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Anitta reclama de cobranças sobre posicionamento político e diz estar mais preparada: 'Estudei e sei o que estou falando'

Em entrevista, cantora também diz ser difícil viver na própria pele: 'Não gosto de falsa modéstia'
Anitta em Portofino, na Itália Foto: Domenico Dolce
Anitta em Portofino, na Itália Foto: Domenico Dolce

Do outro lado da linha, uma vigorosa Anitta faz os primeiros cumprimentos. Pelo tom da voz, parece descansada, animada à beça. “A vida está maravilhosa; está tudo”, diz a cantora, de 27 anos, recém-chegada de uma intensa temporada de férias e trabalho na Europa. “A intenção da viagem era promover ‘Paloma’ (parceria com o rapper Fred De Palma) . A música está bombando por lá. Não imaginava que seria esse sucesso todo”, observa a estrela, que começou o tour pela Croácia, no fim de julho, onde fez quarentena obrigatória antes de continuar o rolê pelo Velho Mundo. “Depois dos compromissos profissionais, na Itália, a intenção era retornar ao Brasil, mas minha equipe sugeriu que eu ficasse um pouco mais já que não teria nada para fazer em casa; e raramente tiro férias. Acho que meu time queria fugir da minha impaciência em ficar parada. Foi realmente incrível.”

Além de shows e dias ao sol com Neymar em Ibiza — que lhe rendeu uma suspeita de Covid-19 depois de o jogador de futebol testar positivo (o dela deu negativo) —, a carioca protagonizou um ensaio exclusivo para ELA, clicado por Domenico Dolce e com styling de Stefano Gabbana, seu parceiro no comando criativo da Dolce & Gabbana. “Amamos a música de Anitta, é irresistível. Estamos muito felizes com nossa colaboração com uma artista tão especial”, comemora a dupla, que hospedou a brasileira em sua casa de veraneio, em Portofino, por três dias. “Fizemos as fotos com minha câmera analógica; o Stefano ficava me arrumando. Adoro a energia dos meninos. São humildes e boas pessoas”, retribui a popstar, queridinha também de outros grandes nomes da moda internacional, como Riccardo Tisci, da Burberry, Olivier Rousteing, da Balmain, e Jeremy Scott. “Só lendas”, constata.

Ligada nos 220 volts, Anitta inaugurou uma nova fase assim que colocou os pés no Brasil: assumiu sua porção gamer. “Por causa da pandemia, passei a jogar bastante e acabei compartilhando isso com meus seguidores no Instagram. Uma amiga me alertou para o potencial do videogame. Pesquisei o assunto e vi que seria uma ótima maneira de estender meu público”, explica. A ideia é mergulhar num “universo paralelo” e tornar-se conhecida entre pessoas que não consomem sua música. Com a identificação, a performance nos serviços de streaming pode dar um salto. “Foi mais uma estratégia como cantora do que qualquer outra coisa. Mesmo em distanciamento social, é uma oportunidade de continuar investindo numa boa divulgação em nível global.”

E Anitta já poderá experimentar o poder de alcance dos games nos próximos dias, quando pretende lançar finalmente o single “Me gusta”. O clipe foi gravado no Pelourinho, em Salvador, e mostrará um desfile de moda com roupas confeccionadas por designers nacionais e casting diverso. Na passarela da cantora, a beleza não é uma via de mão única. “É uma mistura de funk com pagodão baiano. Inclusive, pedi ajuda ao grupo Àttøøxxá para fazer a produção da obra, cantada em inglês e espanhol. O vídeo está lindíssimo. Acredito que será um hit. Após uma década, sei o que meus fãs esperam. No passado, tive músicas que poderiam ser sucesso no mundo inteiro, mas não havia suporte suficiente.”

O cenário agora é totalmente diferente. Parte do elenco da Warner Records, a expansão territorial segue a toda. “Por muitos anos, fui minha própria empresária, mas encontrei um time no qual confio. Consegui desapegar facilmente do controle total da minha carreira. Todas as decisões estão nas mãos dessa equipe. Era cansativo demais, sobrava poucos momentos para mim”, conta Anitta, apontada como a “Madonna do Brasil” pela revista americana “V”. “Em sua ascensão relativamente rápida, Anitta — como Madonna — desafiou tudo, desde convenções musicais a forças de censura”, escreveu a publicação. “Foi uma honra! Ser comparada a um ícone do gênero e da música mundial não é algo que ocorre todo dia”, derrete-se a moça.

Com colaboração com a rainha do pop no currículo, a carioca não sabe o que é estar por baixo desde o estouro de “Show das poderosas”, em 2013. “Brinco que sempre vem alguém falar que preciso aproveitar ‘agora’ que estou bombando. E escuto essa frase há anos! Quanto tempo deve levar o agora? Por isso não tirava férias assim há uma década. Ficava aproveitando uma ‘bombação’ que não passa. Graças a Deus.”

Na esteira do sucesso, vieram muitas polêmicas — mais um ponto em comum com Madonna. Em 2018, antes da eleição que colocou Jair Bolsonaro na presidência do país, Anitta foi criticada por não integrar o movimento #EleNão, adotado por inúmeras celebridades. “Acho que falta às pessoas se colocarem no lugar dos outros. De que adiantaria eu subir uma hashtag, sumir e nunca mais tocar no assunto? Também acho que não teria o poder de mudar o destino das coisas se eu tivesse publicado. A longo prazo, consigo fazer com que meu público se engaje e aprenda a buscar informação”, comenta. “Fico um pouco magoada quando dizem que não me posicionava. Tinha 25 anos e vim de uma origem completamente humilde (ela foi criada em Honório Gurgel, no subúrbio do Rio) , e gente como nós, no Brasil, tem praticamente zero instrução política. Não me sinto envergonhada, mas não iria dar voz a algo que não entendia. Agora, estudei e sei o que estou falando. Não entro numa história sem conhecimento, só para acompanhar os outros.”

Ao longo da quarentena, Anitta se tornou referência em política para seus seguidores, debatendo o assunto em lives com a advogada criminalista e amiga Gabriela Prioli. “Hoje, no Brasil, é extremamente importante um posicionamento. Não imaginava o quanto isso é relevante”, aponta a cantora, uma crítica da atuação do governo no ramo da cultura durante a pandemia. “Faz-se uma imagem muito errada de que entretenimento é futilidade. E não é! É uma maneira de o ser humano manter a saúde mental. Por causa da aglomeração, esse tipo de atividade vai demorar mais para voltar, mas quem trabalha no meio não pode ser esquecido. Perdi algumas oportunidades, mas estou num nível de carreira em que pude me planejar e não sofrer financeiramente. Quatro anos atrás, eu estaria bem desesperada e seria difícil manter meus funcionários.”

Além da música, a vida amorosa agitada da cantora desperta a curiosidade e costuma ser debatida em detalhes na imprensa de celebridades e nas redes sociais. “Quero ter um relacionamento, mas não é fácil. Ninguém nunca pergunta o porquê. Só falam que troco de namorado igual troco de roupa. Já imaginaram como é complicado ter alguém com a vida que eu tenho? Tem gente que vai se adaptar, tem gente que não. Há aqueles que mudam conforme essa realidade vai entrando no seu cotidiano. É muito louco. De uma hora para outra, a pessoa começa a receber mil mensagens no seu celular. Não falam mais o nome do cara; ele passa a ser o ‘namorado da Anitta’. No início, sofria bastante com isso. Eu questionava: ‘Ah, meu Deus, por que eu não consigo parar com ninguém?’. Não é porque sou rodada, como falam, pois homem também é e não ficam apontando. Não vou desistir de arrumar alguém. Continuarei tentando e está tudo certo.”

A bissexualidade da cantora também é alvo de comentários. “Não tinha intenção de criar sensacionalismo em cima desse fato. Quero que enxerguem como algo corriqueiro. A gente não acorda e pergunta para alguém se é hétero. Quando fiquei com uma menina pela primeira vez, aos 13 anos, contei para minha mãe, e ela agiu como se fosse um grande nada, e teve a mesma reação ao descobrir dos meninos. Na minha casa, não ligam se estou com homem ou mulher. Não faz diferença.”

Entre as polêmicas, duas ganharam proporções gigantescas na quarentena, envolvendo a cantora Ludmilla e o jornalista Leo Dias. A primeira chegou a montar uma espécie de dossiê com todos os passos da confusão, que teve como cerne a composição da música “Onda diferente”. A lavagem de roupa suja foi na internet, com Lud acusando a ex-amiga de “manipuladora”. Anitta, por sua vez, jogou indiretas para a colega de profissão, citando até a relação da funkeira com a dançarina Brunna Gonçalves. Já Dias quebrou o sigilo e mostrou que a cantora era uma de suas fontes quentes. Ela, inclusive, o teria alertado dos boatos de que Marina Ruy Barbosa seria o pivô da separação de José Loreto e Débora Nascimento. Numa série de vídeos, Anitta afirmou que era vítima de chantagem do jornalista e que fez isso para não ver sua carreira destruída. “Gosto de dar notoriedade a coisas que importam para mim, que levantam e carregam positividade. Não curto levar negatividade adiante. O que tenho a dizer é que recebemos o que damos. É isso.”

Depois de passear por todos esses campos, em 40 minutos de conversa, Anitta conclui que é “difícil” ser ela. “Aprendi a não ler o que escrevem sobre mim. Tenho consciência de quem eu sou, do que eu fiz e do tanto que contribuí no mercado fonográfico. Ajudei a mudar a visão da sociedade sobre o funk, por exemplo, e não acho que falar isso seja arrogância. Não gosto de falsa modéstia. Sou verdadeira e reconheço meus erros e acertos com toda humildade do mundo.” Quem pode com ela?