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Em alta com a quarentena, Zoom enfrenta escândalos de privacidade e segurança

Empresa se desculpa por falhas e reforça ações de transparência. Apesar dos problemas, uso da plataforma de videoconferência explode nas últimas semanas
Estudante participa de aula on-line pela plataforma Zoom Foto: ALBERT GEA / REUTERS
Estudante participa de aula on-line pela plataforma Zoom Foto: ALBERT GEA / REUTERS

RIO — A política de isolamento dos que podem ficar em casa adotada por vários países para conter o avanço do novo coronavírus tornou o antes pouco conhecido Zoom familiar para muita gente. Com bilhões de pessoas isoladas em suas casas, o aplicativo criado em 2013 como uma plataforma on-line para videoconferências ganhou novos usos, que vão de reuniões entre amigos e familiares a festas de aniversário e bares virtuais. Sob os holofotes do sucesso, a empresa agora enfrenta escândalos de privacidade e segurança cibernética .

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O primeiro baque aconteceu na semana passada, após o site Motherboard publicar uma análise do aplicativo para o sistema operacional iOS. De acordo com a publicação, após fazer o download e abrir o programinha, o “Zoom se conecta à Graph API do Facebook”, a porta de entrada e saída de dados da rede social.

“O que a companhia e sua política de privacidade não deixam claro é que a versão iOS do aplicativo Zoom está enviando alguns dados para o Facebook, mesmo quando os usuários do Zoom não têm uma conta na rede social”, dizia a reportagem.

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Após a repercussão negativa, a companhia atualizou o aplicativo, removendo o SDK — Software Development Kit — do Facebook, que o conectava à rede social. A empresa informou que nenhuma informação pessoal era repassada, apenas dados sobre o aparelho, como versão do sistema operacional, horário, operadora, modelo do dispositivo, tamanho da tela, poder de processamento e espaço de armazenamento.

Em comunicado assinado pelo seu diretor legal, Aparna Bawa, o Zoom enfatizou que “não vende dados de usuários” e que “nunca vendeu dados de usuários no passado e não tem intenção de fazê-lo no futuro”. E que “não monitora as conversas e seus conteúdos” e cumpre com todas as legislações sobre privacidade, incluindo o GDPR (Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados da União Europeia) e a CCPA (Lei de Privacidade do Consumidor da Califórnia).

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Por causa dos escândalos, um processo foi aberto contra a companhia numa corte federal americana, em San Jose, na Califórnia, pedindo investigação para checar se a plataforma cumpre os requisitos legais no estado.

Desculpa por definição de criptografia

Mas o inferno astral do Zoom não terminou por aí. Uma análise do “The Intercept” revelou que as comunicações por vídeo na plataforma não são criptografadas de ponta a ponta, como seu site e seu white paper de segurança proclamavam. Isso não significa que as comunicações não são seguras. A empresa usa o TLS, padrão dos navegadores, usado em muitos outros sites e aplicativos.

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Esse tipo de criptografia protege o tráfego entre o terminal do usuário e o servidor da companhias, mas não entre dois terminais de usuários, como define a criptografia ponta a ponta, usada em plataformas como o WhatsApp e o Signal.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira, a empresa se desculpou “pela confusão que causamos por sugerir incorretamente que as reuniões no Zoom eram capazes de usar a criptografia de ponta a ponta”.

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“O Zoom sempre se esforçou para usar a criptografia para proteger conteúdos no maior número possível de cenários e, nesse espírito, usamos o termo criptografia de ponta a ponta”, reconheceu a companhia. “Embora nunca tivéssemos a intenção de enganar nossos clientes, reconhecemos que existe uma discrepância entre a definição amplamente aceita de criptografia ponta a ponta de como nós a estávamos utilizando”.

Não bastassem os escândalos de privacidade, começaram a surgir denúncias de vulnerabilidades na segurança. O engenheiro de software Felix Seele descobriu que o arquivo de instalação para computadores Mac usava uma técnica popular entre criadores de malwares para burlar restrições impostas pelo sistema operacional. O problema já foi corrigido.

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Esses problemas fizeram com que o FBI emitisse um alerta a seus agentes para tomarem cuidado ao usarem a plataforma. Segundo a agência de investigação americana, estão acontecendo casos de invasões em teleconferências, que foram apelidadas como “Zoombombing”. Por isso, os funcionários devem adotar medidas de precaução, como não compartilhar o link de reuniões de maneira pública e exigir senhas para participação.

Elon Musk proíbe aplicativo

Já a SpaceX, do bilionário Elon Musk, proibiu que seus funcionários façam uso da plataforma para conferências e reuniões. “Por favor, usem e-mail, mensagens de texto ou telefone como maios alternativos de comunicação”, dizia comunicado interno enviado a funcionários no último dia 28, revelado nesta quarta-feira pela agência Reuters.

Com o bombardeio de denúncias, o diretor executivo do Zoom, Eric Yuan, divulgou um comunicado aos usuários se desculpando pelas falhas:

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“Nós nos esforçamos para fornecer um serviço ininterrupto e a mesma experiência que fez do Zoom a plataforma de videoconferência preferida para empresas em todo o mundo, além de garantir segurança e privacidade”, afirmou. “No entanto, reconhecemos que não atingimos as expectativas de privacidade e segurança dos usuários — e as nossas próprias —. Por isso, sinto muito”.

Apesar dos problemas, o uso da plataforma explodiu nas últimas semanas. Segundo Yuan, mais de 90 mil escolas em 20 países adotaram o Zoom para ferramentas para o ensino a distância. No fim de dezembro do ano passado, o número máximo de participantes diários em conferências foi de 10 milhões. Em março, esse número aumentou para 200 milhões.

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Com capital aberto desde abril do ano passado, a empresa viu suas ações dispararem com a pandemia, nadando contra a corrente de desastre nas bolsas de valores. Desde a oferta pública inicial, os papéis se valorizaram em 96,92%, sendo que neste ano a alta acumulada é de 79,44%, apesar da queda de 13,5% nos últimos cinco dias.

“Durante este período de isolamento, nós no Zoom nos sentimos incrivelmente privilegiados por estarmos na posição de ajudar as pessoas a se manterem conectadas”, disse Yuan.