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Explante de silicone: saiba tudo sobre a cirurgia de retirada das próteses

Esse tipo de procedimento tem crescido no Brasil e no mundo, refletindo a preocupação com ‘doença do silicone’
Explante de silicone Foto: Shutterstock
Explante de silicone Foto: Shutterstock

Passado o boom dos implantes de silicone (dados de 2018 da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica colocam o Brasil no segundo lugar no ranking mundial de cirurgias , sendo a colocação de prótese a mais procurada delas, com 280 mil intervenções), o movimento inverso começa a tomar força por aqui e lá fora. Encabeçam a lista das mulheres que fizeram explante das próteses as atrizes Ashley Tisdale e Scarlett Johansson, a modelo Chrissy Teigen e a empresária Victoria Beckham. A retirada do silicone tem se tornado comum entre quem busca novos padrões de beleza, evitar o aparecimento de doenças relacionadas ao implante ou interromper complicações causadas por ele.

O cirurgião plástico Victor Cutait, da Clínica Cutait, em São Paulo, endossa os três motivos para explicar a tendência: “O primeiro é o arrependimento por conta do tamanho. O segundo é o movimento cíclico do padrão de beleza — há 10 anos, as referências eram as ‘panicats’ e hoje não são mais. E o terceiro são as reações do corpo à prótese.

As complicações mais comuns são as contraturas capsulares, reações inflamatórias que exigem a retirada da prótese.”A chamada “doença do silicone” pode apresentar diversos sintomas que indicam uma possível necessidade de explante. São eles mialgia, fraqueza muscular, artrite, fadiga crônica, distúrbios do sono, manifestações neurológicas, alteração cognitiva ou até surgimento de doenças autoimunes. Há relatos de pacientes que, ao serem submetidas à retirada das próteses, tiveram melhora ou resolução de sinais imediatos. Ainda assim, é necessária a avaliação individual para o diagnóstico preciso e correto.

Cirurgião plástico dos hospitais Sírio Libanês, Albert Einstein e Human Clinic, em São Paulo, Leandro Faustino acredita que a “doença do silicone” está ligada à Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes, que tem sido identificada como uma reação à prótese mamária. “Apesar de não ser um consenso entre os médicos por conta dos diagnósticos recentes, os reumatologistas estão convencidos”, diz ele.

Por conta da falta de informação sobre os problemas que podem ser causados pelo implante de silicone, a professora Larissa de Almeida, de 36 anos, que realizou a cirurgia do explante em 2018, criou um perfil nas redes sociais para alertar outras mulheres sobre a sua experiência — e já soma quase 150 mil seguidores. “O silicone nunca foi algo que eu queria para mim, foi uma narrativa que se construiu na minha vida. Comecei a me olhar e achar que o silicone ia me deixar mais mulher.”

Logo após o implante, seis anos atrás, Larissa começou a sentir uma dor aguda no osso esterno, conforme respirava. Após três anos com a prótese, a professora teve a primeira de duas contraturas e a, partir de então, outros sintomas começaram a surgir, como problemas oculares, fadiga crônica, hipersensibilidade ao frio e perda de memória. “Passei anos sofrendo sem saber que tudo tinha a ver com o silicone”, observa. “Hoje, a intenção do perfil @explantedesilicone é oferecer informações sobre todos os riscos. Estamos organizando uma associação de explantadas para termos mais voz em congressos e simpósios. Queremos dar suporte e apoio psicológico para essas mulheres. Estamos na luta”, diz a professora.

A fisioterapeuta vascular Michelli Möller, 33 anos, precisou realizar três cirurgias plásticas nos seios. “Depois que amamentei, coloquei o silicone para acabar com a flacidez. No ano passado, comecei a sentir dores, convulsões e alguns apagões, mas ninguém associava com a prótese. Em novembro de 2019, fiz um exame de rotina e foi diagnosticada uma aderência de cicatrização da mama, que desenvolveria um encapsulamento. Só tive conhecimento da ‘doença do silicone’ depois”. Michelli, que tinha perdido parte da visão, logo depois da cirurgia de explante, voltou a enxergar bem. Foi nesse momento que entendeu o que tinha acontecido. “Me via no espelho e me sentia mutilada. Hoje, estou bem. Às vezes me olho e sinto vontade de colocar outra prótese, mas ainda não é o momento. Sei que estou saudável, mas em alguns momentos o fator estético pesa. Talvez eu me sinta bem se colocar, talvez não”, reflete.

Segundo o cirurgião plástico Luís Felipe Maatz, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, a evolução tecnológica em relação à produção das próteses de silicone diminui a possibilidade de complicações e da troca periódica. “Hoje, o silicone tem alta coesividade e sua superfície é mais resistente. Isso possibilita que seu formato permaneça estável e, em caso de ruptura, limita o extravasamento do gel. Não há mais a necessidade de troca das próteses a cada dez anos. Porém, a paciente deve retornar anualmente ao seu cirurgião plástico e ser encaminhada para exames de imagem conforme a necessidade”, alerta.