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Por Rafael Garcia — São Paulo

Passado o espanto do público com a habilidade linguística do ChatGPT, usuários estão se dando conta das limitações do célebre robô virtual conversador para lidar com diversos assuntos. Notadamente, a ferramenta criada pela empresa OpenAI se mostrou limitada em matemática e não se saiu tão bem quanto seus rivais em áreas específicas, como traduzir textos e jogar xadrez.

Comparações feitas por pesquisadores mostram que o novo sistema de inteligência artificial (IA) tem suas imperfeições e que há outras soluções de nicho tão ou mais avançadas que ele.

Especialistas afirmam que isso é esperado: o ChatGPT é excepcional em lidar com “linguagem natural”, mas está longe de ser o melhor sistema em todas as subdivisões da inteligência artificial.

Com o lançamento da ferramenta, professores de matemática ficaram preocupados com o uso abusivo por parte de estudantes para trapacear em trabalhos, mas a dificuldade do ChatGPT em fazer contas logo ficou clara.

Poucos dias após o lançamento da terceira versão do robô, o cientista da computação André Backes, da Universidade Federal de Uberlândia, fez um teste e pediu que ele resolvesse 20 questões das quatro disciplinas do Enem. O sistema acertou 13. Entre as sete erradas estavam todas as cinco de matemática que constavam da avaliação.

— Os enunciados da prova de matemática exigem um tipo diferente de raciocínio, que envolve interpretar às vezes algumas “pegadinhas” — diz o professor no vídeo que postou para demonstrar o experimento. — O ChatGPT até consegue fazer contas, mas se perde nos detalhes.

Mas não será por falta de outros recursos tecnológicos que estudantes deixarão de colar. Perguntas de matemática, física e engenharia nas quais o ChatGPT falhou podem ser respondidas pelo sistema Wolfram-Alpha, também uma plataforma com alguns serviços gratuitos, mas que não ganhou a mesma popularidade entre estudantes, apesar de existir desde 2009. Não tem interface em português e não aceita qualquer tipo de entrada em linguagem informal.

Controvérsia antiga

Para a pesquisadora Rosa Maria Vicari, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialista na relação entre IA e educação, a controvérsia não é nova:

— O ChatGPT está causando polêmicas similares às do surgimento dos editores de texto. As preocupações da época eram coisas como conhecer se os alunos sabem ou não escrever, pois o corretor corrige os seus textos. No início, o uso de editores de textos na realização de trabalhos escolares foi proibido por muitas escolas.

Ela defende que professores não devem se preocupar em proibir o uso de novas tecnologias, mas sim ensinar quando é adequado, apropriado e eficiente usá-las.

— Recentemente lançamos um documento chamado Referencial Curricular para a Inteligência Artificial no Ensino Médio, onde o ChatGPT é uma das tecnologias sugeridas para serem utilizadas pelos professores em suas aulas.

Não é só na matemática que o ChatGPT deixa a desejar ou, ao menos, perde para sistemas concorrentes. Quem já o usou para traduzir textos do inglês para o português pode ter notado que o resultado não é tão fluido e não captura expressões linguísticas tão bem quanto o Google Translate, que tem base de dados mais antiga. Justiça seja feita, o próprio robô da OpenAI reconhece isso.

“Minha habilidade para traduzir texto não é tão boa quanto a do Google Translate, que usa um conjunto de dados maior e mais diverso”, explica o robô ao ser questionado. “Ele usa uma trama de modelos para aprimorar a qualidade da tradução e esteve disponível ao público, o que o permitiu ter uma grande base de usuários fornecendo feedback para melhorias no modelo.”

Os problemas do sistema da OpenAI, porém, não o impedem de ser bem utilizado por quem compreende como ele funciona e sabe contornar suas limitações. Se na frente acadêmica e educacional seu avanço ainda enfrenta barreiras, no mundo empresarial já começou a ganhar espaço.

IA na prática

A plataforma StartSe, de suporte para inovação e empreendimentos, tem uma equipe já usando o ChatGPT para automatizar tarefas. Pagando uma quantia fixa para acesso à interface de aplicações da OpenAI, o grupo conseguiu criar 20 ferramentas para executar tarefas como ler tendências de mercado e distribuir anúncios na rede.

Segundo Junior Borneli, fundador da iniciativa, muitas dessas coisas são simples, mas o ChatGPT pode torná-las ainda mais simples e dispensar etapas como, por exemplo, fazer buscas no Google.

Junior Borneli, fundador da plataforma StartSe, de suporte para inovação e empreendimentos — Foto: Divulgação
Junior Borneli, fundador da plataforma StartSe, de suporte para inovação e empreendimentos — Foto: Divulgação

Outro sistema de inteligência artificial de tarifa paga, o IBM Watson também é capaz de fazer isso. É até mais sofisticado, mas seu uso vinha sendo restrito a grandes empresas.

— Aqui eu gastei menos de US$ 20 para fazer essas nossas 20 ferramentas — conta Borneli. — O que o ChatGPT faz é traduzir inteligência artificial em algo prático para as pessoas, usando linguagem natural, como se você estivesse conversando com uma pessoa. Não serve ainda para dar respostas corretas e prontas, porque é um algoritmo probabilístico, mas para qualquer questão ele atua como um guia, um norte, e traz uma resposta mais objetiva do que uma lista de links de busca do Google.

As limitações do ChatGPT também abrem espaço para outras empresas desenvolverem seus próprios produtos de IA, sem que esse negócio esteja ainda ameaçado por big techs, que ofertam o mesmo serviço mais barato ou de graça.

Outra plataforma de apoio a empreendedores, o Instituto Ekloos, que trabalha com projetos sociais e ambientais, investiu em IA para criar uma assistente virtual capaz de orientar iniciativas na área. Contratando a startup AI Networks, de São Paulo, a organização conseguiu colocar no ar neste ano sua robô, Kiara, que a ajudou a ter mais alcance.

O Instituto Ekloos contratou a startup AI Networks criar a robô virtual Kiara — Foto: Divulgação
O Instituto Ekloos contratou a startup AI Networks criar a robô virtual Kiara — Foto: Divulgação

— A gente vinha impactando, por ano, em torno de 250 empreendedores sociais, mas em seis meses, desde que lançamos a versão beta da Kiara, já impactamos mais de três mil empreendedores — conta Andrea Gomides, fundadora do Ekloos, que investiu cerca de R$ 300 mil no projeto.

Limitação nos nichos

Ela avalia que o tipo de conteúdo com que o instituto lida ainda não tem como ser entregue pelo ChatGPT ou similar:

— Nosso índice de resposta está em torno de 95%. Nos 5% que ficam sem resposta, nossos humanos entram em cena e respondem.

Seja por suas limitações ou por falta de foco em projetos específicos, tudo indica que não é agora que o ChatGPT e o Google vão preencher todas as lacunas das demandas de empresas e indivíduos por inteligência artificial.

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