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Economia Investimentos

Tesouro Selic teve variação negativa? Não se assuste e saiba o que fazer

Especialistas ressaltam que movimento é pontual. Recomendação é manter o título até o prazo de vencimento
Com a taxa Selic na mínima histórica, variações negativas são percebidas pelos investidores em títulos do Tesouro Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Com a taxa Selic na mínima histórica, variações negativas são percebidas pelos investidores em títulos do Tesouro Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

SÃO PAULO - Classificado como de baixíssimo risco, o Tesouro Direto deu um susto nos investidores de perfil mais conservador que mantêm seus recursos aplicados nessa modalidade.

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O Tesouro Selic, título de renda fixa pós-fixado cuja rentabilidade está atrelada à variação da taxa básica de juros da economia, a Selic, encerrou setembro com variação negativa de 0,46% nos papéis com vencimento em 2025.

O Tesouro Selic com vencimento em 2023, considerado de curto prazo, perdeu 0,08%. Isso não acontecia, segundo os especialistas, desde 2002.

Ricardo Rocha, professor de Finanças do Insper, observa que é a percepção de risco que o mercado tem sobre a capacidade do governo de honrar o pagamento de sua dívida que leva a uma oscilação negativa momentânea.

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Atualmente, os investidores estão ressabiados sobre como o governo vai conduzir a situação fiscal do país na saída da pandemia e se haverá ou não rompimento ao teto de gastos, a regra fiscal que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior.

Na sexta-feira, as declarações dos ministros Paulo Guedes (Economia) e Rogério Marinho (Desenvolvimento) só alimentaram essas preocupações.

— Por isso, aumenta momentaneamente a percepção de risco desses títulos, e eles têm uma oscilação negativa. Foi o mesmo fenômeno que vimos em 2002, quando aumentou a percepção de risco dos títulos do governo no fim do governo Fernando Henrique Cardoso e com a eleição de Lula — lembra Rocha.

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Aumento de emissões

Para Guilherme Cadonhoto, especialista em renda fixa e juros da Spiti, casa de análises independente, também há uma explicação técnica para a desvalorização do Tesouro Selic em setembro. O governo praticamente quadruplicou a emissão desses papéis entre março e julho em relação ao registrado em janeiro e fevereiro.

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Na prática, houve excesso de oferta, e a demanda por esse título caiu. Ele oferece rendimento mais baixo do que outros papéis, como o Tesouro Prefixado ou o Tesouro IPCA, que também tiveram queda com a Selic mais baixa. Isso ajudou a derrubar o valor desses títulos.

— O governo optou, neste momento de pandemia e aumento de gastos, por emitir mais títulos Tesouro Selic (também chamado de Letra Financeira do Tesouro, LFT), que pagam 2% ao ano e custam menos, do que títulos mais longos atrelados à inflação, que oferecem retorno de até 6% ao ano — explica Cadonhoto.

Segundo ele, a desvalorização do Tesouro Selic não deve continuar, já que o Tesouro vem emitindo menos papéis desse tipo. Cadonhoto ressalta que o investidor deve se preocupar em olhar para a frente agora. E diz que quem pensa em vender esses títulos e voltar para a poupança deve abandonar essa ideia.

— O Tesouro Selic é indicado para formar uma reserva de emergência e é mais atraente que a poupança, que paga 70% da Selic — explica.

Juro baixo contribui

O consultor de investimentos Paulo Bittencourt lembra que esse movimento negativo de oscilação do título só é perceptível porque a Taxa Selic está hoje em sua mínima histórica, 2% ao ano .

No passado, quando os juros básicos da economia estavam em dois dígitos, as oscilações da chamada marcação a mercado (que é quanto os investidores estão dispostos a pagar pelo papel se o aplicador quiser vendê-lo antes do vencimento) não eram tão visíveis.

— No Brasil dos juros altos não havia essa sensibilidade em relação às variações negativas do título — afirma Bittencourt.

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Ele lembra que títulos com vencimento mais longo, que são mais atraentes em termos de rentabilidade, também costumam apresentar variações negativas. Por exemplo, o Tesouro IPCA (que paga taxa de juros mais a variação da inflação pelo IPCA) com vencimento em 2035 teve oscilação negativa de 7,28% em setembro.

— Mas estes papéis estão nas mãos de grandes aplicadores de renda fixa, como fundos de investimento ou investidores institucionais, que estão acostumados a essas oscilações. O Tesouro Selic é um papel mais para investidores de varejo, que recebem o combinado se não venderem antes do prazo — observa Bittencourt.

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Por isso, os especialistas recomendam que ninguém deve entrar em pânico e se desfazer do Tesouro Selic por conta dessa desvalorização pontual se não precisar agora dos recursos. Eles lembram que o investidor que mantiver o título na carteira até o vencimento, em 2025, vai receber a Selic. Em 12 meses, a rentabilidade do Tesouro Selic 2025 está em 2,85%.

— Vender o titulo no mercado secundário neste momento é prejuízo. Tem que ter calma e cautela — diz Rocha, do Insper.