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Economia

Socorro a estados reduz exigência de privatização de estatais como contrapartida

Especialistas apontam perda no projeto aprovado, que abre espaço para que governadores vendam só parte das empresas. Venda da Cedae não muda
Socorro a estados reduz exigência de privatização de estatais como contrapartida Foto: Michel Jesus / Câmara dos Deputados
Socorro a estados reduz exigência de privatização de estatais como contrapartida Foto: Michel Jesus / Câmara dos Deputados

RIO — O projeto de alívio fiscal aos estados aprovado no Congresso na última terça-feira aumenta o prazo para que eles possam se enquadrar no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) e coloquem as contas no azul sem pagar prestações da dívida com a União.

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Facilita a renegociação de dívidas, mas, ao mesmo tempo, reduz uma das principais contrapartidas exigidas para a ajuda do governo federal: a privatização de empresas públicas.

O texto aprovado permite que os governos locais façam apenas a venda parcial das empresas, sem abrir mão do controle. A justificativa é a dificuldade política de fazer avançar a venda destas companhias, mesmo as que prestam serviços básicos e enfrentam restrições de caixa que limitam sua capacidade de investir a fim de garantir a qualidade dos seus serviços.

A alternativa seria abrir o capital da estatal, vendendo parte das ações, diz o deputado Pedro Paulo (DEM-RJ), autor do projeto e futuro secretário de Fazenda da prefeitura do Rio:

— O Rio Grande do Sul tem dificuldade de privatizar o Banrisul, mas não de fazer um IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês).

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A mudança aprovada na Câmara e no Senado, porém, não muda a situação da Cedae, a companhia de saneamento do Estado do Rio, que deve ter o edital do leilão de serviços de água e esgoto apresentado nesta quinta-feira.

Para Claudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria, não vender o controle de estatais estaduais num cenério de crise financeira regional é ruim:

— Isso desvaloriza a estatal por ainda ficar ao sabor dos ventos políticas, sem garantia de uma governança que não permita usos políticos.

Para o economista, ou o estado vende a estatal inteira ou o controle ou simplesmente não vende:

— Se é para vender e ficar no controle, é melhor nem fazer.

Ele admite, no entanto, que a mudança no projeto aprovado vai ajudar estados como Rio Grande do Sul e Goiás, que estão com dificuldade de avançar com as privatizações. Até agora, só o Rio de Janeiro entrou formalmente no regime de recuperação , que dá uma trégua no pagamento da dívida com a União.

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— São estados que estão num esforço para pôr as contas em dia, mas, por causa da exigência (de privatização) não estão conseguindo ingressar (no RRF), como Rio Grande do Sul e Goiás — diz Frischtak.

Já Sergio Lazzarini, professor do Insper, diz que a gestão privada tem mais liberdade para dar eficiência às empresas públicas, como as de saneamento, mas vê a abertura de capital como um avanço:

— A privatização facilita para fazer os ajustes, evitando o uso populista, mas há outras formas de melhorar a gestão (da estatal), que é tratar como corporação, com ações negociadas em Bolsa, com presença de consultoria externa, atraindo capital privado com a sinalização de boa governança.