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5G: Multiplicação de antenas vai conectar paisagem urbana e gerar dados para ‘cidades inteligentes’

Integração a partir da nova tecnologia favorece ganhos coletivos com a melhoria de serviços públicos a partir de dados
Centro de Operações da Prefeitura do Rio: Plano Nacional de Internet das Coisas indica três setores principais que podem ser impactados nas cidades: mobilidade, segurança e gestão da infraestrutura urbana Foto: Luiza Moraes/Agência O Globo
Centro de Operações da Prefeitura do Rio: Plano Nacional de Internet das Coisas indica três setores principais que podem ser impactados nas cidades: mobilidade, segurança e gestão da infraestrutura urbana Foto: Luiza Moraes/Agência O Globo

RIO — Se o 5G tem tudo para incrementar experiências pessoais na internet, as grandes cidades são o território onde a nova tecnologia pode agregar mais ganhos coletivos. A ideia de “cidades inteligentes” não é nova, mas a realidade futurista de uma paisagem urbana ultraconectada nunca esteve tão próxima, dizem especialistas.

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O pesquisador Marcelo Zuffo, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), destaca dois avanços fundamentais trazidos pelo 5G nesse sentido: o aumento exponencial da velocidade de conexão e, mais importante, a possibilidade de múltiplos dispositivos conectados em uma mesma rede. É a chamada Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês).

— A internet inicialmente foi concebida para conectar pessoas por meio de computadores. Agora, teremos a capacidade de conectar máquinas com máquinas — diz Zuffo.

O pesquisador destaca que o Plano Nacional de Internet das Coisas indica três setores principais que podem ser impactados nas cidades: mobilidade, segurança e gestão da infraestrutura urbana. Mas, para concretizar esse potencial, é preciso superar obstáculos, como o alto custo dos investimentos necessários, diz ele:

— Infelizmente, este não é o momento mais adequado para a nossa economia, inclusive pela questão cambial, que encarece os equipamentos que precisamos importar.

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Entrave para antenas

Outro entrave é o uso do espaço urbano para instalação de antenas de telefonia — o 5G demanda cinco vezes mais que a rede atual —, responsabilidade dos municípios. A Gove, uma start-up que atua com uma plataforma inteligente de suporte à gestão municipal, ajuda prefeituras a tirar do papel planos de transformação digital em seis frentes. A primeira é justamente a criação de condições legais para atividades inovadoras.

A start-up está realizando uma pesquisa com prefeituras de todo o país para a elaboração do primeiro Diagnóstico de Transformação Digital Municipal.

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Os resultados só serão divulgados a partir do próximo ano, mas Rodolfo Fiori, cofundador da Gove, adianta que, entre os municípios que já responderam, a maioria ainda se situa no nível “incipiente”, o primeiro degrau de uma escada de quatro patamares. Para ele, o principal ganho para as cidades com 5G e Internet das Coisas é a possibilidade de ampliar muito a coleta de dados:

— Quanto mais informações, mais elementos o gestor público tem para tomar as melhores decisões. Hoje, as prefeituras, de modo geral, não estão preparadas para tomar decisões baseadas em dados.

O uso de sensores para a transmissão de informações em tempo real tem sido uma das apostas da Siemens, que tem uma unidade voltada especificamente para soluções de infraestrutura inteligente e desenvolve projetos para diferentes segmentos que podem ser impactados pelo 5G, como eficiência energética, mobilidade urbana e saneamento.

— Existe uma ideia de revolução gigantesca nas cidades, com carros autônomos e outras aplicações, mas o Brasil tem suas próprias dores e especificidades. São outras as urgências em que o 5G pode fazer diferença, como o sensoriamento em áreas da cidade: a rede elétrica, o sistema de transportes, entre outros — diz Sergio Jacobsen, vice-presidente da área de Smart Infrastructure da Siemens.

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Contrapartidas sociais

Jacobsen acredita que o grande desafio do 5G brasileiro será a extensão da tecnologia para além das grandes cidades. Por isso, considera uma grande conquista da regulação a possibilidade de outorga para redes privadas, com a liberação de uma frequência para empresas poderem explorar o 5G em suas regiões.

Marcelo Zuffo, da USP, lembra que as próprias prefeituras podem criar políticas de universalização, como estabelecer contrapartidas de cobertura em áreas periféricas para empresas interessadas em implantar uma rede em regiões de alta renda:

— O sucesso de uma cidade inteligente é a interação entre o público e o privado. Da coleta de lixo aos veículos autônomos, cada ator tem suas prioridades, conjugadas para criar bem-estar para as populações.

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O prefeito de Curitiba, Rafael Greca, vice-presidente de Cidades Inteligentes da Frente Nacional de Prefeitos (FNP), acredita que, com o 5G, os municípios poderão melhorar significativamente a prestação de serviços. Para isso, diz ele, os gestores precisarão explorar bem as oportunidades que o avanço das redes proporciona:

— Do ponto de vista do poder público, a inovação só vale quando se transforma num processo social, em benefícios concretos para as pessoas.

Há dois anos, Curitiba vem simplificando o licenciamento de antenas e torres. Agora, a capital paranaense acaba de vencer o Latam Smart City Awards 2021, o mais importante prêmio da América Latina para cidades inteligentes.