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Por que Elon Musk assumiu a dianteira da corrida espacial dos bilionários?

Enquanto Branson e Bezos 'beliscaram o espaço', o fundador da Space X levou turistas à órbita da Terra pela 1ª vez. Desafio, agora, será o retorno ao planeta
Os bilionários Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson disputam uma corrida espacial Foto: Arte
Os bilionários Elon Musk, Jeff Bezos e Richard Branson disputam uma corrida espacial Foto: Arte

RIO - O sucesso do lançamento da missão 'Inspiration4' , que levou quatro turistas à orbita da Terra, confirma o que especialistas do setor já davam como certo: a Space X, empresa do bilionário Elon Musk lidera a corrida espacial na disputa com a Blue Origin, de Jeff Bezos, e a Virgin Galactic, de Richard Branson.

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As viagens de Bezos e Branson tiveram alcance suborbital. Isso significa que os dois bilionários puderam experimentar por poucos minutos a gravidade zero. Já o voo da empresa de Musk entrou em órbita terrestre.

SpaceX divulgou vídeo de 14 segundos com visão da cúpula da Crew Dragon, uma vista inspiradora da Terra a partir do espaço Foto: SpaceX
SpaceX divulgou vídeo de 14 segundos com visão da cúpula da Crew Dragon, uma vista inspiradora da Terra a partir do espaço Foto: SpaceX

Lançada na noite desta quarta-feira, a missão 'Inspiration4' atingiu 585 quilômetros de altitude - dez a mais do que o projetado pela empresa e um recorde para a cápsula -, ficando bem mais distante da Terra que a Estação Espacial Internacional (ISS), a aproximadamente 408km de altitude.

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Para o astrofísico do Centro Universitário FEI, Cássio Barbosa, a dianteira na disputa pelo turismo espacial fica evidente ao comparar os lançamentos dos três empresários.

Enquanto os voos da Virgin Galactic e da Blue Origin "beliscaram o espaço" e proporcionaram “experiências efêmeras”, o lançamento de Musk oferece uma jornada mais completa, diz:

— Temos uma missão espacial inteira nessa situação da SpaceX. Você faz o lançamento, entra em órbita e fica três dias rodando. Feito o lançamento, serão três dias de férias (para os tripulantes). Eles vão ficar lá brincando, fazendo o que planejaram fazer, vendo o espaço por meio da cúpula que foi instalada. Mas depois disso é so tensão (no retorno à Terra) — diz Barbosa.

Por isso, os especialistas dizem que  o voo da Space-X é mais arriscado e ambicioso.

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Retorno à Terra inclui riscos

Na avaliação do professor, os próximos dias serão de atenção à trajetória da cápsula Crew Dragon, principalmente durante o seu processo de retorno à Terra.  Isso porque há uma série de riscos, inerentes à exploração espacial.

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— Essa é a preocupação maior, de fato. A reentrada é realmente de risco, é intensa. Tem que desacelerar de 27.500km por hora para algo menor que 100 km por hora e, quando abrir o paraquedas, a velocidade vai reduzir para 10km por hora ou menos. O atrito com a atmosfera, a turbulência gerada e o calor colocam algum risco nessa missão.

O voo de Branson atingiu altura máxima de 86 quilômetros acima do nível do mar, mais que os 80 quilômetros considerados nos EUA como a fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço sideral.

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Fronteira do espaço

No entanto, a Federação Internacional de Aeronáutica (FIA) estabeleceu esse limite em 100 quilômetros de altura.

Já o voo de Bezos, segundo a Blue Origin, superou esse limite: atingiu 107 quilômetros de altura.

O ponto de 100k de altitude é chamado de Linha de Kármán , uma referência ao engenheiro aeroespacial húngaro-americano Theodore von Kármán, que se dedicou a estudar o tamanho da atmosfera nos anos 1950.

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Apesar de alimentar a disputa comercial entre as duas empresas, não há uma convenção internacional sobre isso. A atmosfera vai ficando rarefeita quanto mais longe do nível do mar.

Como não é possível precisar onde ela termina, a agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa, arbitraram essa fronteira em 80 quilômetros. Mas a aeronáutica internacional, adotada pela maioria dos países, manteve os cem quilômetros de altura.

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Meios de transporte diferentes

Além da altura alcançada nos voos dos três bilionários, há outras diferenças. Uma delas é o meio de transporte utilizado. Os quatro tripulantes do 'Inspiration4' estão a bordo da cápsula New Dragon Resilience, que fica acoplada ao foguete reutilizável Falcon 9, da empresa de Elon Musk.

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Jeff Bezos foi ao espaço a bordo de uma cápsula impulsionada por um foguete, a New Shepard, desenvolvida pela Blue Origin, com apenas 18,3 metros.

Já Richard Branson voou a bordo do WhiteKnightTwo, um avião não convencional, que foi batizado de VSS Unity e desenvolvido pela Virgin Galactic. A aeronave também tem 18 metros.

A cápsula e o foguete que levaram Bezos e mais três tripulantes foram lançados a partir de uma base no meio de um deserto no Texas, enquanto que a VSS Unity foi lançada de uma pista de um astroaeroporto construído pela própria Virgin Galactic.

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Já o foguete da SpacX delocou do Kennedy Space Center, de onde também partiram lançamentos históricos como os das missões do programa Apollo e dos ônibus espaciais da Nasa.

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O objetivo das missões também é bem diferente. O Inspiration4 tem um objetivo filantrópico. Ba bagagem do foguete da SpaceX embarcaram um ukelele, uma cerveja e até capa da revista americana Time que serão leiloados para ajudar um hospital de câncer.

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Quem custeou o voo foi um dos tripulantes, o bilionário Jared Isaacman, de 38 anos, empresário e piloto de avião, apaixonado pelo espaço. Os quatro tripulantes da viagem serão submetidos a uma série de testes que vão ajudar a ciência a entender como funcioda o corpo humano em ambiente de gravidade zero.

Os voos de Bezos e Branson não previam qualquer tipo de doação a instituições. Branson, aliás, quer vender passagens nos próximos voos ao espaço que sua empresa fizer. Já há fila para pular a bordo de sua aeronave.