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Turquia derrete mercados e dólar vai a R$ 3,864

Risco-país sobe mais de 4% e Ibovespa fecha em queda de 2,86%
Alta do dólar é refletida nas casas de câmbio Foto: Pixabay
Alta do dólar é refletida nas casas de câmbio Foto: Pixabay

SÃO PAULO — A crise na Turquia derretou os mercados financeiros nessa sexta-feira. O dólar ganhou força em escala global e os principais indicadores do mercado acionário fecharam no vermelho. No Brasil, a moeda americana fechou em alta de 1,57% ante o real, cotada a R$ 3,864. Já o Ibovespa recuou 2,86%, aos 76.514 pontos, sendo esse o maior recuo desde 7 de junho. Na semana, a queda foi de 6,04%, maior desvalorizaçao desde maio do ano passado, quando veio à tona a delação dos executivos da JBS.  Outra consequência negativa dessa turbulência se deu sobre o risco-país, que disparou.

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- A aversão ao risco fez o dólar subir forte. A lira turca teve uma desvalorização de mais de 10% e isso faz com que as moedas de outras nações emergentes caiam junto. É uma consequência da aversão ao risco, que gera uma busca por segurança - avaliou Raphael Figueredo, analista da Eleven Financial, sobre o movimento de perdas que teve início logo no início dos negócios.

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Com essa busca por segurança, o dólar ganhou força em escala global. O "dollar index", que mede o comportamento da divisa americana frente a uma cesta de dez moedas, subia 0,85% próximo ao horário de fechamento dos negócios no Brasil. Esse indicador fechou acima dos 96 pontos, o maior patamar em mais de um ano.

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Já os CDS (Credit defaul swaps, em inglês, que funcionam como um seguro para os títulos emitidos no exterior) do Brasil sobem 4,65%, chegando aos 235,946 pontos.

O enfraquecimento da moeda local também foi registrado em outros mercados emergentes. Tiveram perdas. O peso argentino, o rand sul-africano e o florín húngaro tiveram perdas acima do real. A liderança, no entanto, ficou mesmo com a lira turca.

Marink Martins, consultor da Mycap (plataforma de investimentos da corretora Icap), lembra que os emergentes já estavam sob pressão, uma vez que o dólar se valoriza nos útlimos meses como uma das consequências do fortalecimento da economia americana.

- Os ativos de todos os emergentes sofreram muito. Essas economias sofrem as consequências de um dólar mais forte. A economia americana tem se beneficiado no curto prazo das políticas de desregulamentação e da redução de impostos - afirmou.

INTERVENÇÃO TURCA

A preocupação em relação à Turquia aumentou após o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, mostrar ingerência  sobre a política monetária da Turquia e o agravamento das relações com os norte-americanos, que impuseram ainda mais sanções contra o país. O mandatário pediu que a população troque ouro e outras divisas pela lira para "defender" a moeda do país. “Se há alguém que tenha dólares ou ouro debaixo de seus travesseiros, deve trocá-los por liras em nossos bancos. Esta é uma batalha doméstica nacional”, disse o mandatário.

Na avaliação de Julio Hegedus Neto, economista-chefe da consultoria Lopes & Filho, a mudança no modelo econômica da Turquia acabou gerando a instabilidade cambial, contaminando outros mercados.

- Essa intervenção do presidente da Turquia tende a minar um pouco a independência do banco central turco, o que ajuda a espalhar a crise cambial pela região da zona do euro - disse.

Com o temor de uma contágio no sistema financeiro europeu, que possui exposição a ativos da Turquia, as Bolsas da Europa caíram forte, puxada pelas ações do setor bancário. O DAX, de Frankfurt, recuou 1,99%, e o CAC 40, da Bolsa de Paris, registrou desvalorizaçao de 1,59%. O FTSE 100, de Londres, teve queda de 0,97%.  Nos Estados Unidos, o Dow Jones fechou em queda de 0,77% e o S&P 500, 0,70%.

BOLSA EM QUEDA

Na Bolsa no Brasil, as ações mais negociadas caíram forte. No caso dos bancos, que possuem o maior peso na composição do índice, todos fecharam em terreno negativo. As preferenciais (PNs, sem direito a voto) do Itaú Unibanco e do Bradesco recuaram, respectivamente, 3,63% e 4,98%. Os papéis do Banco do Brasil afundaram 5,51%.

No caso da Petrobras, as preferenciais registraram desvalorização de 3,69% e as ordinárias (ONs, com direito a voto), de 2,64%.

As maiores quedas, no entanto, são registradas pelas ações das empresas que divulgaram balanço do segundo trimestre, com resultados que desagradaram os investidores. Os papéis da BRF, empresa que voltou a apresentar prejuízo, recuaram 6,41%. No caso da Lojas Americanas, o tombo foi de 7,56% e da B2W, de 9%, a maior queda entre os papéis que fazem parte do índice.

As ações da Usiminas também passaram a cair forte no início da tarde, após a explosão de um gasômetro da empresa em Ipatinga (MG). Os papeís fecharam com desvalorização de 7,27%.

No campo político, embora bastante comentado nas redes sociais, os analistas do mercado avaliam que os investidores consideraram “morno” o primeiro debate entre os presidenciáveis, que ocorreu nesta quinta-feira. No entanto, os investidores avaliaram que o cenário eleitoral ainda indefinido devem continuar a gerar volatilidade.