Corrida espacial dos bilionários: Entenda o que é a Linha de Kármán, a nova fronteira entre Bezos e Branson
Marca de cem quilômetros seria a fronteira entre atmosfera e espaço, mas é um parâmetro impreciso usado pela Blue Origin para desqualificar voo da rival
O Globo
13/07/2021 - 04:30
/ Atualizado em 21/07/2021 - 14:15
RIO - Desde que o britânico Richard Branson se tornou o primeiro dos três bilionários protagonistas da
atual corrida a viajar ao espaço
, no último domingo, a empresa do fundador da Amazon, Jeff Bezos, minimizou o feito do rival.
A Blue Origin, de Bezos, usou sua conta no Twitter para apontar que “apenas 4% do mundo reconhecem um limite baixo de 80 km como o começo do espaço”.
Foi uma referência ao fato de o voo da nave da Virgin Galactic, de Branson, ter atingido a altura máxima de 86 quilômetros acima do nível do mar, mais que os 80 quilômetros considerados nos EUA como a fronteira entre a atmosfera da Terra e o espaço sideral.
No entanto, a Federação Internacional de Aeronáutica (FIA) estabeleceu esse limite em cem quilômetros de altura, marca que a empresa de Bezos promete ultrapassar no voo que levará seu fundador a bordo no próximo dia 20.
Esse ponto é chamado de Linha de Kármán, uma referência ao engenheiro aeroespacial húngaro-americano Theodore von Kármán, que se dedicou a estudar o tamanho da atmosfera nos anos 1950.
“New Shepard (o foguete de Bezos) voa acima de ambas as fronteiras. Uma das muitas vantagens de voar com a Blue Origin)”, diz o texto que alfinetou a concorrente Virgin Galactic, de Branson.
Apesar de alimentar a disputa comercial entre as duas empresas, não há uma convenção internacional sobre isso.
A atmosfera vai ficando rarefeita quanto mais longe do nível do mar. Como não é possível precisar onde ela termina, a agência espacial dos Estados Unidos, a Nasa, arbitraram essa fronteira em 80 quilômetros.
Mas a aeronáutica internacional, adotada pela maioria dos países, manteve os cem quilômetros de altura
A empresa de Bezos se apegou a essa diferença para tentar reduzir a importância do voo de Branson, impedindo que ofusque o voo do fundador da Amazon que acontecerá em poucos dias.
Mas, do ponto de vista científico, a questão não é tão relevante, já que os dois voos podem ser considerados suborbitais, ou seja, atingiram o espaço e uma condição de ausência de gravidade.
Em 2018, a própria FIA abriu um diálogo com especialistas sobre a possibilidade de baixar a linha de Kárman para 80 quilômetros, como fez a Nasa, diante de análises científicas reconhecidas como válidas nessa direção.
Ainda que os estudos tenham identificado essa fronteira entre 80 e cem quilômetros, há evidências científicas de que gases terrestres podem ser encontrados a mais de 600 quilômetros da superfície da Terra.
Neste caso, nenhum dos dois bilionários seria ainda capaz de chegar perto da chamada fronteira do espaço sideral.
Independentemente do duelo espacial, Branson não para de fazer planos e, depois do voo bem-sucedido, planela viagens espaciais ao ritmo de
um turista por dia lançado ao espaço.