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Economia

'Warren Buffett dando um selo a uma empresa brasileira é relevante', avalia estrategista sobre aporte do magnata no Nubank

Para William Castro Alves, da Avenue Securities em Miami, investimento de US$ 500 milhões do bilionário na fintech mostra potencial do mercado financeiro do país
Warren Buffet Foto: AFP
Warren Buffet Foto: AFP

SÃO PAULO - William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities em Miami, vê o aporte de US$ 500 milhões da Berkshire Hathaway, gestora do megainvestidor Warren Buffett, no Nubank como uma oportunidade que faz sentido em um momento de grandes transformações no setor financeiro brasileiro.

Sobre a estimativa de o banco digital valer US$ 30 bilhões, ele afirma que não se pode medir a nova economia com métricas tradicionais de outros setores.

Em entrevista ao GLOBO, analista destaca o interesse de Buffett por empresas de tecnologia com potencial de crescimento no longo prazo.

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Como o senhor vê este aporte no Nubank?

Quais são os principais cases de sucesso do setor financeiro dos últimos anos? Nubank, XP, Banco Inter e Picpay. Estamos falando de inovação em uma indústria gigante, que tem bastante relevância, que está sendo transformada, com empresas com capacidade de conquistar um grande número de clientes, se adaptar.

William Castro Alves, Estrategista-chefe da Avenue Securitie Foto: Divulgação
William Castro Alves, Estrategista-chefe da Avenue Securitie Foto: Divulgação

São empresas que já estão na mente dos clientes, vemos as fintechs ganhando espaço em diversos mercados.

O Nubank está operando muito bem esta nova forma de atuar no mercado financeiro. Ele estava digital quando outros bancos ainda pensavam em ampliar o número de agências, e agora bancos tradicionais estão fazendo o que o Nubank e o Inter estavam fazendo há tempos.

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Estimar que o Nubank tem valor de mercado de US$ 30 bilhões, sendo um dos cinco maiores bancos do Brasil, pode ser exagero, já que a empresa ainda não é lucrativa?

Se pensarmos em termos das métricas tradicionais, teríamos várias empresas nos Estados Unidos valendo zero, como o Uber, o Spotify, o Snapchat…

O Twitter começou a dar algum lucro agora. Tesla vale mais que GM , Ford e outras montadoras somadas, mesmo antes de dar lucro. Há essa dificuldade das métricas tradicionais nestas empresas de forte crescimento e inovação.

Até a Amazon viveu isso, um momento de crescimento muito rápido, de atender a uma nova demanda, com uma experiência muito boa e muito fluida aos consumidores, antes de dar resultados, e tudo isso tem um valor, que pode não ser percebido pelas métricas tradicionais.

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Se a gente pensasse apenas com a cabeça do lucro para o próximo ano, muita gente nunca teria investido nestes negócios. É óbvio que o mercado sempre exagera, tanto para cima como para baixo. Eu brinco que o mercado é maníaco-depressivo, mas a análise do mercado não é tão simples como lucro e prejuízo.

Mas faz sentido para o Buffett investir no Nubank?

Muita gente diz que não. Mas tem dois pontos: primeiro que o investimento para a Berkshire Hathaway (gestora de Buffett) é muito pequeno, relativamente. O valor de US$ 500 milhões, para ela, é 0,08% de seu valor de mercado, 0,3% de seu caixa e 4% de seu lucro do primeiro trimestre do ano.

Para a Berkshire é valor de cafezinho (risos). Por outro lado, eles estão investindo em uma das grandes fintechs da América Latina, a gente pensa no Brasil, mas o Nubank está bem posicionado na região, com atuação na Colômbia e no México.

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Existe este mito de que ele não investe em tecnologia, mas isso é falso. Ele investe na Cocoa-Cola, mas também investe na Stone. Sua maior posição hoje é na Apple

Ele investe, desde 2008, em uma empresa de carro elétrico na China, a BYD. Tem 8% da empresa, cujas ações nos últimos doze meses subiram 280%. Ele atua sim na fronteira da tecnologia, e há lógica nesse investimento de uma das fintechs mais promissoras da América Latina.

Este aporte funciona como um selo para o Nubank, em um momento em que tantas empresas estão abandonando o Brasil?

No sentido emblemático, há sempre a visão de rigidez de análise dos negócios do Buffett. Você pode confiar, ele pode errar, mas ele faz uma boa due diligence (análise de um negócio antes de uma operação).

O Brasil tem uma capacidade gigantesca de empreender. Daqui de Miami, onde estamos, vemos as opções. O Brasil tem diversas boas empresas, mesmo em um ambiente inóspito para os negócios como é o brasileiro.

Sim, acredito que Warren Buffett dando um selo (de qualidade) para investir em uma empresa brasileira é óbvio que é bom, isso é relevante sim. Referencia algo que a gente já sabia, que realmente há opções.

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O Nubank tem sido muito hábil em inovar e se adaptar, será que eles não vão conseguir tornar sua operação lucrativa?

A velocidade e a capacidade de se adaptar de uma empresa de tecnologia está no DNA do Nubank, o que abre espaço para você acreditar que ele continuará ganhando mercado e roubando espaço de outros bancos que são extremamente lucrativos.