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Por — São Paulo

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 05/07/2024 - 04:01

Regulação da IA para inclusão e distribuição justa

O economista do MIT, Simon Johnson, defende regulação da IA para garantir inclusão e distribuição justa de benefícios tecnológicos, evitando desigualdades. Destaca a importância da democracia e do redirecionamento da tecnologia para ganhos coletivos. A IA pró-trabalhador pode gerar oportunidades e aumentar a renda para pessoas com menos qualificação. A regulação não precisa travar a inovação, mas sim direcioná-la para um futuro mais equitativo e socialmente benéfico.

Embora representem avanços e melhoria de vida, as novas tecnologias trazem o risco de proporcionar ganhos desiguais, favorecendo um pequeno grupo sobre a maioria da população — e o mesmo acontece com a inteligência artificial (IA). Esse é um dos argumentos do livro “Poder e progresso: uma luta de mil anos entre a tecnologia e a prosperidade”, recém-lançado no Brasil pela Editora Objetiva, escrito por Simon Johnson e Daron Acemoglu, economistas do MIT.

Ao analisar os efeitos econômicos, principalmente para os trabalhadores, de um milênio de saltos tecnológicos, Johnson e Acemoglu afirmam que a distribuição dos benefícios da tecnologia, inclusive da IA, depende de escolhas políticas e sociais intencionais, um processo que chamam de “redirecionar” a tecnologia para ganhos coletivos.

Em entrevista ao GLOBO, Simon Johnson, que foi economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) entre 2007 e 2008, defende que as decisões que podem afetar o rumo da Humanidade não deveriam ficar apenas a cargo de um pequeno grupo de bilionários, como Elon Musk e seus amigos.

Johnson defende que regular e colocar regras na IA é possível com leis que sejam “pró-mercado, pró-competição e pró-inovação”. Para quem tem medo de ser substituído por uma máquina, o pesquisador britânico ressalta: habilidades como julgamento racional, cooperação com pares e geração de laços emocionais são e vão continuar a ser inalcançáveis pela máquina.

O que a História da tecnologia pode nos dizer sobre os efeitos que grandes saltos de inovação têm para a maior parte da sociedade?

Algumas pessoas, com certeza, sempre se beneficiam, já que riquezas são geradas. Mas há pessoas que não participam desses ganhos ou até que perdem. Podemos olhar o que aconteceu no Reino Unido (durante a Revolução Industrial), no início da transição em 1760. Basicamente, as pessoas comuns não tiveram ganhos até 1840, ou seja, durante 80 anos.

No caso da IA, você pode pensar: “ei, ótimo, então todos vão se beneficiar em 80 anos”. A reação legítima, nesse caso, seria pensar que talvez pudéssemos ser um pouco melhores do que no passado.

O livro menciona que na Revolução Industrial, no Reino Unido, os ganhos amplos de um salto tecnológico só ocorreram após pressão social, processos políticos e criação de novas leis. O que aprendemos com isso?

É o que chamamos de redirecionar o progresso tecnológico. A visão padrão na economia é que você deve deixar o setor privado fazer o seu trabalho e aí, depois, olhar como distribuir os resultados. Mas não há razão para ser dessa forma. Você pode ter um papel governamental maior na inovação. Pode criar coisas novas, incluindo o que chamamos de IA pró-trabalhador. Pode elevar a produtividade de pessoas que têm menos educação e pode garantir que os benefícios (da tecnologia) sejam compartilhados.

Essas são todas decisões possíveis. Não há nada que diga que bilionários como Elon Musk e alguns de seus amigos devem decidir o futuro da IA, deixando o resto de nós a viver com as consequências disso e tentando resolver problemas depois.

Um argumento contrário a essa proposta é que regular tecnologias muito novas pode travar a inovação. Como chegar a um ponto de equilíbrio?

Sim, ouvimos muito esse argumento nos EUA. É um discurso retórico comum de algumas pessoas, que regulação é igual a restrição. Mas, na verdade, muitas regulações, incluindo as do governo atual (de Joe Biden) vêm para termos um mercado justo, para garantir que haja mais informação aos consumidores ou que ninguém acabe em uma posição monopolista. A regulação pode ser pró-mercado, pró-competição e pró-inovação.

Ninguém que eu conheça ou com quem trabalho está propondo barrar o desenvolvimento da IA. Seria inútil. Mas é razoável pensar: o que ela vai fazer se seguir o caminho atual? Podemos redirecioná-la para ser mais pró-trabalhador? Podemos olhar para formas de gerar empregos melhores para mais pessoas? Isso não é reprimir a inovação.

“Muitas regulações vêm para termos um mercado justo, para garantir que haja mais informação aos consumidores ou que ninguém acabe em uma posição monopolista.
— Simon Johnson, economista do MIT

É tentar empurrar a inovação em uma direção socialmente melhor. E sabemos o que desejamos: que mais pessoas ganhem e compartilhem.

O livro aborda a corrosão da democracia, um processo desencadeado também pelas máquinas de desinformação nas redes sociais. Por que isso importa no debate sobre avanço da tecnologia?

Em todas as situações nas quais a inovação foi muito grande, com grandes efeitos, mas muitos problemas a serem resolvidos, a democracia desempenhou papel muito importante. A democracia é o processo que trouxe alternativas para as pessoas. Agora, as redes sociais bagunçaram isso ou contribuíram para bagunçar, certo?

Isso torna mais difícil para as democracias funcionarem como desejamos, como sistemas deliberativos que considerem alternativas de maneira responsável. Se as pessoas estão apenas gritando umas com as outras e ficando muito emocionadas, fica muito mais difícil lidar com problemas substanciais.

Nos anos 1980, o salto da computação gerou ganho de renda para profissionais com mais escolaridade e perdas para os menos qualificados. Existe esse risco com a IA?

Esse é o risco. Não há razão para pensarmos que a IA gerará empregos automaticamente, sem que haja pressão adicional da sociedade para isso ou ação governamental. Uma vez um CEO usou terminologia que não é muito agradável: disse que as pessoas que serão substituídas são aquelas com empregos de “copiar e colar”.

São tarefas que têm elemento repetitivo e que a IA já pode fazer muito bem, pessoas que não têm trabalho manual ou braçal, mas empregos administrativos.

E empregos administrativos, em nossa hierarquia social, estão acima dos trabalhos braçais de baixa qualificação. O que essas pessoas vão fazer? Se você criar novas oportunidades para elas, talvez sigam em uma carreira melhor e em um emprego melhor. Mas se isso não ocorrer, serão empurradas para competir com trabalhadores braçais. E ali, as pessoas já não ganham muito dinheiro.

O que significa ter uma IA pró-trabalhador?

Significa criar ferramentas com foco nas pessoas que não têm alto grau de instrução e gerar recursos que as tornem mais produtivas, o que potencialmente aumenta a renda. Os robôs não são muito bons em substituir coisas que requerem destreza manual, julgamento ou que exijam que você entre em diferentes ambientes e faça coisas diferentes.

A regulação pode ser pró-mercado, pró-competição e pró-inovação”
— Simon Johnson, economista do MIT

Há um grande papel de tomada de decisão humana em trabalhos manuais. A IA poderia ajudar essas pessoas a serem mais produtivas e produzir mais renda para elas.

O que o senhor diria a governos de países como o Brasil sobre como fazer esse futuro melhor acontecer com a IA?

Meus amigos que jogam basquete gostam de dizer: “Você erra 100% dos arremessos que não tenta.” Isso significa que precisa articular o que quer e trabalhar. Como desenvolvemos ferramentas de IA que nos ajudem a alcançar esses objetivos? E se tivermos um mercado grande o suficiente, como o Brasil tem, você pode criar oportunidades para as pessoas desenvolverem ferramentas, recompensá-las por isso e direcionar a tecnologia nessa direção. Ninguém deve adotar uma atitude passiva em relação à tecnologia.

Os economistas deveriam levar mais em conta a tecnologia ao pensar sobre crescimento econômico?

A IA nos lembra que a tecnologia pode se mover muito rápido em várias dimensões. Não acho que o Fed gaste muito tempo especificamente com IA. Mas quão rápido os EUA podem crescer sem inflação? A tecnologia é parte importante disso. Qual é o significado da taxa natural de desemprego nesta economia?

A IA será parte importante dessa conversa. Às vezes não vemos a tecnologia porque ela está tão presente ao nosso redor que não a notamos. E não notamos ela se movendo porque ela se move de maneiras que talvez apenas percebamos no canto do olho. Mas ela está se movendo o tempo todo.

Qual é o limite do que a IA pode fazer?

Há um mal-entendido profundamente enraizado sobre o que é a inteligência humana e o que é ser um humano. Nós nos convencemos de que somos nossos cérebros e usamos nossos corpos apenas para nos mover. Como se fosse uma computação (cérebro) sustentada por um bastão (corpo).

Somos mais integrados e mais biológicos. A computação não é tudo. Somos bons em aprender uns com os outros, cooperar, gerar laços emocionais, ter compreensão e visão do mundo que é visceral, assim como intelectual. Às vezes as pessoas falam de inteligência artificial geral (que chegaria ao nível humano), como se fôssemos só máquinas de computação em um corpo.

Mas não acho que humanos sejam só uma calculadora. Então, há um limite para o que a inteligência artificial pode alcançar. O julgamento humano, a avaliação humana e as habilidades além da computação são muito importantes, e devemos buscar cultivá-las, incentivá-las e torná-las mais fortes.

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