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Bailarina de Anitta e Rebecca relembra dificuldades: 'Sempre ouvi que não ia conseguir'

Makayla Sabino quer que sua história inspire outras mulheres transexuais
A bailarina Makayla Sabino Foto: Leo Martins / Agência O Globo
A bailarina Makayla Sabino Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Se você foi à última edição do Rock in Rio, ela estava lá, no Palco Mundo. Se acessou o Netflix nos últimos meses, também. Aos 21 anos, Makayla Sabino conquista espaço na dança e na cena pop por diferentes caminhos. O principal deles, até agora, é ao lado de Anitta, como parte de seu corpo de bailarinos em apresentações icônicas. Daí a sua aparição no festival carioca e no canal de streaming, que tem uma série com os bastidores da vida da cantora no catálogo.

“Quando subi no palco e vi aquela multidão, pensei: ‘Meu Deus, consegui! Estou aqui’”, recorda-se Makayla, sobre o show que considera a maior “virada de chave” de sua carreira. “Por ser mulher, preta, periférica e travesti, sempre ouvi que não ia conseguir chegar aonde queria.”

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Após posar para as fotos destas páginas nos jardins do MAM, a jovem narra a sua trajetória enquanto afoga um sanduíche num pote de cheddar, no McDonald’s da Cinelândia. Às 18h de uma abafada sexta-feira, não havia almoçado, em função da agenda corrida. “Hoje ainda vou para Jacarepaguá ensaiar”, diz ela, que também é bailarina de MC Rebecca.

Makayla posou nos jardins do MAM Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Makayla posou nos jardins do MAM Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Com as unhas pontiagudas à la Cardi B, conta que sua primeira inspiração foi Beyoncé. A estrela americana lhe trouxe, desde cedo, o desejo de ser uma performer. Makayla, porém, não conseguiu dar os primeiros passos tão cedo quanto gostaria, em parte, por causa de adversidades enfrentadas no próprio núcleo familiar. O pai saiu de casa quando ainda tinha 1 mês de vida, mas continuou uma figura, de certa forma, presente. “Lembro-me de uma briga muito feia porque ele descobriu que a minha mãe tinha me levado para dançar”, recorda-se. “Ela sempre me apoiou, mas acho que esse tipo de coisa impediu a minha evolução.”

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Nascida e criada no Complexo do Alemão, onde mora até hoje, a bailarina faz questão de dizer que teve uma infância feliz, mesmo marcada por dois episódios sobre os quais fala com discrição. Foi molestada, aos 5 anos, além de ter sido agredida por um familiar. “Mas acho importante que as pessoas saibam disso, porque muita gente passou pela mesma situação.”

As portas para a carreira profissional se abriram no fim da adolescência, por meio de um grupo de teatro. A jovem, então, seguiu um fio condutor que a levou até a dança africana, o balé clássico e o jazz, as modalidades urbanas e, por fim, o voguing (marcado por poses inspiradas em revistas de moda, com origem em Nova York, na década de 1960). “Foi quando entendi qual era o meu lugar e pelo que tinha que lutar.”

De lá para cá, Makayla dançou em Paris, de onde voltou com cinco troféus num evento de voguing, e na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio. “Se não fosse a pandemia, teria passado só dois meses no Brasil, no ano passado”, orgulha-se a moça, que recebe muitos convites para ministrar workshops e se apresentar.

Makayla ao lado de Anitta, no show do Rock in Rio Foto: Divulgação
Makayla ao lado de Anitta, no show do Rock in Rio Foto: Divulgação

Foi num desses eventos que chamou a atenção de Arielle Macedo, a coreógrafa da Anitta, que a convidou para a apresentação no Rock in Rio. “Os movimentos de Makayla são contagiantes. Ela exala paixão e faz a gente reforçar o nosso amor pela dança”, descreve Arielle. “Quis trazer isso para perto de mim.”

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Também foi pelo balé que a jovem se sentiu segura para iniciar a transição de gênero, aos 16 anos. Agora, tenta realizar o seu maior sonho: a cirurgia de redesignação. Como a fila para o procedimento no SUS pode demorar até dez anos, ela quer pegar um atalho com ajuda de uma vaquinha virtual. O objetivo é levantar R$ 50 mil para fazer o procedimento na rede particular. “Nossa, acho que vou surtar quando conseguir fazer essa cirurgia”, vislumbra. “Surtar no bom sentido, é claro.”