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5G: Com sinal turbinado no celular, consumidor usará cada vez mais dinheiro digital

Adesão dos brasileiros às transações financeiras eletrônicas é alta e deve crescer com as facilidades introduzidas pelo 5G
Carteira virtual. Celular é usado para completar uma transação eletrônica em loja por meio do sistema de pagamentos da Apple no iPhone: melhor conexão do 5G deve reduzir ainda mais o uso de dinheiro vivo
Foto: Milan Jaros/Bloomberg
Carteira virtual. Celular é usado para completar uma transação eletrônica em loja por meio do sistema de pagamentos da Apple no iPhone: melhor conexão do 5G deve reduzir ainda mais o uso de dinheiro vivo Foto: Milan Jaros/Bloomberg

RIO — Um carro que contrata um seguro temporário enquanto você dirige por uma área de risco, paga o pedágio, o estacionamento e até o hambúrguer na fila do drive-thru; uma geladeira que faz compras com o seu cartão quando a comida está acabando; um relógio — ou smartwatch — que encomenda e paga o seu almoço caso sua reunião no trabalho se estenda.

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O 5G e o avanço da Internet das Coisas prometem tornar isso tudo realidade em pouco tempo, levando o sistema financeiro e o comércio eletrônico a ganhar eficiência e oferecer produtos cada vez mais personalizados.

Segundo a pesquisa Global Digital Banking Index 2021, da Accenture e do banco móvel N26, o Brasil tem o segundo maior contingente de clientes de bancos digitais do mundo, atrás apenas dos EUA. Cresceu 73% entre 2018 e 2020. Essa alta adesão dos brasileiros a transações financeiras eletrônicas tende a aumentar ainda mais com as facilidades de conexão prometidas pela nova geração de telefonia.

Mais dados, menos riscos

Para o presidente da Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), Diego Perez, do ponto de vista de crédito e investimentos, ficará mais fácil para instituições financeiras e start-ups precificarem produtos com maior acesso a dados dos usuários.

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A chegada do 5G coincide com a introdução de inovações do Banco Central como o sistema de pagamentos instantâneos Pix e o Open Banking, que compartilha informações de consumidores entre várias instituições.

Para Perez, o 5G vai permitir que todos os dispositivos conectados façam transações financeiras, muitas vezes automatizadas.

Luiz Fabbrine, líder da área financeira da consultoria Bip, também acredita que, com menor tempo de reposta no processamento de transações como Pix ou pagamentos via WhatsApp, o uso de carteiras digitais será potencializado, reduzindo a circulação de dinheiro vivo.

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Novos serviços e produtos financeiros tendem a aparecer nos aplicativos, com o uso de mídias, inteligência artificial, realidade virtual e aumentada em experiências de consumo on-line ou presenciais.

— A maior velocidade e segurança da rede 5G para captura, armazenamento e processamento de dados em nuvem dará às instituições maior agilidade na personalização de ofertas customizadas de produtos, empréstimos ou investimentos, de forma pró-ativa. O uso de dados obtidos pelo Open Banking será beneficiado com maior capacidade dos sistemas de processar um alto volume de dados e analisar o comportamento do cliente em tempo real — diz Fabbrine.

Teste em agências em SP

Em junho deste ano, o Itaú se tornou o primeiro banco do país a ter uma agência física operando com 5G, por meio de uma licença experimental da Anatel. Três meses depois, uma segunda foi integrada ao projeto.

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Ambas localizadas em São Paulo, as agências experimentaram vantagens na interação com os clientes, conta Fabio Napoli, diretor de Tecnologia do Itaú Unibanco:

— Vemos essa tecnologia não apenas com foco nos canais digitais, mas também como oportunidade para a criação de novas experiências presenciais. Para isso, precisamos de uma comunicação com alta disponibilidade, banda disponível para suportar aplicações baseadas em transmissões de vídeo e baixo tempo de resposta para prospectarmos cenários de uso de interação a distância com aplicações de realidade virtual, por exemplo.

Nativo digital, o C6 Bank já desenvolveu seus produtos financeiros para a integração a ecossistemas on-line.

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Com o 5G, Maxnaun Gutierrez, head de Produtos e Pessoa Física do banco digital, espera que a interação dos clientes com assessores de investimentos para a oferta de produtos financeiros complexos seja mais fácil e que se aprofunde a tendência de meios de pagamento cada vez mais “invisíveis”:

— As transações on-line ganharam um grande impulso no último ano com o Pix. A dinâmica das “chaves”, com a transferência para números de celulares, e-mail ou QR Code, amplia as situações de uso e permite uma incontável quantidade de experiências. Só o micropagamento ainda não se transformou e segue sendo feito pela maquininha. As pequenas e médias empresas vão fomentar essa transição e, em cerca de três anos, é muito factível que tenhamos apenas um resíduo do uso do papel-moeda. O brasileiro já é digital.Ele só não estava digital no mercado financeiro.

Leandro Marçal, diretor de tecnologia do banco Pan, espera que o novo padrão tecnológico favoreça o acesso à educação financeira e jornadas personalizadas, promovendo tomadas de decisões mais conscientes do brasileiro em relação ao dinheiro:

— Somos fortes em produção de conteúdo sobre educação financeira e tendências. Hoje, toda a publicação acontece em plataformas distintas. Com o 5G, poderemos incluir todas essas informações, inclusive em vídeo, no aplicativo sem gerar queda na navegação dos clientes. É realmente um ganho positivo para a inclusão financeira com responsabilidade.

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Passo lento no e-commerce

Enquanto os bancos já estão a todo vapor na integração com o 5G, os sites de e-commerce ainda caminham em marcha lenta.

Segundo Fernando Moulin, especialista em negócios e transformação digital e  sócio da Sponsorb, a maior parte dos e-commerces está iniciando sua preparação para esta nova realidade.

As principais iniciativas são testes de soluções para e-commerce suportadas por tecnologias de realidade virtual ou realidade aumentada.

— Os aplicativos e sites ainda não estão sequer preparados para as altíssimas velocidades de resposta aos cliques e de carregamento das páginas, e de velocidades de download e upload de arquivos que o 5G permitirá. Haverá a necessidade de alguns meses ou anos para que o 5G seja massivamente adotado — conta.

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Após a adaptação, porém, o especialista entende que a maior conectividade pode diminuir dificuldades técnicas de carregamento ou entendimento da navegação nos sites e apps, substituindo o excesso de textos descritivos ou a falta de detalhes sobre os produtos vendidos por vídeos e imagens de alta definição.

Ou ainda integrando as redes sociais e sites com experiências virtuais engajadoras que complementem a jornada do usuário do e-commerce e aumentem a conversão em vendas.

Um outro lado a ser observado, de acordo com o presidente da ABFintechs, Diego Perez, é a automatização de processos, com maior número de operações machine to machine , aquelas em que as máquinas conversam e fazem transações entre si.

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— A mudança pode trazer maior eficiência para a cadeia de distribuição de produtos. Um terminal disponível no metrô ou na rodoviária, que disponibiliza água e refrigerante, vai estar conectado à internet e manusear o estoque de forma automatizada. Se o guaraná estiver acabando, o próprio equipamento pode fazer uma ordem de compra, orientando o reabastecimento mais rápido — exemplifica.

— Somos fortes em produção de conteúdo sobre educação financeira e tendências. Hoje, toda a publicação acontece em plataformas distintas. Com o 5G, poderemos incluir todas as informações, inclusive em vídeo, no aplicativo sem gerar queda na navegação.