Ela

Ana Flavia Cavalcanti completa um ano de performance dentro de carrinho de bebê

"Nunca gostei da relação que a gente tem com as empregadas domésticas no Brasil"
Blusa Maria Filó e calça Bo.Bô. Foto: Bispo
Blusa Maria Filó e calça Bo.Bô. Foto: Bispo

Há um ano, a atriz Ana Flavia Cavalcanti se enfiava num carrinho de bebê rosa em plena Rua Oscar Freire, meca do “pibão” de São Paulo, para a primeira apresentação de sua performance "A babá quer passear". O mote era expor os meandros do racismo estrutural que permeiam a relação entre patrões e empregadas domésticas.

— Nunca gostei da relação que a gente tem com as empregadas domésticas no Brasil. E isso não vem do nada. Sou filha de uma delas. Quando era pequena, fui diversas vezes com a minha mãe para o trabalho, onde vivi situações chatas e preconceituosas — conta ela. — Quando me mudei para o Rio e comecei a observar mulheres uniformizadas, em sua maioria negras, empurrando carrinhos com crianças brancas, passei a me perguntar: quem cuida dos filhos dessas mulheres? Quem cuida delas?

Nesta quarta-feira, Dia da Mulher Afro-latino-americana e Caribenha, ela volta à rua onde tudo começou para o aniversário de “um ano da babá”, com direito a bolo e crianças. Durante todo esse tempo, a atriz repetiu a performance em diferentes cidades e vivenciou experiências que a levaram a criar o solo “Serviçal”. A apresentação começa com a atriz dentro do mesmo carrinho, em cima do palco. Ela, então, pede que alguém da plateia a tire daquela situação. Uma vez liberta, convida as pessoas negras do público a dividirem a cena com ela e compartilharem suas experiências.

A performance "A babá quer passear", de Ana Flavia Cavalcanti Foto: Divulgação
A performance "A babá quer passear", de Ana Flavia Cavalcanti Foto: Divulgação

— Estava me sentindo intoxicada com o que ouvia nas ruas com o trabalho. Até pensei em parar. Mas aí cheguei à conclusão de que, na verdade, precisava ter outras vozes comigo, abrindo esse espaço para mostrar como é ser trabalhador negro no Brasil — explica

Circulando com estes dois trabalhos pelo Brasil, Ana Flavia não para de reverberar sua voz por diferentes meios. Ainda este ano, ela estreia como diretora, ao lançar seu curta "Rã", em festivais, e volta ao ar na TV aberta, com a segunda temporada da série "A garota da moto", exibida no SBT e na FOX. Além disso, ela tem uma estreia no teatro prevista para novembro, no Rio.

Ana Flavia cavalcanti: 'Fazer um trabalho falando da minha própria infância foi muito difícil'. Clique aqui para ler a versão exclusiva para assinantes do GLOBO.