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'Só vão sobreviver os bons empreendedores', diz CEO da Fábrica de Startups

Segundo Hector Gusmão, empresas iniciantes estão adaptando seus negócios para lidar com a crise provocada pela pandemia de coronavírus
Hector Gusmão, diretor executivo da Fábrica de Startups, acredita que a retomada da economia será forte para a indústria de tecnologia Foto: Divulgação
Hector Gusmão, diretor executivo da Fábrica de Startups, acredita que a retomada da economia será forte para a indústria de tecnologia Foto: Divulgação

Como a pandemia de coronavírus está impactando o ecossistema de start-ups no Brasil?

A primeira semana do isolamento social foi um choque para o mercado. Existia a preocupação com essa boa safra que estava surgindo no mercado em meio a essa crise, que é diferente de todas as outras. Mas como a história mostra para a gente, no momento de crise as start-ups se adaptam, e é isso o que vem acontecendo.

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É o momento de start-ups que tiveram seus negócios impactados “pivotarem” (mudarem o modelo de negócio)?

Depende do estágio e do negócio. Uma start-up iniciante de eventos, por exemplo. O negócio parou e, provavelmente, não acontecerão eventos até o fim do ano. Ela tem poucos funcionários, está paralisada, é o momento de pivotar. Para tudo e concentra os recursos no que pode ser feito agora. Migra para as lives (transmissões ao vivo pela internet), transforma todo o negócio analógico em digital.

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Mas start-ups mais maduras, com 50, 100 funcionários, não podem parar, mas precisam adaptar os negócios para o curto prazo, para conseguirem sobreviver.

E como estão os investidores?

Os fundos diminuíram o dinheiro disponível para novas rodadas de investimentos, mas o que já estava contratado, ou em prospecção, está sendo cumprido.

Existe um congelamento?

Não está congelado. O conceito de venture capital é de risco a longo prazo. A especificidade dessa crise é a incerteza. Ninguém sabe até quando ela vai, nem o rombo na economia. O investidor está segurando o cheque para entender melhor o que vai acontecer.

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Os que já estavam assinados, ou encaminhados, estão sendo cumpridos como se nada tivesse acontecido. Mas os fundos estão na fase de entender os seus portfólios para avaliar quem está precisando de mais capital e de quanto.

Algumas start-ups, como as voltadas para os home office e o delivery, conseguem investimentos mesmo no momento de crise. O problema é que está acontecendo um revés, com a crise o investidor vai ganhar poder de barganha. O cara que ia pagar R$ 1 milhão por 15% da empresa, agora vai pedir 20%, 25%.

O empreendedorismo tem a máxima de aproveitar as oportunidades, mesmo na crise. Existem start-ups que estão se destacando?

Estão surgindo protagonistas muito interessantes. Negócios voltados para o diagnóstico estão se adaptando para o coronavírus. A telemedicina, que há tempos disputava uma quebra de braço com o governo, está começando a ser liberada. Negócios de comércio eletrônico, delivery, digitalização de processos estão em alta.

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As start-ups que conseguirem se adaptar rápido terão todas as condições de continuarem no mercado. Outras que conseguem resolver os problemas agora, no curto prazo, também terão futuro. Mas muitas ficarão pelo caminho.

Para os empreendedores iniciantes, quais as dicas para sobreviverem à crise?

A primeira é ter calma. Se o empreendedor ficar apavorado, ele vai tomar decisões erradas e o negócio vai quebrar. A segunda é bem cruel: só vão sobreviver os bons. O aventureiro vai ficar para trás. Esse é o momento do empreendedor que consegue desenvolver a capacidade de liderança da equipe, que consegue adaptar o modelo de negócio.

A terceira dica é conseguir segurar as pontas pelos próximos 60 ou 90 dias. Ficar atento com as linhas de financiamento que estão sendo abertas pelo governo, rolar as dívidas menos urgentes, ser transparente com fornecedores. Basicamente, é para não criar o pânico de que tudo acabou. Passando a crise, o mercado vai voltar bem forte, principalmente na indústria de tecnologia.