Tecnologia
PUBLICIDADE

Por Tripp Mickle, Yiwen Lu e Mike Isaac, The New York Times — São Francisco

"Olá, Tripp", disse uma voz de mulher pelos alto-falantes de um táxi sem motorista que estava prestes a pegar uma corrida perto das coloridas casas vitorianas conhecidas como Painted Ladies, em São Francisco, na Califórnia.

"Esta experiência pode parecer futurista", dizia a voz. "Por favor, não toque no volante ou nos pedais durante a viagem. Se tiver alguma dúvida, você pode encontrar informações no aplicativo Waymo, por exemplo, como mantemos nossos carros seguros ou limpos."

Durante vários anos, as ruas montanhosas e congestionadas de São Francisco serviram de pista de testes para centenas de carros sem motorista operados pela Waymo, uma empresa de veículos autônomos de propriedade da Alphabet, empresa controladora do Google, e pela Cruise, de propriedade da General Motors.

E, desde o último dia 11, numa decisão histórica, São Francisco se tornou a primeira cidade dos EUA a liberar o uso rotineiro desses serviços de veículos autônomos, liberando viagens pagas em toda a cidade, 24 horas por dia.

Na última segunda-feira, os veículos da Waymo começaram a funcionar como 'táxis robôs' pagos, ou seja, fora do esquema de teste. Pela primeira vez, algumas pessoas puderam agendar corridas e pagar tarifas para viagens em um carro sem motorista da Waymo. A Cruise, por sua vez, já está operando um serviço pago limitado em algumas partes da cidade.

O jornal The New York Times convocou três repórteres para testar os robôs-táxis da Waymo pela cidade, que contaram como foi a experiência. Confira abaixo:

Entre Nascar e Conduzindo Miss Daisy

Eu, Tripp Mickle, comecei minha rota na Alamo Square, onde ficam as famosas casas Painted Ladies. Yiwen Lu começou seu passeio na Marina Green, ao longo da orla norte de São Francisco, e Mike Isaac deu início a seu passeio perto da histórica Basílica Mission Dolores. Nosso destino: o restaurante Beach Chalet, onde o Golden Gate Park de São Francisco encontra o Oceano Pacífico.

A Waymo está oferecendo apenas viagens limitadas para o centro da cidade de São Francisco, então tentamos reproduzir a experiência que um turista poderia ter ao passear pela cidade em um táxi robô.

As três viagens de cerca de oito quilômetros podem ser classificadas como experiências distintas. Em dois dos trajetos, o estilo foi como no filme Conduzindo Miss Daisy, ou seja, suave e tranquilo. Na terceira viagem, foi um roteiro quase igual a de uma corrida Nascar (competições esportivas de alta velocidade com carros de passeio)

Duas viagens evitaram cuidadosamente o congestionamento, e a outra teve que enfrentá-lo.

A repórter Yiwen Lu usa seu telefone para solicitar pelo aplicativo da Waymo uma corrida com o táxi robô. App é parecido e funciona como o da Uber. — Foto: Jason Henry/The New York Times
A repórter Yiwen Lu usa seu telefone para solicitar pelo aplicativo da Waymo uma corrida com o táxi robô. App é parecido e funciona como o da Uber. — Foto: Jason Henry/The New York Times

O aplicativo da Waymo, o Waymo One, é parecido e funciona exatamente como o da Uber. Os usuários inserem seu destino e recebem uma estimativa do tempo de espera por uma carona. Depois de inserir suas solicitações, a empresa despacha de sua frota, formada por 250 veículos da marca Jaguar na cor branca, que opera em toda a cidade.

Carros que custam R$ 1 milhão

Os carros são incrivelmente caros, equipados com sensores e câmeras de alta tecnologia e valem até US$ 200 mil (o equivalente a quase R$ 1 milhão).

Cada um de nós esperou de cinco a dez minutos pela chegada do carro.

A experiência da Waymo pode ser confusa para quem está começando. Quando o carro parou no meio-fio ao lado do Painted Ladies, tentei alcançar a maçaneta da porta.

Para abrir a porta, nada de maçaneta

Mas as maçanetas estavam encostadas na porta e não abriam. Eu precisava pressionar um botão de "desbloqueio" no aplicativo. Quando o fiz, as maçanetas se soltaram e eu pude entrar.

Meu trajeto foi tão tranquilo que a sensação de novidade começou a passar, transformando uma viagem ao futuro em apenas mais uma jornada pela cidade. O carro era preciso e funciona, embora sem a flexibilidade ou as interações que você teria com um motorista humano. Ele parou para os pedestres e cedeu passagem para veículos de emergência.

Assim como a minha viagem, a de Yiwen foi completamente sonolenta. O carro era extremamente preciso. Nunca excedeu o limite de velocidade, usou a seta bem antes de mudar de faixa e cedeu a vez aos pedestres nas faixas que os motoristas mais acelerados poderiam desconsiderar.

O táxi robô de Mike, entretanto, era mais agressivo. Deu início à corrida com mais aceleração do que era necessário. E ele ficou perplexo com a maneira como o carro passou veloz por várias ruas apertadas nos arredores antes de se acomodar no caminho para a praia.

Quando o meu carro se aproximou de um projeto de construção que bloqueava a faixa da direita, este reduziu a velocidade e ligou o sinal de mudança de direção para entrar na faixa da esquerda.

Momentos depois, o carro ligou o pisca-alerta em sinal de parada quando um caminhão de bombeiros se aproximou com luzes piscando. O Waymo hesitou. Uma tela sensível ao toque mostrou uma breve explicação: "Rendendo-se a um veículo de emergência". Ele esperou até que o caminhão de bombeiros passasse para acelerar no cruzamento.

Volante girando sozinho

O volante girava e girava sozinho. Fiquei imaginando o que aconteceria se eu tocasse o volante, então o agarrei quando o Waymo passou de uma pista para outra. O carro me ignorou e seguiu em frente.

Volante do carro girava sozinho e mostrava mensagens de alerta — Foto: Kelsey McClellan/The New York Times
Volante do carro girava sozinho e mostrava mensagens de alerta — Foto: Kelsey McClellan/The New York Times

A viagem de Yiwen começou com uma complicação: um acidente, não envolvendo o Waymo, próximo a um estacionamento em Marina Green. Os carros da polícia estavam bloqueando parte da estrada, então o carro em que ela viajava mudou rapidamente sua rota. Em vez de pegar a rua principal, entrou em uma rua residencial próxima e contornou o acidente.

Todos os carros responderam rapidamente à aproximação de pedestres. Meu carro esperou pacientemente nos cruzamentos e nas faixas de pedestres enquanto as pessoas passeavam com seus cachorros e andavam de bicicleta em direção ao Golden Gate Park.

Olhar irritado de pedestre

No topo de uma ladeira, o carro de Mike reconheceu um homem atravessando a rua em uma faixa de pedestres, mas continuou avançando lentamente enquanto esperava que ele chegasse ao outro lado da rua. O pedestre lançou ao carro - e também ao Mike - um olhar irritado.

Os carros oferecem mais recursos do que um Uber ou um táxi. As telas sensíveis ao toque nos assentos traseiros são equipadas com um botão para ligar a música. Há uma série de listas de reprodução para escolher, incluindo jazz, música clássica, rock e hip-hop.

Mike queria ouvir uma banda punk chamada Armed e tentou encontrar a música do grupo no aplicativo Waymo. Mas, para isso, ele precisava fazer o download de um aplicativo chamado Google Assistant e solicitar uma música específica falando no microfone do telefone. Na primeira tentativa, ele encontrou a banda errada e, na segunda, encontrou uma versão ao vivo da música solicitada.

Desvio do congestionamento

Em vez de tomar a rota mais direta para a praia por uma rua congestionada, meu Waymo atravessou o Golden Gate Park e dirigiu por uma rua menos congestionada, mas isso acrescentou alguns minutos à viagem.

O meu táxi robô andou a maior parte do caminho a uma média de 45 quilômetros por hora, 1,5 km abaixo do limite de velocidade - e ignorou a velocidade de outros motoristas. Em um determinado momento, ele ficou parado por alguns minutos atrás de um carro que estava esperando para virar à esquerda, em vez de entrar na faixa da direita para contornar o veículo.

E entrou em um estacionamento, nosso destino, seis minutos mais tarde do que o previsto inicialmente. Depois deslizou pelo estacionamento até um espaço pequeno e vazio onde o mapa na tela sensível ao toque mostrava um círculo. Depois de entrar no círculo, parou.

"Você chegou a seu destino", disse a voz de mulher. "Por favor, certifique-se de que o caminho está livre antes de sair."

Mesmo sem motorista, o cinto de segurança foi colocado no assento do táxi robô da Waymo  — Foto: Jason Henry/The New York Times
Mesmo sem motorista, o cinto de segurança foi colocado no assento do táxi robô da Waymo — Foto: Jason Henry/The New York Times

Quando saí do carro, ele foi preenchido com a música eletrônica meditativa que me recebeu no início da viagem. Mike chegou logo depois de mim.

O carro de Yiwen foi menos direto. No início da viagem, o "robô" lhe disse que haveria uma caminhada de dois minutos até o restaurante a partir do ponto de desembarque. O carro a lembrou disso ao chegar e a incentivou a usar o aplicativo para guiá-la enquanto caminhava até o Beach Chalet.

No final, as viagens foram econômicas, variando de US$ 18 a US$ 21, quase o mesmo que um Uber. Levará anos - se não décadas - para que a Waymo recupere os bilhões de dólares que investiu em seu serviço. Embora não haja motorista, cada viagem é apoiada por uma equipe em uma unidade da empresa que pode ser acionada se o carro tiver problemas.

Mas esse é um problema da Waymo. Para nós, passageiros, é fácil esquecer que ninguém está ao volante dos robôs-táxis. Só lembramos disso quando começamos a agradecer ao motorista antes de sair do carro. Uma olhada no banco dianteiro vazio lembra de que você está sozinho.

Webstories
Mais recente Próxima 'Rei das Criptomoedas': Acusado de fraude, fundador da FTX está sobrevivendo 'à base de pão e água' na cadeia, diz advogado
Mais do Globo

Supremo Tribunal Federal reservou três semanas para ouvir 85 testemunhas de defesa de cinco réus, sendo que algumas são as mesmas, como os delegados Giniton Lages e Daniel Rosa, que investigaram o caso

Caso Marielle: audiência da ação penal contra irmãos Brazão e Rivaldo Barbosa será retomada hoje pelo STF

A decisão do candidato da oposição de deixar a Venezuela por temer pela sua vida e pela da sua família ocorreu depois de ter sido processado pelo Ministério Público por cinco crimes relacionados com a sua função eleitoral

Saiba como foi a fuga de Edmundo González, candidato de oposição da Venezuela ameaçado por Nicolás Maduro

Cidade contabiliza 21 casos desde 2022; prefeitura destaca cuidados necessários

Mpox em Niterói: secretária de Saúde diz que doença está sob controle

Esteve por lá Faisal Bin Khalid, da casa real da Arábia Saudita

Um príncipe árabe se esbaldou na loja da brasileira Granado em Paris

Escolhe o que beber pela qualidade de calorias ou pelo açúcar? Compare a cerveja e o refrigerante

Qual bebida tem mais açúcar: refrigerante ou cerveja?

Ex-jogadores Stephen Gostkowski e Malcolm Butler estiveram em São Paulo no fim de semana e, em entrevista exclusiva ao GLOBO, contaram como foi o contato com os torcedores do país

Lendas dos Patriots se surpreendem com carinho dos brasileiros pela NFL: 'Falamos a língua do futebol americano'

Karen Dunn tem treinado candidatos democratas à Presidência desde 2008, e seus métodos foram descritos por uma de suas 'alunas', Hillary Clinton, como 'amor bruto'

Uma advogada sem medo de dizer verdades duras aos políticos: conheça a preparadora de debates de Kamala Harris

Simples oferta de tecnologia não garante sucesso, mas associada a uma boa estratégia pedagógica, mostra resultados promissores

Escolas desconectadas