. Para economizar, evite banhos muito longos e dê preferência a usar o chuveiro no modo verão, que economiza até 30% de energia Foto: Pixabay
Quando a porta fica muito tempo aberta, o motor funcionará mais, gastando mais energia. É importante também manter a borracha de vedação da porta da geladeira em bom estado. Ao viajar, uma opção é esvaziar a geladeira e desligá-la da tomada. Foto: Pixabay
A substituição de lâmpadas incandescentes pelas de LED pode gerar uma redução de 75% a 85% no consumo de energia. Além disso, essas lâmpadas duram mais. Em relação às lâmpadas fluorescentes, a economia é de cerca de 40% Foto: Pixabay
Dê preferência a lavar uma grande quantidade de roupas, para economizar água e energia. Evite colocar muito sabão, para não ter de enxaguar duas vezes. Na hora de passar, a melhor opção é juntar roupas e passar uma grande quantidade de uma vez. Desligue o ferro quando for interromper o serviço. Use a temperatura indicada para cada tipo de tecido e comece pelas roupas mais leves. Foto: Pixabay
O uso do ventilador de teto durante 8 horas por dia gera um gasto de apenas R$ 18 por mês. Mesmo assim, é importante evitar deixar o aparelho ligado quando não houver ninguém no cômodo. Na hora de comprar, lembre-se que quanto maior o diâmetro das hélices, maior o consumo de energia. Foto: Pixabay
No caso dos eletrônicos, a recomendação é desligar o televisor e os videogames quando ninguém tiver usando. Retirar os aparelhos da tomada também ajuda a poupar energia. Foto: Arquivo

 

As associações citam ainda efeitos indiretos das medidas acrescentadas ao projeto, com impacto posterior, como impostos e políticas públicas regionais, que elevariam o montante total a R$ 84 bilhões.

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“Infelizmente, os chamados jabutis da MP da Eletrobras prosperaram, se reproduziram e vão onerar os consumidores por décadas”, disse o grupo em nota.

Nos bastidores, representantes do setor criticaram o aumento do volume das usinas térmicas a gás.

— O ambiente de investimento vai sofrer. Quem se programou para investir em eólica e solar vai rever os projetos com a reserva de mercado para essas fontes térmicas. As decisões do planejamento energético, que deveriam ser técnicas, passam para o setor político. A competição e a inovação vão para segundo plano — analisa Paulo Pedrosa, presidente da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e Consumidores Livres (Abrace), destacando que o custo da privatização ficou muito alto.

Tiago Figueiró, sócio da área de energia do Veirano Advogados, destaca um ambiente de “disputa política” para emplacar a localização das térmicas em lugares sem infraestrutura. Ele classifica as propostas como intervencionistas, já que o sistema é interligado:

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— O outro governo já estava planejando um leilão para contratação de térmicas, mas não dessa forma, estabelecendo preferências por regiões. Isso representa uma alteração. Fica parecendo que estão privilegiando algumas regiões em que não existe acesso à malha de gás, uma medida para desenvolver o mercado de gás.

Lago da represa da hidrelétrica de Marimbondo, no interior de São Paulo, praticamente sem água: consumidor terá de pagar sobretaxa ainda maior na conta de luz pelo acionamento de termelétricas Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
A usina hidrelétrica de Marimbondo esta operando abaixo da capacidade por causa do período da estiagem Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Seca pode prejudicar fornecimento de energia elétrica Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Segundo ONS, está prevista "a perda do controle hidráulico de reservatórios da bacia do Rio Paraná no segundo semestre de 2021" Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
O reservatório da usina Marimbondo, localizado no Rio Grande, divisa entre São Paulo e Minas Gerais, atingiu o nível mais baixo entre todos os monitorados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Com a falta de chuva para encher o reservatorio, a producao de energia foi reduzida Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Área inundada por barragem volta a ficar exposta devido à seca histórica Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Cor mais vívida do solo revela o que há pouco era o fundo do reservatório Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo
Localizada na divisa de São Paulo e Minas Gerais, a hidrelétrica tem capacidade para produzir 1.440 megawatts Foto: Ferdinando Ramos / Agência O Globo

 

Carlos Faria, presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia (Anace), diz que o que já estava ruim ficou ainda pior no Senado. A consequência será uma redução na competitividade para a indústria por exemplo, que vai pagar por uma energia mais cara.

— O mais alarmante é o consumidor ter que pagar por isso, com a criação de uma reserva de mercado para térmicas a gás e pequenas centrais hidrelétricas. Estamos indo para o caminho da crise energética. O que está começando errado vai acabar errado — disse Faria. —Os custos estão quase uma vez e meia o que vai se arrecadar com a privatização da Eletrobras (de R$ 60 bilhões).

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Alexei Vivan, diretor-presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica (Abce), diz que a regra do setor deve ser a eficiência:

— As emendas que tratam da Eletrobras são as que menos interessam. Incluir jabutis é o estilo brasileiro de legislar. As próprias restrições de demissão na Eletrobras são ruins. Criam-se despesas. É ruim que o Congresso aprove indicados para a diretoria do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), que é uma entidade privada.