Economia Tecnologia

Leilão do 5G destravou R$ 40 bi em investimentos na telefonia e já começa a influenciar negócios

Teles dizem estar com boa parte de suas redes prontas para, finalmente, iniciarem a operação comercial no país
Linha de produção de placas de radio 5G na fábrica da Ericsson em São José dos Campos (SP): instalação das redes para a nova geração de telefonia gera negócios e empregos Foto: Roosevelt Cássio
Linha de produção de placas de radio 5G na fábrica da Ericsson em São José dos Campos (SP): instalação das redes para a nova geração de telefonia gera negócios e empregos Foto: Roosevelt Cássio

RIO — As principais operadoras de telecomunicações do Brasil já estão com boa parte de suas redes prontas para, finalmente, iniciarem a operação comercial do 5G puro no país. Após dois anos de expectativas e sucessivos atrasos, o sinal verde dado no leilão realizado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) no início de novembro destrava investimentos de pelo menos R$ 40 bilhões em infraestrutura de rede.

Entenda: Como a revolução na telefonia móvel vai alterar o seu cotidiano e o das empresas

O resultado do leilão também aumentou a competição, com ao menos três prestadoras na maior parte das cidades. As três maiores teles — Vivo, Claro e TIM — foram as grandes vencedoras , mas operadoras menores, como Copel e Brisanet , também arremataram licenças e vão disputar a atenção de consumidores e empresas com serviços de conexão em alta velocidade. A Winity (do Fundo Pátria), por exemplo, arrematou uma das faixas com o intuito de construir redes para alugar para as outras.

Pelas regras, as empresas de telefonia são obrigadas a começar a operação do 5G nas capitais até o início do segundo semestre de 2022. Mas, se depender do apetite delas, a nova rede pode entrar em operação ainda este ano. Isso porque TIM, Claro e Vivo já estão com parte da infraestrutura pronta.

Lucas Galitto: ‘5G pode ser a tecnologia da 4ª revolução industrial’, diz diretor da GSMA, que reúne teles globais

Ainda que de forma muito localizada, marca ponto na estratégia de marketing quem põe o bloco na rua primeiro. O início depende ainda de o governo liberar a frequência hoje ocupada pelo sinal de TVs parabólicas.

— Se autorizassem hoje, amanhã eu viraria a chave 5G em algumas cidades. Estamos incentivando muito o 5G desde o seu início com o DSS (que faz uma combinação de frequências para oferecer maior velocidade) — diz o presidente da Claro, Paulo César Teixeira.

“Se autorizassem hoje, amanhã eu viraria a chave 5G em algumas cidades”

Paulo César Teixeira
CEO da Claro

Segundo o executivo, a empresa já desenvolve uma série de aplicações para a indústria e o agronegócio. Negocia com fornecedores smartphones compatíveis com a nova tecnologia com diversas faixas de preços para seus clientes e o lançamento de aparelhos que vão permitir o uso do 5G como internet residencial.

— Estamos fomentando a indústria para acelerar a adoção de aparelhos 5G, com a chegada de celulares a partir de R$ 2 mil — diz Teixeira.

Expansão rápida

A TIM também diz estar pronta para ativar a nova rede em pouco tempo. Leonardo Capdeville, vice-presidente de Tecnologia da tele, diz que o 5G vai trazer uma nova realidade para o consumidor. E revela que a TIM investe em parcerias para desenvolver redes alternativas como forma de massificar o 5G:

— O lançamento da rede vai depender de a Anatel liberar. Estamos testando soluções com empresas da área de energia, automobilística e agronegócios. Já estamos com a engrenagem toda funcionando.

Planos: Pacotes 5G terão preços diferentes, e plano ilimitado pode deixar de existir

A Vivo investiu R$ 1,1 bilhão na compra de faixas no leilão e promete destinar muito mais à preparação de sua rede para a nova geração de telefonia.

— Anualmente, investimos cerca de R$ 8 bilhões no Brasil. Com o 5G, vamos promover, de forma acelerada, o acesso digital ao maior número de pessoas e empresas em todo o país — diz Alex Salgado, vice-presidente de B2B da Vivo.

Antena para a futura rede 5G já instalada na região portuária do Rio: teles dizem já serem capazes de iniciar novo sinal este ano em algumas áreas. No segundo semestre de 2022, todas as capitais devem estar contempladas Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo
Antena para a futura rede 5G já instalada na região portuária do Rio: teles dizem já serem capazes de iniciar novo sinal este ano em algumas áreas. No segundo semestre de 2022, todas as capitais devem estar contempladas Foto: Hermes de Paula/Agência O Globo

A intensificação de investimentos também norteia empresas regionais que arremataram frequências no leilão. A Brisanet, por exemplo, vai destinar mais de R$ 2 bilhões para levar 5G a cidades no Nordeste e no Centro-Oeste até 2030. Na Copel, será mais de R$ 1 bilhão para redes nas regiões Sul e Norte.

— Temos como meta levar internet de qualidade para os quatro cantos da Amazônia para que todos naquela região, que tem uma população de 27 milhões de habitantes, tenham uma inclusão digital de qualidade — diz Wendell Oliveira, diretor-presidente da Copel Telecom, que tem hoje atuação só no Sul do Brasil.

“Vamos promover, de forma acelerada, o acesso digital ao maior número de pessoas e empresas em todo o país”

Alex Salgado
vice-presidente de B2B da Vivo

Os investimentos das teles mobilizam os principais fabricantes de equipamentos, como a sueca Ericsson, a finlandesa Nokia (que estuda construir uma fábrica no Brasil) e a chinesa Huawei, que, apesar do intenso lobby contrário dos EUA, conseguiu aval para fornecer tecnologia 5G para a construção das redes das teles no Brasil. Porém, não poderá fornecer equipamentos para a rede privada que o governo pretende construir, sob o argumento de que se trata de estrutura sensível para a segurança nacional.

— O leilão do 5G foi construído de uma forma muito interessante, com obrigações de cobertura, e isso é muito positivo para a economia, com as operadoras indo para o interior do Brasil. Estamos em contato com todas essas empresas para ajudar na inclusão digital com 5G — diz Carlos Roseiro, diretor de Soluções Integradas da Huawei do Brasil.

Após leilão do 5G: Desafio é legislação. Só 28 cidades no país estão prontas para receber antenas

As demandas estruturais têm potencial para gerar milhares de empregos. Além da implantação de rede nos centros urbanos, o edital do leilão do 5G introduziu diversas exigências de investimentos que as teles terão que cumprir, como a construção de redes em rodovias e escolas e a cobertura de áreas sem viabilidade econômica.

Para especialistas, as regras vão ajudar a reduzir a exclusão digital no país, permitindo o acesso de quase 40 milhões de brasileiros que hoje não têm internet móvel.

R$ 391 bi em negócios

Projeções da Ericsson apontam potencial de geração de R$ 391 bilhões em negócios no país até 2030 com a maior conectividade, dos quais R$ 153 bilhões serão impulsionados diretamente pelo 5G.

— O 5G vai gerar muitos investimentos. É uma tecnologia disruptiva, que possui capacidade de conectar um número maior de dispositivos por estação (antena) em relação ao 4G atual. Isso vai permitir transformar a quinta geração em uma plataforma de desenvolvimento para a digitalização — avalia Jose Otero, vice-presidente da 5G Americas para América Latina e Caribe.