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Claudia Raia fala sobre tabus da idade: 'Precisamos mudar a mentalidade da velhofobia'

Aos 55 anos, atriz acaba de voltar aos palcos em São Paulo e prepara turnê pelo Brasil ao lado do marido, Jarbas
Atriz está em cartaz com "Conserto para dois, o musical" Foto: Divulgação/Renam Christofoletti / Renam Christofoletti
Atriz está em cartaz com "Conserto para dois, o musical" Foto: Divulgação/Renam Christofoletti / Renam Christofoletti

Claudia Raia retornou aos palcos com “Conserto para dois”, em cartaz em São Paulo. Animada que só, ela se prepara para cair na estrada com o musical ainda este ano. “Vamos fazer apresentações no interior paulista e em cidades do Nordeste. Essa era a nossa intenção em 2020, mas tivemos  que adiar por causa da pandemia.”

Quem assiste ao espetáculo, presencia uma deliciosa dobradinha entre a atriz e o marido, Jarbas Homem de Mello. “Gostamos de fazer tudo juntos, desde o trabalho até o descanso. O Jarbas, aliás, é quem me ensina a descansar. Não sabia muito bem fazer isso”, diverte-se. Na entrevista a seguir, a atriz, de 55 anos,  fala também sobre os tabus da idade e faz um apelo: “Precisamos mudar urgentemente essa mentalidade da velhofobia”.

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O GLOBO - Você voltou ao teatro esta semana, depois de uma temporada de outubro a dezembro. Como tem sido esse retorno depois de tanto tempo longe dos palcos por causa da pandemia?

CLAUDIA RAIA - Deu um frio na barriga muito grande porque não sabíamos como seria a recepção do público. E posso dizer que foi a melhor possível. As sessões ficaram lotadas até o fim da temporada, o que nos incentivou a voltar agora. As pessoas chegavam cedo ao teatro para se acomodarem com calma, sentíamos que estavam felizes em estar de volta. Não víamos a hora de poder voltar ao palco, fazer o que a gente gosta. "Conserto para dois, o musical" é um espetáculo muito especial, que levamos dois anos para montar. Quando tivemos que parar, lá no começo da pandemia, não imaginávamos que só voltaríamos a encená-lo tanto tempo depois. Mas o importante é que conseguimos e fizemos isso com toda segurança possível. É dessa forma que continuaremos.

E já prepara uma turnê nacional, né? O que pode nos adiantar?

Sim, a turnê está nos nossos planos desde sempre. O cenário, por exemplo, foi pensado para isso, para a gente levar em viagem e conseguir montar com facilidade. Posso adiantar que vamos fazer apresentações no interior de São Paulo e em algumas cidades do Nordeste. Essa era nossa intenção em 2020, mas tivemos que adiar os planos por causa da pandemia. Estamos muito animados em viajar mais uma vez com o espetáculo. Queremos levar cultura e arte pelo Brasil.

Atriz vive momento de intensa produtividade Foto: Renam Christofoletti
Atriz vive momento de intensa produtividade Foto: Renam Christofoletti

E vai ser a primeira turnê desde o começo da pandemia. O que está sentindo em relação a isso?

Estamos muito animados! Começamos o espetáculo em turnê, lá em 2019. Poder voltar a visitar o Brasil em segurança é um passo muito importante para nossa cultura mesmo. O setor cultural ainda está passando por um momento muito delicado por causa da pandemia. Então, fico muito feliz, como artista e produtora, de ver que aos poucos vamos retomando as programações, o ritmo. Nosso setor foi um dos primeiros a parar e é um dos últimos a voltar. Não tivemos políticas de incentivo culturais... Retomar o setor cultural não é apenas sobre dar ao público a chance de voltar ao teatro ou aos shows, é também uma retomada importante para os profissionais do setor, que tiveram pouco apoio durante a pandemia.

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Você lançou um clipe recentemente ao lado de várias drags. Qual a importância da cultura e do público LGBTQIAP+ para você?

Em "Conserto para dois, o musical", uma das personagens que faço é uma drag, a Lena de Paula. É ela quem canta "Bem melhor sem você" no espetáculo. Quando pensamos em fazer o clipe, escolhi essa música porque ela é animada, tem uma pegada disco que adoro e, principalmente, porque queria homenagear o público LGBTQIAP+, que sempre foi tão presente na minha carreira. Convidei, então, várias drags para estarem comigo no dia. Foi muito especial tê-las comigo lá, fazer essa celebração. A cultura LGBTQIAP+ é muito expressiva, disruptiva, e eu tive a sorte de ser influenciada por ela desde o começo da minha carreira. Esse contato foi fundamental para minha expressão artística tanto quanto atriz como quanto bailarina e produtora. Temos uma troca muito linda.

Recentemente, escreveu em uma postagem ao lado do Jarbas que o seu melhor amigo é o seu amor. Na sua opinião, qual o segredo de uma relação duradoura?

Acho que o segredo é o companheirismo, é a parceria, a vontade de compartilhar tudo, de fazer com que o outro participe da sua vida, da sua rotina. No nosso caso, partilhamos tudo mesmo, inclusive o trabalho. Temos muito prazer nessa convivência tão próxima. Gostamos de fazer tudo juntos, desde o trabalho até o descanso. O Jarbas, aliás, é quem me ensina a descansar, a aproveitar o ócio. Eu não sabia muito bem fazer isso (risos) .

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Como não cair na rotina?

Entendendo que tem tempo para tudo. A gente trabalha, mas tem um tempo para nós dois como casal, um tempo de qualidade. É importante ter em mente que precisamos sempre cultivar a relação. Continuar juntos é uma escolha diária que fazemos.

Aos 55 anos, Claudia tem uma visão positiva sobre o passar do tempo Foto: Renam Christofoletti
Aos 55 anos, Claudia tem uma visão positiva sobre o passar do tempo Foto: Renam Christofoletti

Vocês estão há quanto tempo juntos?

Há 10 anos.

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Você acabou de fazer 55 anos e é uma mulher que fala muito sobre mulheres com mais de 50, inclusive, sempre diz que está no seu auge. Em "Um Lugar Ao Sol", a personagem da Andréa Beltrão, também tem trazido um debate importante sobre esse tema. Como vê a importância de falar sobre isso em uma novela das nove?

Acho fundamental! Aliás, Andréa Beltrão está incrível nessa personagem. Infelizmente, essa ainda é a realidade de muitas de nós. Querem dizer que já não temos mais idade para trabalhar, separar, namorar... Ver esse assunto ser tratado de uma maneira tão didática em horário nobre me dá uma esperança de que vamos falar cada vez mais abertamente sobre isso, sobre como as mulheres "50+" estão no auge e podem ser quem elas quiserem e fazer o que quiserem. Torço para que a personagem dê uma guinada, se empodere e seja cada vez mais dona de si. Precisamos mudar urgentemente essa mentalidade da velhofobia. O passar do tempo, o amadurecimento é muito importante, faz bem, a gente aprende muito. Eu, por exemplo, me vejo muito melhor hoje do que há alguns anos.