Economia

Warren Buffett deixa conselho da Fundação Bill e Melinda Gates em meio à turbulência do divórcio do casal

Megainvestidor, no entanto, não apontou separação como o motivo de sua saída
Bill Gates e Warren Buffett: amigos de longa data Foto: Daniel Acker / Photographer: Daniel Acker/Bloom
Bill Gates e Warren Buffett: amigos de longa data Foto: Daniel Acker / Photographer: Daniel Acker/Bloom

NOVA YORK - O bilionário Warren Buffett renunciou ao cargo de conselheiro da Fundação Bill e Melinda Gates num momento em que a instituição filantrópica enfrenta forte turbulência provocada pelo divórcio de seus fundadores.

“Minhas metas estão 100% sincronizadas com as da fundação”, disse Buffett, 90 anos, nesta quarta-feira, em um comunicado que também anunciou que havia atingido parte de seus objetivos ao doar todas as suas ações da Berkshire Hathaway para instituições de caridade.

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Buffett contribuiu com mais de US$ 27 bilhões de seu próprio dinheiro para a caridade nos últimos 15 anos. Ele é um dos três membros do conselho da fundação, ao lado de Bill Gates e Melinda Gates, que anunciaram no mês passado que estão se separando após 27 anos de casamento.

Buffett não mencionou o divórcio como motivo de sua renúncia.

O megainvestidor tem enfrentado críticas nas últimas semanas em meio a uma investigação da ProPublica sobre como certos bilionários americanos (como, além dele, Jeff Bezos e Elon Musk) pagam impostos muito baixos em relação a suas fortunas.

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Buffett disse que suas contribuições de US$ 41 bilhões para cinco fundações produziram apenas cerca de 40 centavos de economia em impostos por cada US$ 1 mil doados.

“Isso porque tenho relativamente pouca receita”, disse Buffett no comunicado. “Minha fortuna permanece quase inteiramente distribuída em empresas que pagam impostos que possuo por meio de minhas participações na Berkshire, e a Berkshire reinveste regularmente os lucros para aumentar ainda mais sua produção, empregos e ganhos. A renda que recebo de outros ativos me permite viver como eu desejo. ”

Ele disse que é "apropriado" que o Congresso reveja periodicamente a política tributária para contribuições de caridade, especialmente quando certos doadores são "criativos".

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Partidas de bridge

A renúncia de Buffett do conselho da Fundação Bill e Melinda Gates marca outra mudança na parceria e amizade de longa data do bilionário com Bill Gates.

Buffett e Gates costumam jogar bridge juntos e já viajaram para lugares como a China em grupo.

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Gates atuou anteriormente no conselho da Berkshire, antes de anunciar no ano passado que renunciaria ao cargo.

O CEO da Berkshire decidiu em 2006 doar a maior parte de sua fortuna para a fundação Gates em parte porque a dupla faz um "trabalho muito melhor" na administração dessas operações de caridade do que Buffett poderia ter feito, afirmou.

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Gates transformou a entidade em uma potência de doações de caridade, em parte devido à sua riqueza de US$ 144,7 bilhões, de acordo com o Índice Bloomberg Billionaires.

Melinda e Bill Gates no Fórum Econômico Mundial em 2015 Foto: FABRICE COFFRINI / AFP
Melinda e Bill Gates no Fórum Econômico Mundial em 2015 Foto: FABRICE COFFRINI / AFP

O  divórcio colocou Buffett em uma posição embaraçosa, disse Greg Witkowski, professor sênior de administração de organizações sem fins lucrativos na Universidade de Columbia.

“Com apenas três membros do conselho, isso realmente chama muita atenção para o papel de Warren Buffett no meio da história”, disse Witkowski logo após o divórcio. “Em uma configuração ideal, eles deveriam ter mais administradores.”

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Mark Suzman, o diretor executivo da fundação, disse aos funcionários no mês passado que está em negociações para fortalecer "a sustentabilidade e estabilidade de longo prazo da fundação".

Suzman “é um quadro excelente e tem todo o meu apoio”, disse Buffett no comunicado.

Suzman disse no mês passado que nenhuma decisão foi tomada medidas futuras, mas acrescentou que Bill Gates e Melinda Gates “reafirmaram seu compromisso com a fundação e continuam a trabalhar juntos em nome de nossa missão”.

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Ainda no jogo

Buffett tem reduzido seus compromissos nos últimos anos, incluindo a saída do conselho da Kraft Heinz Co. em 2018. O CEO ainda dirige seu vasto conglomerado, que está avaliado em mais de US$ 634 bilhões, mas recentemente apontou Greg Abel, um vice-presidente que supervisiona todas as operações não relacionadas a seguros da Berkshire,n como o principal candidato a sucedê-lo.

“Por favor, entenda que essas observações [a renúncia ao cargo na fundação de Gates] não são o canto do cisne”, disse o investidor bilionário no comunicado. “Ainda gosto de estar em campo com a bola. Mas estou claramente jogando em um jogo que, para mim, ultrapassou a prorrogação.”