Uma das práticas fraudulentas da diretoria da Americanas consistia em contratos fictícios de propaganda para melhorar o resultado operacional da empresa. Eram os chamados contratos de Verba de Propaganda Cooperada (VPC).
Os contratos de VPC são assim: para reduzir custos, varejistas encomendam produtos e acertam um valor pelas mercadorias. No contrato de publicidade, acordam que os itens terão, por exemplo, uma exposição privilegiada na loja.
Se a meta de vendas é batida, a varejista obtém desconto no valor devido ao fornecedor. É uma espécie de bônus que é classificado no setor como verba de publicidade. Ela ajuda a ampliar o lucro, pois reduz o custo com a compra do produto.
Esses contratos são recorrentes, mas eram fictícios no caso da Americanas. Somaram R$ 21,7 bi. Também não foram lançados no balanço R$ 3,6 bi em juros sobre operações financeiras. Houve, assim, um incremento de R$ 25,3 bilhões no resultado
Os contratos de VPC ajudavam a maquiar o valor de empréstimos que eram feitos a fornecedores, o chamado risco sacado, que é uma espécie de triangulação envolvendo a empresa que encomendou a mercadoria, o fornecedor e bancos.
Os fornecedores precisam de recursos para produzir seus produtos. Mas uma empresa como a Americanas, por seu porte, consegue financiamento a condições melhores. Então, ela antecipa o valor ao fornecedor e pega o crédito com bancos.
As operações de risco sacado teriam que ser lançadas como dívida no balanço, mas foram lançadas em uma conta transitória de fornecedores. Para não chamar atenção, os contratos de verba de publicidade fictícios eram então utilizados
No dia 16 de novembro de 2023, após sucessivos adiamentos, a Americanas divulgou balanço financeiro. O resultado de 2021 foi revisto de lucro para perda de R$ 6,2 bilhões. Em 2022, o prejuízo alcançou R$ 12,9 bilhões, o maior da história.
Investigação da PF e do MPF trouxe mais dados além dos revelados pela investigação interna da Americanas. Ex-diretores usavam duas planilhas: uma real e uma fictícia, em que perdas viravam lucro. Isso era feito sistematicamente.
Os executivos tinham uma “sala blindada” na sede do grupo, no Rio, para discutir a fraude. Eles foram alvo de Operação da PF em 27 de junho de 2023. Foram 15 mandados de busca e apreensão. A investigação foi baseada em delação premiada.
A Investigação mostrou ainda que 11 pessoas da cúpula da Americanas venderam R$ 258 milhões em ações antes de as fraudes serem descobertas e os papéis caírem na Bolsa. Pelo crime de 'insider trading', eles podem pegar cinco anos de prisão.
O ex-CEO da Americanas Miguel Gutierrez e a ex-diretora Anna Anna Christina Saicalli chegaram a ser considerados foragidos. Ambos estavam no exterior. Gutierrez, que tem cidadania espanhola, chegou a ser preso, mas foi liberado em seguida.
Anna Christina Saicalli, que havia ido para Portugal menos de 15 dias antes da Operação da PF, voltou ao Brasil em 1º de julho e teve que entregar seu passaporte. Gutierrez também teve de entregar o documento à PF.
infográfico detalha como empresa escondeu R$ 20 bi em fraudes