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Economia

Um terço das obras de ampliação de linhas e subestações de energia está fora do prazo

Relatórios da Aneel mostram atraso médio de mais de mil dias em empreendimentos que poderiam reduzir riscos de apagão como o do Amapá
Técnicos realizam inspeção na subestação com transformador incendiado ao fundo Foto: Divulgação/Polícia Civil
Técnicos realizam inspeção na subestação com transformador incendiado ao fundo Foto: Divulgação/Polícia Civil

BRASÍLIA - Pelo menos um terço dos empreendimentos voltados para a ampliação das redes de transmissão e subestações de energia em todo o Brasil está atrasado.

O número foi levantado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em relatório trimestral de fiscalização da expansão da rede de transmissão do Sistema Interligado Nacional (SIN), a rede federal de eletricidade. Em média, são 1.005 dias de atraso, de acordo com a agência reguladora.

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A Aneel monitora atualmente 383 empreendimentos de expansão da rede básica de energia elétrica do país, usados para escoar a energia gerada pelas usinas hidrelétricas, térmicas, eólicas e solares.

Desses, 125 empreendimentos estão com andamento atrasado, o equivalente a 32,1% do total. Outros 38,5% estão adiantados e 25,1% estão dentro do prazo — para 4,1% não há informações.

Segurança do sistema

A expansão da rede de transmissão faz parte da estratégia de garantir mais segurança ao sistema elétrico, aumentando o intercâmbio de eletricidade entre regiões e ampliando a possibilidade de gerar mais energia.

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Após o estudo técnico sobre a necessidade de um empreendimento, o lote para a construção e operação de uma linha de transmissão é levado a leilão. A empresa vencedora da licitação é remunerada por meio das contas de luz, quando o empreendimento entra em atividade. Foi a falha em uma subestação inaugurada em 2015 que causou mais de 18 dias de apagão no Amapá.

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O percentual de empreendimentos em andamento com previsão de atraso vinha sofrendo constante redução, de acordo com a Aneel. O percentual mais baixo, de 28,9%, foi registrado em março deste ano. Em junho, o índice disparou e passou de 40%. Em setembro, ele recuou para 32,1%.

“A SFE (Secretaria de Fiscalização da Aneel) atribui o fenômeno às expectativas que as transmissoras tinham acerca dos possíveis impactos negativos que a pandemia de Covid-19 poderia causar nas datas contratuais firmadas com o poder concedente para entrada em operação comercial dos empreendimentos, expectativas essas que não se concretizaram na maioria dos casos”, diz o relatório da agência.

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Queda na demanda

O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro, considera a média de atraso elevada, mas que ainda não preocupam porque a demanda por eletricidade caiu, por causa da crise:

— É uma média de atraso elevada, mas o sistema já tem uma rede de funcionamento sólida e consistente.

As causas elencadas para os atrasos são problemas em contratos, licenciamento ambiental, compra de materiais e atrasos na execução física das obras.