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O que você viu, ouviu e comeu em 2021? Apps como Spotify, iFood e Instagram respondem

Febre de retrospectivas dos aplicativos de música, fotos ou entregas revela que eles sabem muito sobre sua vida. Compartilhamentos viram propaganda gratuita
Retrospectivas dos Apps Foto: Arquivo
Retrospectivas dos Apps Foto: Arquivo

RIO — Se alguém te perguntasse qual cantor você mais ouviu ao longo de 2021 ou por quantos minutos deixou rodar repetidamente a sua canção favorita, você saberia responder?

E se a pergunta fosse sobre qual o tipo de comida mais pedido por você nos restaurantes? Ou ainda quais os lugares você mais visitou este ano? Se as respostas não estiverem na ponta da língua, não se preocupe: os aplicativos respondem por você.

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Nessa época do ano, cada vez mais aplicativos apresentam uma retrospectiva individualizada — que nada mais é do que uma ação de marketing disfarçada de conteúdo interativo. O conteúdo é baseado no monitoramento diário que os seus algoritmos fazem da forma como você os usa.

Uma das mais famosas retrospectivas é a do Spotify, disponibilizada desde 2013 para todos os usuários cadastrados em mais de 104 países.

A campanha deste ano, lançada no início de dezembro, ganhou as redes e até rendeu memes. Famoso pelo vídeo de comédia da Pfizer, o influenciador Esse Menino ensinou no Instagram como se assumir gay para a família e compartilhou a retrospectiva com Lady Gaga e Beyoncé no topo da playlist.

Rivais do Spotify são cobrados

No Twitter, usuários de apps concorrentes, como Apple Music e Deezer, cobraram ação semelhante.

Além de mostrar quais foram os artistas, gêneros, músicas, podcasts mais ouvidos e quantos minutos o usuário passou escutando música, por exemplo, a Retrospectiva 2021 do Spotify permitiu comparar a própria experiência com a de um amigo e criar uma playlist colaborativa com o gosto de ambos.

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Os cartões de compartilhamento foram modernizados, podendo ser publicados no Snapchat, Twitter, Instagram, Facebook e, ainda, no TikTok.

"Estamos muito felizes com os resultados até agora. Sabemos que nosso público tem uma paixão por nosso serviço e quando lançamos a retrospectiva todo fim de ano isso fica cada vez mais claro ao ver o engajamento dos ouvintes, artistas e criadores ao compartilhar suas experiências na plataforma", afirmou a empresa, em nota.

Retrospectivas viram mídias gratuitas

O Youtube Music realizou ação semelhante. Através da sua página personalizada do 2021 Recap no aplicativo do YouTube Music, os usuários podem conferir os artistas, canções, vídeos e playlists mais ouvidos no ano.

O especialista em branding , Galileu Nogueira, afirma que as retrospectivas se transformam em mídias gratuitas, ao passo que as empresas ganham espaço nas redes sociais sem ter que pagar qualquer tipo de anúncio. Os próprios usuários se encarregam de fazer a publicidade.

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— A estratégia o tempo todo dá 'call to actions' (chamada para ação), ao dizer compartilhe com seus amigos, mostre para a sua rede, o que estimula a vontade de publicar mesmo. No caso do Spotify, o grande aliado para o sucesso é que o conteúdo é muito interessante, tem um envelope divertido. Se fosse um banco mostrando no que você mais gastou dinheiro, talvez ninguém quisesse compartilhar — sugere Nogueira.

Melhores momentos no Instagram

Instagram e Facebook, da Meta, também embarcaram nesse movimento. Em 2021, pela primeira vez, as redes sociais lançaram recursos para as pessoas compartilharem seus momentos significativos do ano.

No Facebook, será possível ver quais os amigos, reações, lugares e pessoas que mais se destacaram para cada um.

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Em 2020, o Ifood também fez uma retrospectiva individualizada mostrando quais os tipos de comida mais pedidos pelo app e quais os restaurantes favoritos de cada cliente.

Eles sabem onde você esteve no verão passado

Já o Google Maps mostrou com precisão — até um pouco assustadora — quais lugares cada pessoa esteve, quantas vezes foi lá, quais distâncias percorridas de bike, a pé, de carro ou ônibus, além do tempo nos trajetos.

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Neste ano, ambas as empresas ainda não divulgaram as retrospectivas às quais os usuários aguardam com ansiedade. O Waze, por sua vez, não fez uma retrospectiva individualizada. Porém, com a sua base de dados, monitorou o comportamento dos brasileiros.

Segundo o app de mobilidade urbana, as atividades que mais fizeram os brasileiros saírem às ruas e dirigirem em 2021 foram ir às compras (68%), ir ao trabalho (61%), visitar a família (53%) e os amigos (43%).

'Dados são o novo urânio', diz especialista

O levantamento ainda constatou que 30% dos motoristas só param para abastecer no momento em que o carro atinge menos de um quatro da capacidade e antes da luz de emergência acender, outros 18% só vão aos postos de gasolina quando já estão na reserva.

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A diretora Jurídica do escritório Russell Bedford Brasil, Vitória Bernardi, afirma que "os dados são o novo urânio" — ou seja, o que se tem de mais valioso atualmente — e que as retrospectivas só são possíveis por causa da coleta de informações pessoais ao longo de muitos meses, o que permite entregar uma análise detalhada.

Por isso, alerta que é preciso ter atenção aos termos de consentimento:

— Muitas vezes, a gente não lê os termos de uso por preguiça ou por não fazer parte da nossa cultura, mas isso tem consequências. Aceitando o compartilhamento de dados estamos de acordo com essas consequências. O usuário tem que se educar a ler antes de clicar em ok.