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Economia Energia

‘Vamos investir R$ 200 bilhões até 2035 com a privatização’, diz presidente da Eletrobras

Rodrigo Limp diz que crise hídrica é ‘gravíssima’ e que capitalização dará capacidade à empresa de aumentar oferta de energia
 Limp disse que grande fonte de energia da empresa é hidrelétrica, mas quer ampliar eólica, solar e nuclear
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Michel Jesus/Câmara dos Deputados/04-06-2019
Limp disse que grande fonte de energia da empresa é hidrelétrica, mas quer ampliar eólica, solar e nuclear Foto: Michel Jesus/Câmara dos Deputados/04-06-2019

BRASÍLIA E RIO- Um dia depois de o Congresso aprovar a medida provisória (MP) que permite privatizar a Eletrobras, o presidente da estatal, Rodrigo Limp, disse que a capitalização permitirá à empresa dobrar sua capacidade de investimento.

Em entrevista ao GLOBO, ele afirmou que a empresa investirá R$ 200 bilhões até 2035, no momento em que o país precisa ampliar sua capacidade de geração por causa da crise hídrica — classificada por Limp como “gravíssima”.

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Sem a capitalização, a Eletrobras só seria capaz de aportar metade desse valor, afirmou.

Antes da privatização, a empresa espera reduzir seu quadro de 12 mil funcionários para 11.600, por meio de um programa de demissão voluntária.

A Eletrobras terá de enxugar custos até a privatização, prevista para fevereiro?

Vamos seguir com nossa pauta de racionalização de empresas, reduzindo de 80 SPEs (Sociedades de Propósito Específico) para 49 SPEs. Em termos de pessoal, temos plano de demissão consensual este ano. Devemos reduzir de um pouco mais 12 mil para 11.600. Temos expectativa de economia anual de cerca de R$ 290 milhões. Isso vai deixar a empresa mais preparada para o avanço do processo de capitalização.

A Eletrobras vai conseguir voltar a investir depois da capitalização?

Vamos conseguir otimizar processos e ter mais agilidade para participar mais ativamente da expansão da oferta de geração e da transmissão. Vamos ganhar mais competitividade por não termos mais as amarras de uma empresa estatal.

Vamos investir R$ 200 bilhões até 2035 com a privatização. Em média, é R$ 13 bilhões por ano. Sem a capitalização, seria menos da metade, R$ 95 bilhões. Nos últimos dois anos, investimos R$ 3 bilhões a cada ano.

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Qual é o perfil desses investimentos?

Vamos avançar nos projetos de comercialização de energia e ficar mais aderentes ao dinamismo do setor elétrico, com a ampliação do mercado livre. Mas nosso core business (negócio principal) é geração e transmissão. A grande fonte da Eletrobras é a hidrelétrica, mas queremos diversificar com eólica, solar e nuclear.

Como ficará o investimento em energia nuclear?

Angra 3, depois da segregação, vai ser controlada por uma empresa estatal. O que está se desenhando é que a Eletrobras continue sendo sócia, mas minoritária. Ainda não está definida essa participação. A nova empresa estatal vai capitalizar a Eletronuclear e assim diluir a participação da Eletrobras. Essa nova estatal vai ser ainda a responsável pela comercialização da energia de Itaipu.

Há risco de judicialização, já que a MP tem uma série de jabutis, pontos que não estão ligados à privatização da Eletrobras?

Já ouvimos que vão entrar na Justiça contra a MP. Mas o Judiciário vai fazer a avaliação. Não vejo motivo para suspender. O que foi incluído na MP estava dentro da legitimidade do Congresso e temos ainda que esperar a sanção do projeto pelo Poder Executivo.

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Muitas associações no setor começaram a falar que o custo da privatização da Eletrobras ia ser muito alto para sociedade. Vai ser um custo alto demais?

Não vejo o saldo da MP gerando aumento do custo para o consumidor. Ao contrário. E também pelo fato de ter uma Eletrobras competitiva, a maior do setor com capacidade de investimento, participando ativamente da expansão da geração. Isso, sem dúvida, traz benefícios positivos.

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A capitalização será feita nas bolsas de Nova York, São Paulo e Madri?

Isso ainda vai ser avaliado, mas, a princípio, tem uma probabilidade razoável de que isso aconteça. Pelo menos na Bolsa de Nova York, mas não há definição ainda.

A MP aprovada proíbe a Eletrobras de mudar sedes por dez anos. Isso tira um pouco a atratividade da empresa?

Naturalmente, você tira uma flexibilidade do novo gestor, mas não vejo com grandes preocupações. No nosso planejamento não há menção para incorporação, fusão ou mudança de sede das empresas.

A privatização da Eletrobras pode se dar no contexto de crise hídrica. Como a empresa pode contribuir?

De fato, a gente enfrenta uma gravíssima crise hídrica, a mais grave dos últimos 91 anos. Mas vejo hoje o Ministério de Minas Energia, o governo federal muito estruturado, tomando as ações necessárias. E a Eletrobras vai ser fundamental, pois é responsável por 30% da geração e 45% da transmissão.

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A gente viu muitos funcionários contra o projeto. Qual o plano para lidar com essa insatisfação?

É natural que mudanças como as que caminham para acontecer na Eletrobras gerem incertezas. É normal. Vamos reforçar a comunicação com os empregados no sentido de total transparência da diretoria. O grande processo de redução de funcionários da Eletrobras já aconteceu. A Eletrobras saiu de 24 mil funcionários para 12 mil. O grande desafio da Eletrobras não é reduzir pessoal. Temos sim necessidade de rejuvenescer quadros. O último concurso da holding foi em 2010. É claro que alterações pontuais, ajustes, poderão ser feitos dependendo da nova gestão.