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Economia Tecnologia

Pagamentos por WhatsApp ‘colocam o Brasil em outro patamar de inovação’, diz presidente da Visa

Fernando Teles se disse surpreso com decisão do BC de suspender serviço, mas está otimista com aprovação
Fernando Teles, presidente da Visa no Brasil, está otimista com a aprovação de transações financeiras pelo WhatsApp Foto: Alexandre Schneider / Divulgação
Fernando Teles, presidente da Visa no Brasil, está otimista com a aprovação de transações financeiras pelo WhatsApp Foto: Alexandre Schneider / Divulgação

RIO - A ferramenta de pagamentos e transferências pelo WhatsApp foi anunciada com pompa na segunda-feira da semana passada, com direito a mensagem do cofundador e diretor executivo do Facebook, Mark Zuckerberg. Mas a euforia durou pouco. Na terça-feira, o Banco Central (BC) determinou a interrupção do serviço .

O presidente da Visa no Brasil, Fernando Teles, se disse surpreso com a decisão, pois o BC alterou uma circular para poder exigir que o serviço seja autorizado pelo órgão. Agora, a companhia está reunindo informações que serão enviadas ao regulador, para aprovação ou não, mas a expectativa é positiva.

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Depois de se reunir com o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto na quarta-feira, o WhatsApp disse, em nota, que busca retomar com o seu sistema de pagamentos “o breve possível”.

A determinação do Banco Central foi uma surpresa para vocês?

Foi uma surpresa porque houve uma mudança na circular, é uma novidade. O Banco Central mudou uma circular e, a partir desta mudança, ele nos pediu que interrompêssemos a iniciativa e submetêssemos, novamente, as nossas regras para que ele possa fazer uma avaliação e, então, autorizar o serviço.

No comunicado o BC cita que “o início das operações sem a prévia análise do regulador poderia gerar danos irreparáveis ao Sistema de Pagamentos Brasileiro”. Antes do lançamento, houve conversas com o BC?

Nós somos um arranjo (conjunto de regras e procedimentos) de pagamento já autorizado pelo regulador. Então, até terça-feira, às 18h, quando você lançava um novo arranjo, não precisava pedir uma nova autorização. Ela só seria necessária após um determinado volume de transações ou financeiro.

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No caso específico desta solução, temos um arranjo de pagamento que já está autorizado, que é a permissão para uma pessoa comprar de um estabelecimento; e um arranjo de transferência, que já fazia parte das nossas regras, mas que não havia necessidade de requisitar uma autorização do Banco Central.

Então, antes desse lançamento específico com o Facebook, não. Nós já tínhamos ido ao Banco Central em outras ocasiões para falar sobre o arranjo de transferência, falar sobre o Visa Direct (serviço que permite a transferência de valores entre cartões de débito ou crédito), explicar o funcionamento da tecnologia. Não era necessário o pedido de autorização. Ele passou a ser necessário a partir de terça-feira.

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Vale destacar que o Facebook, ou o WhatsApp, não é um participante do nosso arranjo, é apenas um cliente que contratou uma solução tecnológica para permitir a transferência de recursos entre seus usuários. Poderia ser o Facebook ou qualquer outra empresa, como uma seguradora, para transferência das indenizações para os segurados; ou um aplicativo de transporte, para o pagamento dos motoristas. Em nenhum desses casos seria preciso pedir uma autorização ao BC, por se tratar apenas do uso de uma tecnologia já pertencente ao arranjo.

O que mudou com a reedição da circular?

Com essa medida, o BC fez com que esse arranjo de transferência faça parte do Sistema de Pagamentos Brasileiro. Dessa forma, ele pode exigir uma autorização, no prazo que entender mais adequado. Nesse caso, o BC entendeu que deveria ser imediatamente.

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Quais são os próximos passos?

O BC nos disse: por gentileza, parem com a utilização do arranjo e submetam o seu conjunto de regras para que eu possa avaliar e, assim, autorizar sua continuidade. Esse é o próximo passo. Estamos reunindo informações, além das que já apresentamos, para que ele possa avaliar. Pelo comunicado, o Banco Central entendeu que pode haver algum risco, e o nosso papel é mitigar e dar conforto ao regulador com as informações que ele precisa: se a operação é segura, se está dentro dos padrões de confiabilidade e de qualidade, sobre o respeito aos dados do consumidor, como a transação se dá entre as partes...

E qual é a expectativa? O brasileiro vai ou não poder transferir dinheiro pelo WhatsApp?

Primeiro, eu acho que a solução é extremamente benéfica para os usuários, por ser muito fácil, prática e não ter cobrança de taxas para quem envia e quem recebe o dinheiro. Então, a minha expectativa é positiva, porque ela é boa para os usuários, boa para o sistema e boa para o país, porque coloca o Brasil em outro patamar de inovação nesse mundo de pagamentos eletrônicos.

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Banco Central deve analisar as propostas Foto: Divulgação/Visa
Banco Central deve analisar as propostas Foto: Divulgação/Visa

O serviço foi lançado na semana passada. Como estava a adesão?

Na verdade, ainda estava num processo que a gente chama de “family and friends”. Foram habilitadas apenas algumas pessoas, principalmente das empresas envolvidas, mais para fazer um teste. Para garantir que o sistema está funcionando corretamente.

Como foi o desenvolvimento do projeto?

Foi o Facebook que nos procurou, para permitir a transferência de recursos para os seus clientes. O projeto está em desenvolvimento há mais de 18 meses, então houve um aprendizado muito grande sobre todos os requisitos de qualidade, de segurança e de operação.

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O interessante de trabalhar com eles é que essas Big Techs têm muita preocupação com a experiência do usuário, de que os serviços sejam fáceis, simples, autoexplicativos. E isso exigiu todo um desenvolvimento tecnológico que foi feito pelos participantes.

Isso permitiu, por exemplo, o desenvolvimento do Visa Cloud Token (tecnologia onde os tokens para transações estão na nuvem, não nos aparelhos), que é uma inovação fantástica do ponto de vista da segurança, o que para nós é uma preocupação constante.

O WhatsApp tem as comunicações criptografadas, mas para concluir uma transação é preciso que esses dados sejam lidos por alguém. Como fica a questão da segurança?

Quando você cadastra o seu cartão, o WhatsApp requisita um token para o emissor (os bancos parceiros). Quando você fizer uma transação, vai acontecer uma nova requisição. O emissor manda esse token exclusivamente para aquela transação. Quem vê essa informação? O banco autorizador, a empresa que está no meio — nesse caso a Cielo — e o banco receptor. Mas mesmo que fosse possível para alguém invadir essa transação e capturar essa informação, ela não serve para nada. Aquele token, que é apenas um número, não serve para nada além daquela transação. Não dá para pegar esse número e tirar dinheiro da sua conta.

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Outra preocupação é com a clonagem de WhatsApp. Se alguém tiver acesso à minha conta vai poder transferir dinheiro?

Não, porque o WhatsApp exige uma senha específica para iniciar as transações. É mais uma camada de segurança. Os smartphones possuem seus dispositivos de proteção, como a biometria, o WhatsApp tem a verificação em duas etapas e as transações exigem mais uma senha.