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Economia Tecnologia

Ensaio para o 5G? Aparelhos conectados são amostra de como será o consumo depois do leilão

Máquina de café, escova de dentes e até tênis são apostas de objetos conectados da indústria. Marcado para novembro, certame aumenta perspectivas de lançamento de itens controlados pelo celular
On-line 24 horas. O empresário Gustavo Annecchini não fica sem celular e internet nem para dormir: usa aplicativos até para monitorar a qualidade do sono Foto: Leo Martins
On-line 24 horas. O empresário Gustavo Annecchini não fica sem celular e internet nem para dormir: usa aplicativos até para monitorar a qualidade do sono Foto: Leo Martins

RIO - Na hora de escovar os dentes, um aplicativo indica áreas na boca que precisam de mais cuidado. Com um chip no solado, o tênis de corrida se conecta ao smartphone por bluetooth e monitora o treino. Antes de chegar em casa, o celular também pode ser usado para acionar a cafeteira ou acompanhar o tempo de preparo de um alimento na fritadeira elétrica.

Cada vez mais objetos já estão conectados à internet e aos seus donos por meio de aplicativos, uma tendência que deve explodir com o 5G, a nova geração de telefonia móvel que promete velocidade de conexão bem mais rápida que o 4G e cujo leilão de licenças o governo finalmente marcou para o início de novembro . Mesmo com o atraso no edital, que só foi aprovado na sexta-feira, a indústria de bens de consumo já iniciou uma corrida para garantir espaço na gôndola do futuro.

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A busca de maior conectividade no cotidiano ganhou força com assistentes virtuais como a Alexa, da Amazon, que já é capaz de ativar 500 produtos no Brasil e mais de 100 mil itens pelo mundo, do ar-condicionado a saboneteiras que tocam música e leem notícias enquanto as mãos são lavadas. Daniel Almeida, gerente de Desenvolvimento de Negócios para a Alexa no Brasil, diz que o 5G vai incrementar muito o acervo de produtos conectáveis na indústria:

— Com aumento da escala, produtos ficam mais acessíveis e as ideias começam a aparecer. O 5G será um indutor. É natural que influencie a casa conectada. Nossa meta é aumentar esse ecossistema, que iniciou com TVs, lâmpadas e controles remotos universais.

A brasileira Multilaser lançou uma babá eletrônica integrada à sua plataforma Liv, que permite operação remota por meio de um app, e já planeja outros produtos. Silvia Tamai, diretora de Marketing da Philips Walita, prepara o lançamento de fritadeiras elétricas ligadas a um aplicativo de nutrição com dicas e receitas que também são capazes de planejar o tempo de preparação do alimento com base em dados pessoais de cada usuário.

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— O 5G terá um papel fundamental. Estamos um pouco atrasados em relação a alguns países, mas será um caminho sem volta. Todos querem produtos conectados — diz Silvia.

Inteligência artificial

A Oral-B lançou escovas elétricas que ajudam a corrigir a escovação com inteligência artificial. Coletam dados durante o uso e aprendem.

— Nosso foco é agregar mais valor à saúde bucal e, com a tecnologia, trazer mais benefícios ao consumidor — afirma Luis Siqueira, diretor de Marketing da Oral-B.

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A mesma lógica foi aplicada pela Vulcabras, que acaba de lançar a marca de tênis Under Armour com chip, que funciona como um treinador virtual.

— A tecnologia ajuda a reunir dados como o tempo em que o pé permanece no solo e a frequência da passada. Ajuda a criar novos produtos com base em informações dos consumidores — diz Rafael Santos, gerente de Marketing da marca.

O especialista em tecnologia Armando Soares diz que esses exemplos ainda são “aperitivos”, mas lembra que a indústria brasileira poderia estar bem mais à frente neste campo promissor se o 5G estivesse em estágio mais avançado:

— Com o 5G, tudo vai ser ampliado e vamos conseguir criar soluções para novas necessidades. A área de saúde é um caso de indústria em que vamos ver novas aplicações.

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O antropólogo Mario Ottos avalia que a praticidade prometida pela tecnologia — ainda que com preços mais altos — seduz cada vez mais os consumidores em busca de “sua melhor versão”, ainda que haja dúvidas sobre como as empresas usam os dados:

— Saber se estou escovando o dente certo e o quanto corri hoje gera benefícios mais relevantes do que a preocupação de como esses dados podem ser usados no futuro.

O empresário Gustavo Annecchini é o tipo de consumidor que já não consegue mais ficar sem internet. Nem quando dorme. Ele usa apps para monitorar a qualidade do sono, exercícios e a quantidade de água que ingere por dia.

— São recursos que nos ajudam a estar sempre buscando a melhor qualidade de vida. Os produtos estão cada vez mais conectados e integrados. Imagina quando ficar tudo mais rápido? — entusiasma-se Annechhini, que lidera a empresa de agenciamento artístico Oroboro Entertainment.

Consumo gera consumo

Na área de beleza, a Foreo tem um massageador de rosto que só é ativado pelo celular. Um app define a intensidade das pulsações elétricas de acordo com tipos de tratamento. Segundo Ana Chechetti, gerente da empresa no Brasil, a interface permite um levantamento mais preciso das necessidades do consumidor, o que ajuda as empresas a desenvolverem produtos e soluções cada vez mais direcionados.

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Esse ciclo é um enorme potencial na cadeia de consumo, aponta a especialista em comportamento do consumidor Maribel Suarez, professora do Coppead/UFRJ:

— Você compra um aparelho que tem conexão e permite economia de tempo, otimização e eficiência. E aí você começa a fazer outras mudanças em série, pois os produtos têm uma lógica de relação.

A Nespresso criou um app que atualiza o software das cafeteiras para que elas reconheçam cápsulas de novos sabores e ajustem a quantidade de água necessária para o preparo. Em alguns modelos, o app ainda liga e desliga.

— Quanto mais integramos máquinas com o celular, mais conseguimos ficar perto dos clientes — diz Gabriel Nobre, diretor comercial da empresa.