Tecnologia
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Por The New York Times — Mountain View, Califórnia

RESUMO

Sem tempo? Ferramenta de IA resume para você

GERADO EM: 17/07/2024 - 13:36

Bilionários do Vale do Silício apoiam renda básica universal nos EUA

Bilionários do Vale do Silício defendem a renda básica universal, mas enfrentam resistência nos EUA. Programas-piloto mostram eficácia dos pagamentos diretos. Tecnologia impulsiona ideia, porém, desafios políticos persistem. Altman lidera estudo sobre renda incondicional. Empresas de tecnologia têm papel crucial, mas críticas apontam necessidade de responsabilidade social. Alguns questionam se apoio ao programa é para acelerar a IA. Musk e Altman sugerem variações na implementação da renda. Vale do Silício pode influenciar mudanças em larga escala.

Nos últimos anos, a comunidade de tecnologia tem distribuído pagamentos de US$ 500 (R$ 2.713) ou US$ 1.000 (R$ 5.427) por mês àqueles em extrema necessidade, sem qualquer contrapartida. Alguns desses experimentos ocorreram no coração do Vale do Silício, onde alugar um apartamento de um quarto custa US$ 3.000 (R$ 16.280) por mês e uma casa modesta é muitas vezes um luxo inacessível.

O apoio do Vale do Silício a esses esforços impulsionou a ideia de uma renda garantida — também conhecida como transferências de dinheiro, dinheiro incondicional e, em sua forma mais utópica, renda básica universal — para o mainstream. No entanto, um consenso político bipartidário em torno do movimento está se fragmentando, mesmo que os dados pareçam mostrar que os programas são eficazes.

Nos últimos meses, o procurador-geral do Texas foi ao tribunal para impedir que fundos públicos fossem usados em um programa de renda básica em Houston. Republicanos em Iowa, Idaho e Dakota do Sul proibiram programas semelhantes. Uma proibição no Arizona foi vetada pelo governador.

Casa em um dos bairros mais ricos de Palo Alto, na Califórnia, onde o preço médio de venda de uma casa é atualmente de US$ 3,4 milhões — Foto: Rachel Bujalski/The New York Times
Casa em um dos bairros mais ricos de Palo Alto, na Califórnia, onde o preço médio de venda de uma casa é atualmente de US$ 3,4 milhões — Foto: Rachel Bujalski/The New York Times

O movimento também obteve algumas vitórias. Uma proposta para um programa de renda básica estadual provavelmente estará na cédula de votação em Oregon no segundo semestre. A medida daria US$ 750 a cada residente do estado anualmente, financiada por um imposto de 3% sobre empresas com receita superior a US$ 25 milhões (R$ 135,7 milhões).

É um momento crítico para a renda garantida, que tem sido promovida por Sam Altman, CEO da OpenAI; Elon Musk, CEO da Tesla; Jack Dorsey, cofundador do Twitter; Marc Benioff, CEO da Salesforce; entre outros.

Nesta semana serão divulgados os resultados do maior programa de renda direta até o momento, o Estudo de Renda Incondicional. O estudo foi ideia de Sam Altman, que se destacou como o principal incentivador de um boom na inteligência artificial que, segundo ele, varrerá tudo o que veio antes. Qualquer pessoa cujo trabalho possa ser realizado por software de IA pode precisar de uma renda garantida em breve.

— É impossível ter verdadeira igualdade de oportunidades sem alguma versão de renda garantida —, afirmou Altman em 2016, quando anunciou o esforço para coletar dados sobre uma política que não havia sido rigorosamente testada.

Sam Altman, diretor executivo da OpenAI, foi o idealizador do Estudo de Renda Incondicional — Foto: Jim Wilson/The New York Times
Sam Altman, diretor executivo da OpenAI, foi o idealizador do Estudo de Renda Incondicional — Foto: Jim Wilson/The New York Times

Críticos se perguntavam se os beneficiários gastariam os fundos em bilhetes de loteria e bebidas alcoólicas.

Dezenas de programas piloto, que levaram menos anos do que o Estudo de Renda Incondicional, já responderam essa pergunta. A renda básica não é uma panaceia e não resolve o problema da habitação inacessível, dizem os defensores, mas os pagamentos ajudaram a estabilizar famílias que vivem no limite, impedindo-as de cair no fundo do poço.

Embora tenham recebido bem o estudo de Altman, a questão para os membros da comunidade de renda básica passou a ser estabelecer os programas em uma escala mais ampla. O tempo para pesquisas, dizem, acabou.

— Este país está pegando fogo, Altman. Algumas pessoas na América estão ficando ricas, e muitas, muitas mais estão ficando pobres. Qual é a sua responsabilidade em reduzir essa divisão em vez de torná-la pior? — questionou Jennifer Loving, que dirige a ''Destination: Home'', uma organização sem fins lucrativos que administra programas piloto de renda básica no Vale do Silício.

Altman, que é um dos que estão ficando ricos, recusou-se a ser entrevistado antes da divulgação de seu relatório. Por sua vez, Jennifer Loving tem algumas ideias sobre o que ele e outros líderes de tecnologia deveriam fazer então:

— Eu gostaria de ver o Vale do Silício usar seu acesso ao poder para fazer lobby por uma renda garantida para que o governo federal a implemente em larga escala. O governo é, em última instância, responsável, mas a tecnologia deve ser uma parceira.

Escritórios da OpenAI em São Francisco: comunidade tecnológica, liderada por Sam Altman, CEO da startup criadora do ChatGPT, tem financiado programas que dão dinheiro incondicional às pessoas — Foto: Jason Henry/The New York Times
Escritórios da OpenAI em São Francisco: comunidade tecnológica, liderada por Sam Altman, CEO da startup criadora do ChatGPT, tem financiado programas que dão dinheiro incondicional às pessoas — Foto: Jason Henry/The New York Times

Outros acreditam que o Vale do Silício tem um papel mais contundente a desempenhar. Empresas de tecnologia criaram trilhões de dólares em riqueza nas últimas duas décadas e meia. Se a inteligência artificial cumprir seu auge, ela gerará trilhões a mais, enquanto reduz salários ou elimina muitos empregos.

—Embora todas as pessoas e corporações ricas devam apoiar uma renda básica universal, a indústria de tecnologia tem responsabilidades especiais — disse Karl Widerquist, professor de filosofia da Universidade de Georgetown no Catar, que coautorou e editou livros sobre o tema.

— Eles estão usando nossos dados para criar seus produtos e não nos pagaram de volta. E são eles que dizem que vão perturbar a economia e colocar as pessoas fora do trabalho — completou.

Um grupo de pessoas do setor de tecnologia desempenhou papéis desproporcionais ao levar a renda básica até aqui. Dorsey, cofundador do Twitter, comprometeu-se a financiar programas com US$ 15 milhões no auge da pandemia de Covid 19.

Chris Hughes, cofundador do Facebook, também apoiou esse tipo de iniciativa. Ele ajudou a iniciar o Basic Income Lab na Universidade de Stanford, em 2017, e financiou vários programas piloto.

— Eu converso com as pessoas sobre filantropia e como fazer mudanças no mundo, mas poucas são do setor de tecnologia — disse Hughes, acrescentando que ele não está no Vale do Silício há anos, e as pessoas de lá não o procuram.

Michael Tubbs, ex-prefeito de Stockton, na Califórnia, iniciou um programa piloto de renda garantida em 2019 e é fundador de um grupo chamado Mayors for a Guaranteed Income:

— Eu me aproximei de dezenas de pessoas no Vale do Silício. Eu recebo um interesse educado e nenhum movimento concreto.

Consumidores sentados em frente à porta de uma Apple Store em Palo Alto, na Califórnia, onde o preço médio de venda de uma casa é atualmente de 3,4 milhões de dólares — Foto: Rachel Bujalski/The New York Times
Consumidores sentados em frente à porta de uma Apple Store em Palo Alto, na Califórnia, onde o preço médio de venda de uma casa é atualmente de 3,4 milhões de dólares — Foto: Rachel Bujalski/The New York Times

No condado de Santa Clara, também na Califórnia, que inclui as comunidades de Palo Alto, Mountain View e Cupertino — o coração do Vale do Silício —, uma parceria público-privada de governos locais e organizações sem fins lucrativos, como a 'Destination: Home', tem nove programas piloto em andamento ou em desenvolvimento, com 950 pessoas recebendo cerca de US$ 1.000 (R$ 5.427) por mês.

Cerca de um terço do orçamento de US$ 26 milhões (R$ 141 milhões) vem da comunidade de tecnologia, incluindo Google, a Fundação David e Lucile Packard e, indiretamente, Cisco e Apple.

O orçamento para o estudo de Altman foi de US$ 60 milhões (R$ 326 milhões). Ele contratou Elizabeth Rhodes, uma estudiosa com doutorado conjunto em serviço social e ciência política, para conduzir o esforço, criou uma afiliada chamada OpenResearch para abrigá-lo e gastou US$ 14 milhões (R$ 76 milhões) do próprio dinheiro para financiá-lo.

Outros US$ 10 milhões (R$ 54,2 milhões) vieram da OpenAI, US$ 15 milhões (R$ 81,4 milhões) do fundo público de Dorsey para alívio global da Covid-19, e US$ 6,5 milhões (R$ 35 milhões) de Sid Sijbrandij, fundador da plataforma de software de código aberto GitLab. O restante veio de fundações, subsídios federais e doações pessoais e anônimas.

Em 2019, após algum trabalho preliminar, a OpenResearch começou a inscrever 3.000 pessoas no Texas e em Illinois que tinham rendas anuais inferiores a US$ 28 mil. Um terço recebeu US$ 1.000 por mês; os outros, que funcionaram como grupo de controle, receberam US$ 50 (R$ 271). O programa durou três anos.

Objetivo do programa de renda incondicional

Entre os tópicos que o experimento visava investigar estava como o dinheiro incondicional molda o comportamento, incluindo sua capacidade de afetar os níveis de estresse e aumentar as esperanças de um futuro melhor.

Com maior segurança financeira, algumas pessoas poderiam aceitar um trabalho com salário mais baixo que gostassem mais ou aumentar sua participação na sociedade, por exemplo, fazendo trabalho voluntário. Outras poderiam voltar a estudar ou se inscrever em cursos adicionais.

Benioff, que cofundou a empresa de software Salesforce em 1999, há muito tempo critica os esforços filantrópicos da comunidade tecnológica.

"O Vale do Silício é bom em construir produtos, construir empresas e contratar muitas pessoas, mas ainda tem um longo caminho a percorrer em responsabilidade social”, disse ele em uma mensagem de texto.

Em 2019, Benioff e sua esposa, Lynne, doaram US$ 30 milhões para financiar a Iniciativa Benioff para Desabrigados e Habitação na Universidade da Califórnia, em São Francisco, que está estudando programas de renda básica. Ele disse que os programas de renda básica devem ser liderados pelo governo, embora tenha afirmado que quaisquer novos programas estariam “em conflito direto com os enormes déficits e encargos que nosso governo já está apoiando”.

Quando foi dito que ele estava simultaneamente argumentando que o Vale do Silício deveria fazer mais, que isso era realmente tarefa do governo, mas que o governo estava sobrecarregado, Benioff respondeu enviando um link para a página da Wikipedia sobre capitalismo.

O entusiasmo do Vale do Silício por tudo relacionado à IA, assim como seu entusiasmo alguns anos atrás por tudo relacionado a criptomoedas e blockchain, é capitalismo desenfreado. Alguns anos atrás, nenhuma das principais empresas de tecnologia tinha valor de mercado superior a US$ 1 trilhão. Agora, com a força da IA, a Microsoft vale US$ 3,4 trilhões; o Google, US$ 2,3 trilhões; e a fabricante de chips Nvidia, US$ 3,1 trilhões.

Algumas pessoas no movimento de renda básica estão preocupadas que isso possa se tornar "um cavalo de Troia" para a IA, como coloca Juliana Bidadanure, a ex-diretora do Stanford Basic Income Lab.

— O Vale do Silício está promovendo a renda básica como uma maneira de reduzir o tamanho do estado? Para substituir todas as outras redes de segurança? Uma forma de acelerar a IA?, questionou Juliana, ressaltando:

— Pessoalmente, acho que o desemprego devido à IA é uma razão importante para construir um piso robusto através de uma renda básica universal. Mas é apenas uma entre muitas razões.

Outra razão pela qual os defensores da renda básica podem não ser capazes de contar com o Vale do Silício é que o apoio da indústria tecnológica pode se mostrar volúvel. Em 2018, Musk disse que "a renda universal será necessária ao longo do tempo se a IA assumir a maioria dos trabalhos humanos". Mas, em novembro, afirmou:

— Não teremos renda básica universal. Teremos renda alta universal.

O CEO eda Tesla, no entanto, não explicou a diferença.

Em uma entrevista de podcast em maio, Altman disse que se perguntava "se o futuro se parecerá mais com computação básica universal do que com renda básica universal". Em outras palavras, as pessoas receberão tempo de computação em vez de dinheiro, e o Vale do Silício — ou talvez apenas a OpenAI — dominaria todo o cenário.

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