Por que Elon Musk assumiu a dianteira da corrida espacial dos bilionários?
Enquanto Branson e Bezos 'beliscaram o espaço', o fundador da Space X levou turistas à órbita da Terra pela 1ª vez. Desafio, agora, será o retorno ao planeta
Carolina Nalin
16/09/2021 - 13:02
/ Atualizado em 17/09/2021 - 07:14
RIO - O sucesso do
lançamento da missão 'Inspiration4'
, que levou quatro turistas à orbita da Terra, confirma o que especialistas do setor já davam como certo: a Space X, empresa do bilionário Elon Musk lidera a corrida espacial na disputa com a Blue Origin, de Jeff Bezos, e a Virgin Galactic, de Richard Branson.
As
viagens de Bezos
e
Branson
tiveram alcance suborbital. Isso significa que os dois bilionários puderam experimentar por poucos minutos a gravidade zero. Já o voo da empresa de Musk entrou em órbita terrestre.
Lançada na noite desta quarta-feira, a missão 'Inspiration4' atingiu 585 quilômetros de altitude - dez a mais do que o projetado pela empresa e um recorde para a cápsula -, ficando bem mais distante da Terra que a Estação Espacial Internacional (ISS), a aproximadamente 408km de altitude.
Para o astrofísico do Centro Universitário FEI, Cássio Barbosa, a dianteira na disputa pelo turismo espacial fica evidente ao comparar os lançamentos dos três empresários.
Enquanto os voos da Virgin Galactic e da Blue Origin "beliscaram o espaço" e proporcionaram “experiências efêmeras”, o lançamento de Musk oferece uma jornada mais completa, diz:
— Temos uma missão espacial inteira nessa situação da SpaceX. Você faz o lançamento, entra em órbita e fica três dias rodando. Feito o lançamento, serão três dias de férias (para os tripulantes). Eles vão ficar lá brincando, fazendo o que planejaram fazer, vendo o espaço por meio da cúpula que foi instalada. Mas depois disso é so tensão (no retorno à Terra) — diz Barbosa.
Por isso, os especialistas dizem que o voo da Space-X é mais arriscado e ambicioso.
Na avaliação do professor, os próximos dias serão de atenção à trajetória da cápsula Crew Dragon, principalmente durante o seu processo de retorno à Terra. Isso porque há uma série de riscos, inerentes à exploração espacial.
— Essa é a preocupação maior, de fato. A reentrada é realmente de risco, é intensa. Tem que desacelerar de 27.500km por hora para algo menor que 100 km por hora e, quando abrir o paraquedas, a velocidade vai reduzir para 10km por hora ou menos. O atrito com a atmosfera, a turbulência gerada e o calor colocam algum risco nessa missão.
O voo de Branson atingiu altura máxima de 86 quilômetros acima do nível do mar, mais que os 80 quilômetros considerados nos EUA como a fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço sideral.
Fronteira do espaço
No entanto, a Federação Internacional de Aeronáutica (FIA) estabeleceu esse limite em 100 quilômetros de altura.
Já o voo de Bezos, segundo a Blue Origin, superou esse limite: atingiu 107 quilômetros de altura.
O ponto de 100k de altitude é chamado de
Linha de Kármán
, uma referência ao engenheiro aeroespacial húngaro-americano Theodore von Kármán, que se dedicou a estudar o tamanho da atmosfera nos anos 1950.
Apesar de alimentar a disputa comercial entre as duas empresas, não há uma convenção internacional sobre isso. A atmosfera vai ficando rarefeita quanto mais longe do nível do mar.
Como não é possível precisar onde ela termina, a agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa, arbitraram essa fronteira em 80 quilômetros. Mas a aeronáutica internacional, adotada pela maioria dos países, manteve os cem quilômetros de altura.
Meios de transporte diferentes
Além da altura alcançada nos voos dos três bilionários, há outras diferenças. Uma delas é o meio de transporte utilizado. Os quatro tripulantes do 'Inspiration4' estão a bordo da cápsula New Dragon Resilience, que fica acoplada ao foguete reutilizável Falcon 9, da empresa de Elon Musk.
O tamanho do foguete dá a dimensão da missão: 70 metros de altura
Jeff Bezos foi ao espaço a bordo de uma cápsula impulsionada por um foguete, a New Shepard, desenvolvida pela Blue Origin, com apenas 18,3 metros.
Já Richard Branson voou a bordo do WhiteKnightTwo, um avião não convencional, que foi batizado de VSS Unity e desenvolvido pela Virgin Galactic. A aeronave também tem 18 metros.
A cápsula e o foguete que levaram Bezos e mais três tripulantes foram lançados a partir de uma base no meio de um deserto no Texas, enquanto que a VSS Unity foi lançada de uma pista de um astroaeroporto construído pela própria Virgin Galactic.
Já o foguete da SpacX delocou do Kennedy Space Center, de onde também partiram lançamentos históricos como os das missões do programa Apollo e dos ônibus espaciais da Nasa.
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O objetivo das missões também é bem diferente. O Inspiration4 tem um objetivo filantrópico. Ba bagagem do foguete da SpaceX embarcaram um ukelele, uma cerveja e até capa da revista americana Time que serão leiloados para ajudar um hospital de câncer.
Quem custeou o voo foi um dos tripulantes, o bilionário Jared Isaacman, de 38 anos, empresário e piloto de avião, apaixonado pelo espaço. Os quatro tripulantes da viagem serão submetidos a uma série de testes que vão ajudar a ciência a entender como funcioda o corpo humano em ambiente de gravidade zero.
Os voos de Bezos e Branson não previam qualquer tipo de doação a instituições. Branson, aliás, quer vender passagens nos próximos voos ao espaço que sua empresa fizer. Já há fila para pular a bordo de sua aeronave.