Exclusivo para Assinantes
Ela Gente

Conheça Igor Pires, o autor de ficção mais lido do Brasil durante a quarentena

Ele acredita que ‘o papel da literatura é salvar vidas’
Igor Pires Foto: Pedro Gomes
Igor Pires Foto: Pedro Gomes

A primeira amizade de Igor Pires foi com as palavras. Foram elas que ajudaram o adolescente tímido da periferia de Guarulhos, em São Paulo, a enfrentar o bullying e encontrar seu lugar no mundo. O início da escrita acompanhou a febre dos microblogs, no início da década passada. Na internet, os textos eram virais e já alcançavam milhares de pessoas. Hoje, autor de três best-sellers, o jovem poeta de 25 anos é um fenômeno literário com mais de 730 mil livros vendidos e seguidores fiéis nas redes sociais.

LEIA MAIS: Djamila Ribeiro comemora sucesso na academia e fora dela e não descarta carreira política: 'Pode ser que, daqui a alguns anos, eu me interesse'

Recentemente, ele conquistou mais uma proeza: emplacar a trilogia “Textos cruéis demais” no top 5 de mais vendidos de ficção no Brasil. De acordo com portal PublishNews o escritor é o brasileiro mais lido na categoria, desde o início da quarentena, com mais de 130 mil exemplares.

O sucesso começou em 2017, com “Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente”, que até hoje mantém Pires entre os mais procurados. A inspiração para as histórias que escreve “vem da vida” — a própria e aquela que observa no dia a dia, ao conversar com os seguidores. Os relacionamentos são o combustível da criatividade e pautam a narrativa que recheia os livros. O autor relaciona o desempenho, principalmente na quarentena, ao modo como se conecta às pessoas. “Meus livros conversam com a realidade de todos e essa empatia aproxima as pessoas. Represento o sonho de muitos que não têm visibilidade no mercado editorial. Meu desejo é que esse espaço seja uma conquista coletiva, não apenas minha”, revela.

Como a maioria dos jovens de sua geração, o artista usa intensamente as redes sociais para se divulgar. Ali, além das páginas oficiais dos livros, compartilha a própria rotina e selfies que já se tornaram alvo de críticas. Ele reprova a atitude e diz que sua postura mostra o que é ser escritor na atualidade.

“Sou um autor jovem, negro, gay e periférico. Faço parte de um mercado que não me enxerga como deveria, construído por homens brancos, cisgêneros, heterossexuais do eixo Rio-São Paulo”, diz. “Há um padrão de escritor que as pessoas esperam que seja atingido e isso causa ruído. Nem todos entendem como eu sou tão bem resolvido com meu corpo a ponto de exercer isso da forma que faz sentido para mim. O profissionalismo não depende da minha aparência física”, conclui.

Saiba mais : Demanda por classificação indicativa de jogos eletrônicos no Brasil teve alta de 35% em 2020

Com previsão de lançamento ainda no primeiro semestre de 2021, o próximo livro do escritor já está pronto. Tem poesias escritas em tempo recorde durante a quarentena: um mês e vinte e oito dias, de 1º de abril a 28 de maio. Nas edições anteriores, o processo levou de oito meses a um ano.

O término do namoro, diz Pires, foi o pontapé para iniciar os trabalhos, mas a trama ganhou novos temas ao longo do caminho. Os leitores vão encontrar um texto mais político, familiar e íntimo — ao abordar de forma mais explícita a homossexualidade. Nesse sentido, a nova obra, ainda sem título oficial, ganha uma personalidade diferente da série publicada. “Não é mais só sobre relacionamento, amor-próprio e autocuidado. Também há experiências da minha relação familiar, acho que pode ajudar outras pessoas”, conta.

O jovem reforça o coro contra a polêmica proposta de reforma tributária, que elimina a isenção de impostos para livros e estabelece alíquota de 12% para o setor. Para ele, a medida é “o ápice do plano de Estado para um Brasil intelectualmente defeituoso, que prejudica os mais pobres”. O projeto do Governo Federal depende da aprovação do Congresso para entrar em vigor.