Ela Gente

'As minhas pessoas foram morrendo todas de forma trágica', diz Maitê Proença

Atriz escreve e encena monólogo on-line, que estreia dia 9, em que aborda drama familiar, que teve início com o assassinato da mãe pelo pai
Maitê Proença: catarse Foto: Ana Branco/Agência O Globo
Maitê Proença: catarse Foto: Ana Branco/Agência O Globo

No monólogo "O pior de mim", com estreia virtual marcada para o dia 9, no Teatro Petra Gold , Maitê Proença relata, de maneira visceral, pedaços de sua tragédia particular — em 1970, o pai, o procurador de Justiça Augusto Carlos Eduardo da Rocha Monteiro Gallo, matou por ciúmes, a facadas, a mãe, a professora Margot Proença Gallo, em Campinas (SP). A futura atriz tinha, à época, 12 anos . Em 1989, seu pai se suicidou; na sequência, seu irmão adotivo também tirou a própria vida. "As minhas pessoas foram morrendo todas e todas de forma trágica. O primeiro trauma repercutiu para todos os lados", analisa.

Confira a entrevista exclusiva em que Maitê fala sobre os episódios, travas emocionais, a busca por autoconhecimento, machismo, envelhecimento e a neta, Manuela.

Depois da morte da mãe , ela morou num pensionato luterano, abrigou-se na torre de uma igreja, estudou em Paris e colocou o pé na estrada — viajou pela Europa e pela Ásia, de carona, ao lado do primeiro namorado. Em 1979, estreou na TV. Com o espetáculo, ela pretende ressoar nas cicatrizes de quem nem sabe tê-las.

LEIA MAIS: 'Detesto ter de fazer sexo sozinha, mas a gente não pode receber visitas', diz Maitê Proença

“Espero que, ao falar dos meus tropeços e dos lugares em que coloquei muros desnecessários, o público se reporte aos mesmos locais de suas vidas. Tem gente que vive se defendendo e que morre sem olhar para dentro e para as próprias feridas.”

Apesar da dramaticidade do ocorrido quando era ainda uma menina, Maitê seguiu em frente sem vestir o papel de vítima. Ela também resguardou a história familiar durante 26 anos de vida pública. “A piedade não é algo para ser vendido nem negociado. Queria que vissem a atriz trabalhando, assim que precisava que fosse. E, ao mesmo tempo, lidava com essas questões internamente.”

Com sede pelo autoconhecimento, mas acreditando já ter avançado na elaboração dos sentimentos profundos, partiu, em 2017, para um retiro na Índia, comandado por um psiquiatra californiano e uma “ucraniana linda”. A passagem, descrita em detalhes no monólogo, fez com que ela se deparasse com uma inesperada raiva do tamanho do universo. “Fiquei numa sala toda acolchoada, preparada para doido. Passei cinco dias lá socando, tive incontinência urinária de tanta coisa que soltei. A violência do que aconteceu foi, ao mesmo tempo, restauradora”, narra. “Não tinha a menor ideia de que ainda havia tanta raiva dentro de mim. Ele, o psiquiatra californiano, me fez ir aonde estava tudo guardado desde sempre, e não tinha saído por meio do Daime, da análise, de nada.”