O governo dos Estados Unidos está acusando o TikTok de ter armazenado na China dados sensíveis de usuários americanos, como a opinião sobre aborto, tornando o aplicativo de vídeos curtos e sua empresa-mãe, a gigante chinesa ByteDance, uma ameaça à segurança nacional.
O Departamento de Justiça americano apresentou documentos legais na sexta-feira com a acusação a um tribunal. Em paralelo, pede que seja negada a contestação feita em maio por TikTok, ByteDance e um grupo de criadores de conteúdo contra a lei que determina a venda do controle do aplicativo ou seu banimento nos EUA. O app é usado por 170 milhões de americanos.
Nos documentos protocolados no tribunal federal de apelações em Washington, procuradores do governo americano alegaram que o TikTok e a ByteDance, usaram um sistema interno chamado Lark para permitir que os funcionários do app falassem diretamente com os engenheiros da sua controladora na China.
Ainda de acordo com o órgão, os funcionários do TikTok usaram o Lark para enviar dados confidenciais sobre usuários dos EUA, informações que acabaram sendo armazenadas em servidores chineses e acessíveis à equipe da ByteDance na China.
De acordo com o jornal britânico Financial Times, o Departamento de Justiça também alegou que os funcionários da ByteDance e da TikTok nos Estados Unidos e na China poderiam coletar informações em massa do usuário com base no conteúdo publicado no aplicativo, incluindo opiniões sobre religião, aborto ou controle de armas.
TikTok diz que lei é inconstitucional
O TikTok alega que a lei sancionada em abril nos é inconstitucional e que viola a Primeira Emenda, que protege a liberdade de expressão. Também nega que o governo chinês tenha qualquer controle sobre o aplicativo ou que tenha entregue quaisquer dados a Pequim.
A rede social pede a anulação da lei, que deu uma prazo até 19 de janeiro de 2025 para a ByteDance vender suas operações nos EUA ou enfrentar uma proibição a nível nacional.
A dona da rede social de vídeos curtos disse que não é “possível tecnologicamente, comercialmente ou legalmente” para a ByteDance desinvestir na plataforma de compartilhamento de vídeos.
— Nada neste documento altera o fato de a Constituição estar do nosso lado. O governo nunca apresentou provas das suas alegações, incluindo quando o Congresso aprovou esta lei inconstitucional — afirmou um porta-voz do TikTok ao Financial Times, acrescentando:
— Hoje ontem), mais uma vez, o governo dá esse passo sem precedentes enquanto se esconde atrás de informações secretas. Continuamos confiantes de que prevaleceremos no tribunal.
Ameaça à segurança nacional
O jornal britânico revela que, em seus autos, o Departamento de Justiça americano defendeu a constitucionalidade do projeto de lei, argumentando que ele não levantava questões da Primeira Emenda, pois se concentrava em ameaças à segurança nacional.
E mais: que a China, a ByteDance e a empresa TikTok Global não são cobertos pelos direitos da Primeira Emenda, enquanto a TikTok US, "por sua própria admissão, é meramente um canal para decisões de moderação de conteúdo feitas por entidades chinesas".
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O TikTok investiu mais de US$ 2 bilhões no “Projeto Texas”, seu plano de reestruturação corporativa para proteger dados de usuários dos EUA da influência chinesa por meio de uma parceria com a Oracle. No entanto, o Departamento de Justiça afirma que isso “não foi suficiente para persuadir o Poder Executivo de que eles podem ser confiáveis para viver de acordo com esse acordo”.
Um funcionário do Departamento de Justiça afirma ainda que um instrumento separado poderia ser usado para censurar o conteúdo com base no uso de certas palavras, mas, "embora isso estivesse sujeito a certas políticas que se aplicam apenas a usuários baseados na China”, outras políticas podem ter sido aplicadas a usuários em outros lugares, acrescentou.
Em 2022, o TikTok investigou se tais políticas foram usadas nos EUA, de acordo com os registros. Em 2020, lembra do Financial Times, o TikTok processou com sucesso o governo americano, quando o então presidente Donald Trump emitiu uma ordem executiva para banir o aplicativo, dando à ByteDance 90 dias para se desfazer de seus ativos americanos e de quaisquer dados que o TikTok tivesse coletado no país.
Agora, o destino do aplicativo pode depender da política dos EUA. Isso porque Trump volta a concorrer à presidência da maior economia do mundo como candidato do Partido Republicano. Recentemente, ele afirmou que não baniria o aplicativo caso voltasse à Casa Branca numa tentativa de preservar a competitividade num mercado que hoje é dominado pela Meta, dona do Facebook, Instagram e WhatsApp.