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Economia Tecnologia

Entenda como a corrida espacial dos bilionários já gera negócios na Terra e pode abrir novas fronteiras

Start-ups aproveitam disputa de bilionários para conseguir investimentos de alto risco, de lançamento de satélites à produção de remédios
O bilionário Jeff Bezos e seu irmão, Mark, a quem deu uma carona em seu foguete num voo histórico Foto: JOE SKIPPER / REUTERS
O bilionário Jeff Bezos e seu irmão, Mark, a quem deu uma carona em seu foguete num voo histórico Foto: JOE SKIPPER / REUTERS

RIO - O hype da nova corrida espacial vai muito além da disputa dos bilionários Jeff Bezos, Richard Branson e Elon Musk por meio de suas empresas do setor. Essa nova fase da exploração espacial protagonizada pelo setor privado ajuda a alimentar uma onda de financiamentos em start-ups que constroem a infraestrutura para tirar da imaginação dos visionários os planos para ir além dos limites da Terra.

Se a exploração espacial no século XX estava limitada aos orçamentos governamentais com fins geopolíticos, na atual corrida estelar estão em jogo a perspectiva de muitos lucros . É o que tem feito crescer os investimentos privados nessa área, bem como a queda dos custos.

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A tecnologia relacionada ao espaço já movimenta US$ 200 bilhões e abrange empresas que criam produtos e serviços para uso na Terra, em órbita ou para missões futuras de exploração espacial e de colonização da Lua ou de Marte.

O investimento típico de capital de risco nessas empresas atingiu recorde de US$ 5,5 bilhões em 2020, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado PitchBook.  E o setor está a caminho de superar essa marca, com US$ 3,6 bilhões arrecadados em 94 negócios nos primeiros seis meses deste ano.

Viagem da Blue Origin durou 10 minutos e 18 segundos. No voo, o bilionário Jeff Bezos levou o irmão Mark, a pioneira espacial Wally Funk, de 82 anos, e Oliver Daemen, de 18 anos
Viagem da Blue Origin durou 10 minutos e 18 segundos. No voo, o bilionário Jeff Bezos levou o irmão Mark, a pioneira espacial Wally Funk, de 82 anos, e Oliver Daemen, de 18 anos

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Na semana passada, Branson completou um voo teste suborbital a bordo do VSS Unity da Virgin Galactic Holdings. Nesta semana, Bezos fez sua própria jornada em um foguete feito por sua empresa Blue Origin.

O marketing em volta das façanhas chama ainda mais atenção para o setor, favorecendo a atração de capital por empresas que buscam estabelecer as bases para essa nova demanda espacial.

Impacto em diferentes setores econômicos

Ainda que as estimativas não sejam amplamente concretizadas, a corrida de turismo espacial é apenas uma peça deste conjunto maior e mais transformador da economia espacial. Os resultados são imprevisíveis, mas os investimentos no setor sugerem que essa indústria estará bem nos próximos anos.

O voo de teste de Sir Richard Branson, em julho de 2021, veio nove dias antes do primeiro voo de Jeff Bezos a bordo de um foguete da Blue Origin Foto: Virgin Galactics / via Reuters
O voo de teste de Sir Richard Branson, em julho de 2021, veio nove dias antes do primeiro voo de Jeff Bezos a bordo de um foguete da Blue Origin Foto: Virgin Galactics / via Reuters

Somente a indústria do turismo espacial deve atingir US$ 3 bilhões em valor de mercado em 2030, segundo estimativa do banco de investimento suíço UBS, em relatório do ano passado. Em 2040, segundo projeções do Morgan Stanley, a indústria espacial deve faturar US$ 1,1 trilhão.

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Já há analistas prevendo estações espaciais comerciais, negócios promissores em serviços de remoção de detritos espaciais e fabricação no espaço emergindo até 2035, conforme os custos de lançamento se tornem mais baratos.

Para o engenheiro espacial Lucas Fonseca, todos os desafios tecnológicos que estão sendo vencidos pelas empresas de Musk, Branson e Bezos, ainda que em prol do entretenimento, serão utilizados para outros fins, impactando diferentes setores econômicos e da vida das pessoas.

— Temos satélites sendo colocados em órbita com preços cada vez mais baixos, e isso possibilita prover internet de maneira mais ampla para o mundo. Além disso, na área farmacêutica, a Estação Espacial Internacional, nosso laboratório permanente em órbita, tem boa parte das suas atividades internas resultando em novos fármacos para tratamento de câncer, osteoporose, H1N1 e outras doenças — explica Fonseca.

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Até o momento, a maior parte do capital tem sido historicamente canalizado para empresas focadas em tecnologia para uso na Terra, incluindo comunicações e imagens de satélite, monitoramento da Terra e análises geoespaciais

'Economia espaço-para-espaço'

No entanto, as ambições crescentes de explorar além de nosso planeta natal estão alimentando o que se espera que seja uma vibrante “economia espaço-para-espaço”, escreveu o analista do Pitchbook, Ryan Vaswani, em relatório recente.

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A Firefly Aerospace, start-up que está construindo um foguete para ir até a Lua, tem uma nave em uma plataforma da Califórnia à espera de autorização para ser lançada. A OneWeb e a SpaceX de Musk estão lançando regularmente satélites destinados a cobrir o planeta em acesso à internet de alta velocidade.

A Rocket Lab, empresa de lançamento espacial financiada pelo Vale do Silício, está planejando missões para a Lua e Vênus da sua base de lançamento na Nova Zelândia.

Mark Bezos, Jeff Bezos, Oliver Daemen e Wally Funk estão prontos para ir ao espaço Foto: Reprodução/Blue Origin
Mark Bezos, Jeff Bezos, Oliver Daemen e Wally Funk estão prontos para ir ao espaço Foto: Reprodução/Blue Origin

O novo interesse pode beneficiar empresas como a LeoLabs, que possui radares no Alasca, Texas, Nova Zelândia e Costa Rica que rastreiam objetos em órbita, de satélites a pequenos destroços, ajudando a prevenir colisões.

A start-up arrecadou US$ 65 milhões em financiamento em junho liderada pela Insight Partners e Velvet Sea Ventures.

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— A maré alta levanta todos os barcos — disse Daniel Ceperley, cofundador e CEO da LeoLabs, empresa que fornece serviços de rastreamento por radar para objetos em órbita baixa da Terra.

Segundo especialistas, o entusiasmo pelas SPACs (como são chamadas as empresas que abrem seu capital por fusão com uma sociedade de aquisição de propósito específico) tornou mais fácil o acesso das empresas espaciais ao mercado público.

Cápsula de testes da empresa Blue Origin para turismo espacial Foto: Divulgaçãp
Cápsula de testes da empresa Blue Origin para turismo espacial Foto: Divulgaçãp

A Astra Space, empresa especializada em fornecer plataformas de lançamentos especiais para operadoras de satélite de pequeno porte, fez história ao ser a primeira do ramo a abrir capital na Nasdaq, no dia primeiro de julho.

A empresa conseguiu levantar US$ 500 milhões, que devem ser usados para financiar seus futuros projetos. Atualmente, a Astra Space é avaliada em US$ 2,1 bilhões. E a companhia, que construiu um foguete orbital em poucos anos, é ambiciosa: seu objetivo é enviar satélites diariamente até 2025.

Pouco depois da Astra, a fabricante de satélites Planet Labs, que usa centenas destes equipamentos para fotografar toda a massa terrestre da Terra diariamente, também se prepara para abrir capital na Bolsa de Valores de Nova York. O negócio deverá dar à empresa um valor de mercado de US$ 2,8 bilhões.

Em parte, como resultado, o número de satélites que orbitam a Terra deve passar de cerca de 3,4 mil para algo em torno de 50 mil e 100 mil na próxima década — e isso mesmo que essas empresas apenas cumpram as metas que receberam até agora.