RIO — O setor de serviços, motor do PIB brasileiro, ainda não dá sinais de recuperação da atividade econômica. Após o tombo histórico de 11,9% em abril, o setor amargou retração de 0,9% em maio, divulgou o IBGE nesta sexta-feira. Foi o quarto mês consecutivo de queda.
O setor - o mais afetado pelas medidas necessarias de isolamento social - viu o aprofundamento da crise econômica em maio, ao contrário do comércio e da indústria, que já esboçam uma lenta recuperação. O resultado surpreendeu negativamente os analistas do mercado, cuja alta esperada era de 5,2%, segundo a Reuters.
Os números indicam que o setor ainda segue muito abaixo do nível pré-pandemia . Em maio, o volume de serviços encontrava-se 20% inferior ao patamar de vendas de fevereiro, antes da chegada da Covid-19 no país. Na comparação com o mesmo período do ano passado, as vendas despencaram 19,5%, o pior resultado da história.
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Economistas afirmam que os efeitos da crise provocada pelo fechamento dos estabelecimentos foi agravado por serviços prestados às empresas e às indústrias, num forte indício de que a flexibilização na abertura de bares e restaurantes pode não ser suficiente para recuperar o setor. Somente este ano a queda acumulada chega a 7,6%.
Para analistas, o setor será o último a se recuperar por conta das características próprias e de uma crise que começou antes mesmo do dia 26 de fevereiro, quando o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado no país.
Além do turismo reduzido , estabelecimentos estão operando com horário e capacidade reduzida. Os serviços prestados às famílias acumulam perda de 57% desde o início da pandemia.
— É um padrão que temos visto em outros países, na China a recuperação em serviços tem sido mais lenta do que no setor industrial — afirma Júlia Gottlieb, economista do Itaú — É razoável imaginar que, à medida que o isolamento vá diminuindo, o setor volte a apresentar uma recuperação. Isso reforça que a recuperação não será homogênea entre os setores.
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Em maio, grupamentos como atividades de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio e daqueles prestados às famílias esboçaram uma melhora na comparação com abril, ainda distante de recuperar as perdas. No entanto, a queda no setor de serviços de informação e comunicação pesou no resultado final.
— Antes, havíamos sentido o impacto da crise principalmente nos serviços prestados às famílias, agora os serviços prestados por empresas para outras empresas começam a sentir efeitos importantes — ressalta Rodrigo Lobo, gerente do IBGE.
Na comparação com o mesmo período do ano passado, todas as cinco atividades fecharam o mês em queda.
Para Rodolpho Tobler, economista da FGV/Ibre, mesmo com os dados negativos de maio, o pior momento da economia já passou.
No entanto, ele afirma que o resultado de serviços não muda a projeção de retraçao no segundo trimestre, quando a expectativa de queda é de dois dígitos, mas liga um sinal amarelo após uma série de indicadores positivos darem um tom otimista para um menor tombo.Segundo o Boletim Focus, do Banco Central, a mediana das projeções do mercado é de -12,9%.
Nesta semana, o IBGE divulgou que a indústria avançou 7% e o comércio 13,9% , na comparação com abril. Dados preliminares de Junho também indicam uma melhora da atividade .
— Joga um banho de água fria na redução do pessimismo com resultados da indústria e comércio, de tendência de uma retomada menos negativa — ressalta Rodolpho Tobler, economista da FGV/Ibre.
Na avaliação do economista, os efeitos poderão ser sentidos no emprego. O setor de serviços é o principal empregador do país.
Além disso, a retomada sustentável da economia vai depender do controle da pandemia, diante da possibilidade de novo fechamento das atividades e da segurança do consumidor diante do cenário de risco de saúde
— O setor de serviços emprega bastante, e enquanto estiver devagar, é difícil imaginar uma recuperação da ocupação.