O olhar para o mobiliário de Felipe Souza, o Lipe, vem de berço. Ainda criança, ele acompanhava o pai, um comerciante de antiguidades da Feira da Praça XV, em seu trabalho. Em 2007, passou a garimpar, a participar de leilões e a formar o acervo próprio. “A marca Lipe nasceu em 2020, com o slogan ‘O Brasil é raro’”, conta o antiquário, dono de um valioso conjunto de móveis que ocupam três galpões, somando 1 mil metros quadrados, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Lá, encontram-se originais de Joaquim Tenreiro, Jorge Zalszupin, Zanine Caldas, Jean Gillon. “Um quarto galpão, de mil metros quadrados, será inaugurado ainda este ano”, adianta.
As novidades não param por aí. Lipe agora é sócio do publicitário e colecionador Bernardo Magalhães, antigo cliente da marca e encantado por peças criadas nas décadas de 1950 e 1960 no Brasil. É do publicitário a ideia de lançar uma série de contos inspirada nos destaques do acervo da Lipe. “A galeria guarda memórias que merecem ser contadas”, comenta Bernardo. O conto de estreia, que entrou no ar, na última sexta-feira, é assinado pelo premiado escritor carioca Flávio Izhaki. “Os móveis realmente gritavam suas histórias. Escrevi sobre um par de poltronas vermelhas, que titulei ‘Dois sóis’. Olhando para elas, consegui imaginar uma sala, num tempo específico, onde poderiam ter estado. E daí o salto do objeto para a ficção foi natural”, conta Flávio.
Ao longo do ano, serão publicados outros sete textos, sempre no perfil do Instagram (@lipe_mobiliario) e no site (lipefurniture.com). Marcelo Moutinho, Rafael Gallo, Sergio Tavares, Paula Fábrio, Carlos Eduardo Pereira, Antônio Xerxenesky e Juliana Leite são os autores convidados. Juliana, por exemplo, escolheu a poltrona Mole, clássico de Sergio Rodrigues: “Imaginei os sentidos de uma pessoa entregue àquelas dobras, imersa, possuída pelo cenário tanto quanto o próprio sofá. Escrever a partir dos móveis é muito interessante, dá a chance de revelar o corpo das personagens junto das emoções”. Os contos embalam novos capítulos da história de Lipe: vêm aí cursos e exposições.